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De tanto de gente que vi comentando sobre o quanto é maravilhoso mesmo não gostando do gênero e afins, e comentários maravilhosos da Maggie Stiefvater, autora da Saga dos Corvos, minhas expectativas para esse livro estava na estratosfera; e então caíram de volta na terra de cabeça para baixo. Se tem uma coisa que é simplesmente bizarra demais para tentar entender é como um livro consegue ir de maravilhoso a uma morte horrível em tão pouco tempo.

A premissa em si é incrível. A personagem principal acorda sem memórias e encontra uma série de cartas escritas por ela mesma quando descobriu que perderia a memória, logo o autor cria uma relação de mesmo corpo x nova pessoa muito interessante, como um paradoxo; uma conversa entre duas pessoas que são apenas uma. E até certo ponto essas cartas serviam como o diferencial da narrativa, até que, nesse mesmo formato, o autor insere um amontoado infinito de memorandos e arquivos que explicam todo o funcionamento do mundo que criou, sem mostrar, só falando e falando sem parar, tornando a leitura maçante e impossível de seguir em frente.
A mudança de tom entre as cartas/arquivos e a narrativa em si é muito brusca. A história começa numa vibe misteriosa, focando na interação entre as duas pessoas que habitam/habitaram a mesma mente, mas logo em seguida mescla-se numa pegada mais leve, com piadinhas e diálogos muito banais para as cenas em que são inseridos (talvez seja um problema de tradução; encontrei diversas frases com formações meio desconexas) que, a meu ver, não foi bem-vinda. Com o nível de complexidade intendida e as diversas características de um thriller policial, o que poderia ser uma jornada incrível se perde numa inconstância que foi sofrida de continuar lendo.
Myfanwy (de pronúncia Miffani e diz-se ter origem galesa, mas não apaga o fato de que é estranhíssimo), a protagonista, é interessante — provavelmente mais pela influencia do que eu autor propõe com a história do que por si mesma, mas tudo bem — e, nas partes narradas, consegue carregar bem a história, entretanto, em contrapartida do ponto inicial que ela se encontrava sozinha de muitas maneiras, quando surgem novos personagens, eles se integram à história de forma muito descarada, sem tempo suficiente para que criassem uma relação verdadeira. Em uma cena ela conhece Shantay (YOU STAY! desculpa o espírito da Rupaul foi mais forte que eu) então acontecem mil coisas ao mesmo tempo e elas saem disso como melhores amigas, como se tivessem passado várias páginas de desenvolvimento que foram cortadas na edição final.
De modo geral, ‘A Torre’ é um livro de muitos opostos. Ao mesmo tempo em que eu queria investir mais na leitura, forçar uma imersão verdadeira, eu não conseguia engolir as coisas calado e chegar ao final foi só mais um tanto faz a adicionar na lista que já era bem grande. Minha surpresa se da pelo fato de que eu estava realmente gostando muito do início da história, mas em algum momento o interesse se perdeu e meus olhos só passavam pelas páginas, sem absorver nada, e, sinceramente, não faço a menor questão de continuar lendo essa série.

Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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