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West Yorkshire, 1977. Um assassino em série está aterrorizando o pequeno condado inglês, e a polícia encontra dificuldade em resolver o caso – mesmo tendo interrogado o assassino (sem o saber) nada menos que nove vezes. Enquanto a história se desenvolve ao seu redor, Una, então com 12 anos, vivencia uma série de atos violentos pelos quais se culpa. Por meio de um entrelace de imagem e texto, Descontruindo Una examina o significado de se crescer em meio a uma cultura na qual a violência masculina não é punida ou questionada. Com uma retrospectiva de sua vida, Una explora sua experiência e se pergunta se algo realmente mudou, desafiando a cultura que exige que as vítimas de violência paguem por ela.

Una narra sua própria história de abuso enquanto uma onda de homicídio ocorre na Inglaterra entre 1970 e 1985, quando um assassino intitulado O Estripador de Yorkshire matou 13 mulheres. O primeiro abuso sofrido aconteceu aos 10 anos. E abuso e estupro ocorreram na vida de Una durante muitos, muitos anos, sendo que ela não conseguia falar sobre o caso, a família não entendia sua paranóia e depressão e basicamente ninguém queria lidar com o fato de que algo estava errado.

Em paralelo à luta interna de Una, mulheres estavam sendo mutiladas e mortas por um assassino em série que começou sua “carreira” matando prostitutas. Até então a polícia não tinha dado tanta atenção mas aí uma mulher “decente” foi vítima. A grande questão é: Por que as prostitutas não mereciam atenção?

Una cresceu em meio a abusos de homens diferentes enquanto que a busca pelo assassino de Yorkshire continuava, Una questiona que o não dar atenção e valor às vítimas fez com que demorasse muito mais para que o caso fosse solucionado. Essa demora levou embora a vida de muitas mulheres. Mulheres que poderiam estar vivas hoje se a preocupação dos envolvidos não fosse a “decência” delas. O desacreditar a vítima é algo que desde sempre vem atrasando e permitindo que criminosos fiquem livres.

Esta não foi uma leitura rápida. Apesar de ser uma Hq relativamente curta, ela traz assunto pesado. Fiquei alguns dias andando com ela na bolsa, muitas vezes sem coragem de prosseguir a leitura. Em muitos momentos consegui reconhecer situações que eu mesma já passei e não foi fácil,mas foi revigorante ler sobre o crescimento dos movimentos feministas

O trabalho gráfico desta HQ é sensacional, me peguei diversas vezes olhando as ilustrações, admirando o traço delicado. No fim do livro, além das notas sobre os fatos trazidos no livro também existem números de auxílio a vítimas, inclusive números no Brasil.

Desconstruindo Una acabou sendo um tapa de realidade e ao mesmo tempo um abraço reconfortante. É Bom Saber que não estamos sós nesta luta pelos nossos direitos e liberdade.A luta está apenas no começo.

Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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