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“O espaço… a fronteira final. Estas são as viagens da nave estelar Enterprise, em sua missão de cinco anos para a exploração de novos mundos, para pesquisar novas vidas, novas civilizações, audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve!”

Vou começar esta resenha dizendo que sou fã incondicional de “Star Trek”. Não vi todas as séries, nem todos os filmes, mas sou familiar com a série original, e amo de paixão. Amo toda a genialidade da mitologia que “Trek” criou, principalmente pelo fato de muitas vezes se ater a detalhes que são geralmente ignorados na ficção científica. Sim, desde 1966 a série é incrivelmente fiel à ciência, e todos os seus conceitos tem uma base científica que, ao menos teoricamente, faria tudo ser possível, mesmo que num futuro muitíssimo distante.

Com isso, digo que até hoje me emociono com o que J. J. Abrams, criador genial de “Lost” e “Fringe” (<3), fez com “Star Trek”. O primeiro filme, em 2009, me deixou às beiras das lágrimas com toda a genialidade das referências à série original, e como conseguiu se elevar a um nível intensamente épico – sem, é claro, desrespeitar o que foi posto na série original. O “Trek” de Abrams, além de um ótimo filme de ficção científica e um dos melhores filmes de 2009 (não sou apenas eu que estou dizendo, a crítica profissional também considera isso), foi também uma homenagem fantástica e emocionante para os fãs.

Antes de prosseguir com “Além da Escuridão”, vamos recapitular alguns dos eventos do filme de 2009. O reboot da franquia nada mais é do que uma nova linha do tempo dos acontecimentos da série. Explicando isso: a linha do tempo original, que engloba as seis séries de TV da franquia (“A Série Original”, de 1966 a 1969; “A Série Animada”, de 1973 a 1974; “Next Generation”, de 1987 a 1994; “Deep Space Nine”, de 1993 a 1999; “Voyager”, de 1995 a 2001; e “Enterprise”, de 2001 a 2005) e os dez filmes, ainda existe. Só que, no fim dessa linha do tempo, Spock e uma raça guerreira chamada de Romulanos voltaram no tempo por acidente até o dia do nascimento de James T. Kirk, alterando exponencialmente o rumo da história. Por exemplo, Kirk se tornou um jovem rebelde, ao contrário do capitão disciplinado da série original (mas isso aconteceu por que Kirk acabou crescendo sem o pai nessa nova linha do tempo); já Spock se tornou mais suscetível às emoções (isso aconteceu por que, nessa nova linha do tempo, ele viu seu planeta ser destruído e sua mãe morrer). Assim, várias mudanças foram sendo feitas, mas com uma explicação científica, que foi essa volta no tempo. Então, tecnicamente, o que estamos vendo com o “Star Trek” de 2009 e “Além da Escuridão” em 2013 não é o inicio de uma nova franquia, e sim a continuação de tudo que aconteceu anteriormente, numa nova embalagem para aqueles que não acompanham a série desde 1966.

Isso abriu o leque para várias homenagens que seriam captadas apenas pelos fãs. Como, por exemplo, no primeiro filme, temos uma cena em que Kirk está na cama com uma alienígena, que tem o corpo de uma linda mulher humana, porém, sua pele é verde. Isso é uma referencia aos episódios 11 e 12 da primeira temporada da série original, em que essa raça alienígena é apresentada como “as criaturas mais sedutoras da galáxia”. Outra referencia é a presença do Capitão Pike como capitão da Enterprise antes de Kirk assumir. Pike, na série original, também foi ex-capitão, que, anos após se aposentar, foi ferido gravemente devido a radiação. Temos também referências ao Scotty ser o criador de uma nova versão do aparelho de teletransporte, que é amplamente utilizado na série original, e uma menção à origem do apelido do médico Leonard McCoy (“Minha mulher levou tudo no divórcio… Me deixou até Magro!”). São tantas referências que é difícil lista-las todas aqui. Mas algumas coisas nunca mudam: Kirk ainda é mulherengo e o doutor McCoy ainda é vigorosamente contra a postura de Spock.

Dito isso, vamos seguir em frente com “Além da Escuridão”. É um filme ótimo, para fãs e para aqueles que vão casualmente ao cinema? Sim. É tão bom quanto o primeiro? Esta já é uma pergunta difícil de ser respondida, pois eu não sei dizer. Primeiramente, “Além da Escuridão” não é aquela novidade histérica e frenética que foi o primeiro filme. Em determinados momentos, parece que estamos vendo um blockbuster comum, cheio de ação e etc, e não um filme com a excelência e a novidade que J. J. Abrams geralmente traz às telas.

Mas, sim, independente de tudo, é um ótimo filme. Pode não ser tão arrepiante quanto o primeiro, mas não posso negar que determinadas cenas me deixaram tremendo, e que certas sequências foram como vinte litros de Red Bull para meu coração de fanboy. Se o primeiro filme tinha uma atmosfera de homenagem e de reunião, esse aqui se assemelha mais a um episódio comum da série original – só que com muito mais ação e efeitos. Eu só gostaria que algumas coisas tivessem sido melhor trabalhadas; que algumas cenas de ação fossem melhor boladas; que a história tivesse uma direção um tanto diferente. Não reprovo nada do que aconteceu no meio do filme, não. Apenas acho que, se o filme tivesse uns vinte minutos a mais, poderia ter tido um final melhor, como os trailers e os pôsteres prometeram. “A Terra será destruída”, diziam eles, trazendo Benedict Cumberbatch mothafocka andando entre os destroços de uma cidade da Federação. Mas isso nunca aconteceu. O vilão perfeito de Cumberbatch (vou me referir a ele como “John Harrison”, que é o nome falso que ele adota pela primeira metade do filme antes de se revelar como um dos maiores vilões da série original) poderia ter sido melhor aproveitado, mas não foi. Isso talvez tenha acontecido por que, originalmente, “Além da Escuridão” seria dividido em dois filmes. Suspeito que agora tenham deixado todo o potencial dele para um filme futuro, não sei.

A questão é que nos fizeram acreditar que esse filme seria o que “O Cavaleiro das Trevas” foi para a trilogia Batman, e cumpriram essa promessa, mas poderiam ter ido mais além. “Além da Escuridão” é um ótimo filme, mas não vai audaciosamente onde nenhum filme de “Star Trek” jamais esteve. Talvez, o fato de eu ter pego quinhentos spoilers antes de ir ao cinema tenha atrapalhado minha experiência, bem como o fato de que 99% das homenagens à série original que estão presentes neste filme são referências justamente aos episódios e filmes que eu deixei passar. Eu quase não reconheci os Tribbles, que fazem uma participação especial aqui, e esqueci completamente de quem Carol Marcus era.

Então, entendam bem como eu estou: apesar de achar que “Além da Escuridão” poderia ter sido melhor aproveitado, reconheço que é, até agora, um dos melhores filmes do ano por sua história e roteiros perfeitos (sim, perfeitos; os roteiristas derrubaram a peteca em alguns pontos em 2009, mas isso não se repete aqui), seu vilão intenso, suas sequências emocionais e suas cenas de ação de tirar o folego. Por isso não sei responder se é melhor do que o filme de 2009. Vou ter que ver o filme no cinema mais uma vez, desta vez focando em vários outros detalhes.

Se é melhor que o primeiro eu não sei, mas “Além da Escuridão” é um ótimo filme. Ótimo mesmo. Ainda que eu estivesse com essas dúvidas, eu saí do cinema com um sorriso na cara, e tive que para em frente ao pôster pra tirar uma foto fazendo o sinal Vulcano de “Vida longa e próspera”. Me diverti muito, mas muito mesmo. Resta agora saber se o terceiro filme será tão bom assim, já que Abrams sairá da cadeira de diretor para focar no Episódio VII de “Star Wars”.

Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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