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Comecei a ler esse livro há um bom tempo, no Wattpad — plataforma de compartilhamento de histórias gratuitas, para quem não conhece — e, por aleatoriedades, acabei não acompanhando corretamente e dado momento ele foi retirado a pedido da editora para virar livro físico. A Thati é uma pessoa que eu admiro muito. Passei a me relacionar com ela mais recentemente, mas não é de hoje que considero seu trabalho e seu empenho para com a comunidade LGBT de enorme importância, logo eu estava bem ansioso para finalmente ler seu livro.

Sua escrita é super levinha, descompromissada. Carrega o livro de forma fluida, fazendo as páginas virar muito rápido; mas torna-se um ponto meio ambíguo. Ao mesmo tempo em que ela é muito engraçada, tipo real oficial, em certos momentos, para dar ênfase nessa vibe engraçada rodeando o assunto de gordinhas de uma forma geral (não foi intencional hahaha), ocorrem muitas repetições de termos. Como todas as vezes que Nina cita seu próprio peso, que durante grande parte do livro é o mesmo, tornando a leitura repetitiva em pontos específicos. E o tempo todo me vinha uma sensação de que Poder Extra G é um livro feliz demais??? Talvez seja meu lado negro que adora uma desgraça falando, mas sempre que surgia um empecilho qualquer tudo culminava para chegar num ponto X, em que X significa: felizes para sempre lalaialaialaia.

O que mais me tocou, e o que eu mais queria saber sobre o livro inteiro, foi o Noah e toda a representatividade que gira em torno dele. Thati teve um carinho e um apreço muito grande na hora de dar voz a um personagem trans que, mesmo as pessoas mais desinformadas sobre o assunto são capazes de se afeiçoarem pela causa. E, com certeza, abre muitas portas para que a transexualidade seja mais abordada na literatura nacional; pois representatividade importa sim! Ainda mais desse jeitinho tão simples e verdadeiro. Admito que queria um pouco mais, mas sei que tem spin-off focado nele, então eu mesmo me calo.

O que mais me incomodou no livro, mas que não compromete a leitura de um modo geral, é que, ao contrário do que eu esperava, ele não foi reescrito. Como já havia dito, esse livro foi lançado inicialmente no Wattpad, onde é comum os capítulos serem postados por semana com pequenos plots no final para instigar o leitor a voltar na semana seguinte; logo seu texto assemelha-se à narrativa de uma fanfic, em um gráfico de altos e baixos entre os capítulos e não numa linha crescente reta como num livro já inteiramente planejado. Por exemplo: um capítulo termina com uma bomba, que logo na primeira linha do capítulo seguinte ela é abordada novamente ou rapidamente solucionada. É uma técnica que instiga no Wattpad, mas não funciona muito bem no livro finalizado.

Foi uma leitura que, para mim, pontos bons estavam diretamente proporcionais a pontos conflitantes, mas, em suma, foi muito divertida e em momento algum tenta passar uma mensagem importante sem enraizá-la numa história interessante. Nina é uma personagem maravilhosa que cativa o leitor, provoca-o a questionar o que merecemos e impor o que queremos. Finalizar esse livro é como dar um up na autoestima, olhar no espelho e mesmo que só por um instante sentir-se mais à vontade com a imagem refletida, e pensar naquelas relações venenosas que você não sabe o motivo de ainda as manter por perto e naquelas que você já deus graças por terem ido embora. Então é muito válido afirmar que ele cumpre seu dever.

Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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