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O que fazer quando a vida está ligada a um segredo?
Quando todas as decisões conduzem a um caminho desconhecido e misterioso?

Anne é uma historiadora obcecada por um tema em particular: a história de um homem que visita seus sonhos desde a adolescência. Ethan Brown, um soldado condecorado da guerra da Secessão.
Mas que estranha relação existe entre ela e alguém que viveu em 1864?
É isso que Anne terá a oportunidade de descobrir ao ser convidada por Henry Starre, um rico colecionador de obras de arte, para passar uma temporada em Maryland e conhecer de perto o local de suas pesquisas.

Sabe quando suas leituras parecem um sistema conspiratório do universo que fica girando uma roleta maldita que só te faz dar de cara com livros duvidosos? Estou vivendo esta vibe, mais precisamente na fase a ponto de se descabelar por um livro bom, e isso tem feito o ato de abrir um livro e persistir nele uma morte horrível; forçando-me a fugir para outros prazeres, ainda mais que teve o Oscar recentemente e as definições de filmes obrigatórios foram atualizadas. Nesses momentos, como todo leitor maroto está muito bem inteirado, fugimos para os livros fininhos, bons para desatravancar a vida literária de qualquer um, mas, como o bom universo gosta de mostrar que não está de brincadeira, ganho mais uma decepção para a lista.

Primeiramente preciso dizer que essa é uma história de amor que atravessa vidas. A sinopse, bem simples e contida, não diz isso, mas uma das orelhas do livro contém um blurb de uma blogueira que diz o seguinte: “Uma trama de amor que se perpetua por gerações e que nem a morte é capaz de deter”. Muito claro, certo? Se foi intencional, não sei dizer, mas que entrega muito para um livro tão curto, isso sim. Não que tenha sido surpreendente descobrir durante a leitura propriamente dita, pois praticamente todo o desenrolar da história é escancarado logo nas primeiras páginas, deixando espaço nulo para surpresas, mas se a intenção da sinopse dada era partilhar o mínimo de informação possível da história para melhor proveito do leitor, seu trabalho foi completamente destruído por tal informação que considero completamente errada estando logo ali.

Recheado de interações fracas entre os personagens e diálogos robóticos que parecem pré-fabricados, somados a um pano de fundo exageradamente fácil de modelar: a protagonista, Anne, uma historiadora recebe uma ligação de um colecionador de obras do período histórico de seu interesse e de início se faz de difícil, mas depois de uma briguinha sem sentido com uma amiga, voa ao encontro do senhor como se não tivesse nem relutado anteriormente; Caminho da Águas mais parece o primeiro rascunho de um livro que ainda está por vir, em que as ideias ainda não estão bem amadurecidas. O que mais incomoda é o instalove gritante entre Anne e James, seu par romântico. Ok, é um amor de outra vida, mas vamos querer desenvolver ele um pouco mais lentamente em vez de “ai, ele é um escroto comigo, MAS EU O AMO COMO ISSO PODE TER ACONTECIDO?”.

Com uma narrativa mal escrita em terceira pessoa, mas focada em Anne, vira e mexe a autora alterna o foco para outros personagens de um parágrafo para o outro, inserindo pensamentos extremamente desconexos que só tornam a leitura ainda mais confusa a ponto de caçar mais erros — sejam gráficos ou da própria escrita e até mesmo de edição, por terem deixado tais problemas passarem — tornar-se mais interessante do que ler o livro. Sem contar que não contribui em nada para cultivar algum interesse de continuar lendo os livro seguintes dessa série.

Por conta das parcerias da Aliança de Blogueiros RJ esse é o segundo livro da Ler Editorial que leio (falta só mais um) e só tenho visto problemas. É comum encontrar um errinho ou outro em alguns livros, alguma coisinha teima em passar direto no meio de tantas revisões e tantos processos diversos que o manuscrito passa até chegar ao objeto final; mas a quantidade massiva de problemas que qualquer um que pegar esse livro, que tem menos de duzentas páginas, vai encontrar é absurda. Principalmente considerando que a Ler é uma editora pequena, logo espera-se que o cuidado seja redobrado para mostrar exemplo aos grandões, mas só acrescenta mais um toquezinho amargo onde já existe uma história pouco convincente.

Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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