Indicado nas categorias de
Melhor filme
Melhor roteiro adaptado
Melhor ator coadjuvante (Barkhad Abdi)
Melhor mixagem de som
Melhor edição de som
Melhor montagem
É certo que o Oscar é uma das premiações de cinema de maior destaque desde sua primeira cerimônia, em 1929. De lá pra cá, os métodos de avaliação mudaram, abriu-se espaço para filmes estrangeiros e/ou independentes, mas, em seu âmago, a Academia continua a mesma e dificilmente agradará a todos; é praticamente impossível achar alguém que veja todos os filmes indicados nas categorias principais e que tenha gostado de todos. Sempre vai haver pelo menos um filme que iremos considerar superestimado, pouco merecedor da aclamação da crítica e de suas indicações.
No meu caso, este filme é Capitão Phillips. O longa se propõe a narrar os acontecimentos reais do sequestro do navio Maersk Alabama, em 2009, em que o epônimo Capitão Phillips foi capturado como refém de piratas somalianos, juntamente com sua tripulação. Uma história bastante simples, que veio com a proposta de conduzir um suspense de roer as unhas, mas que acaba sendo somente arrastado e desinteressante devido a um roteiro dolorosamente convencional e uma direção no mínimo esquisita e exagerada.
O maior erro de Capitão Phillips é se prender o típico do suspense. O roteiro não faz mais do que o necessário, sem a preocupação de criar cenas marcantes. Em vez disso, se dedica numa tentativa de criar tensão que não funciona. O filme tem basicamente três momentos: o primeiro se dá antes dos piratas invadirem o navio; o segundo, durante a invasão; e o terceiro é quando Phillips já é um refém. O roteiro inteiro se desenrola em cima desses três momentos, muitas vezes se arrastando em cenas repetitivas para preencher a duração de duas horas que, após certo ponto, parecem intermináveis, principalmente pela necessidade do filme em deixar cada detalhe explicadinho ao extremo. Em suma, é um roteiro fraco, imemorável e terrivelmente chato – ou seja, absolutamente tudo que um suspense não deveria ser.
Porém, em quase 120 anos de cinema, já tivemos filmes com roteiros fracos que acabam sendo salvos por uma direção espetacular. Infelizmente, Capitão Phillips não é um desses filmes. A direção de Paul Greengrass é extremamente atrapalhada e atabalhoada. Greengrass, um veterano em filmes do gênero, parece um novato brincando com sua câmera, tremendo-a ao ponto de causar dores de cabeça e ainda dando vários zoom in e out desnecessários, que acabam deixando a direção exagerada e o filme, visualmente feio.
Como nem tudo é ruim, Capitão Phillips se apoia fortemente nas performances de suas estrelas, principalmente a de Tom Hanks, que se destaca no papel do protagonista ao atuar com simplicidade. A cena final – uma das únicas que conseguem realmente envolver e deixar o espectador à flor da pele – é tão poderosa devido justamente a sua interpretação de um homem em estado de choque. O novato Barkhad Abdi também está convincente e natural em cena, mas não chega a ser exatamente um destaque.
Capitão Phillips, indicado a 6 Oscar – incluindo melhor filme, melhor roteiro e melhor direção – é mais um suspense pipoca e entediante que se deixa levar pelos maneirismos do diretor e, no processo, sacrifica a possibilidade de apelar para um público mais abrangente. Cheio de erros bobos e de momentos de tensão duvidável, Phillips também peca pelo típico nacionalismo norte-americano, tão exacerbado que chega a ser chocante – por exemplo, o espectador é induzido o tempo todo a ter pena dos tripulantes americanos, mas, quando chega a hora dos piratas somalianos sofrerem, uma cena de violência brutal é feita de maneira fria e calculista, quase como se o diretor Greengrass quisesse que o público comemorasse e glorificasse esse tipo de repressão. Considerando a recepção bastante positiva do público e da crítica, Capitão Phillips pode até funcionar para alguns, mas, para mim, acabou sendo um suspense profundamente esquecível e sem graça.
Nota: 4/10
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