Nessa nova entrevista do especial, falamos com a maravilhosa da Letícia Black que nos contou muita coisa numa entrevista divertidíssima.
No Meu Mundo – “Em primeiro lugar quando sai a continuação de Contos de uma Fada?”
Letícia Black – “É muito difícil, neste momento, eu sentar e escrever Contos de Uma Fada. Eu quero, quero bastante continuar a história porque eu acredito nela, mas eu escrevi o primeiro livro em 2011, então são seis anos e a minha escrita mudou muito e é um gênero que eu acabei me afastando. Houve situações que me bloquearam um pouco sobre a história, eu teria que voltar ao primeiro livro, reler tudo, revisar ele, mudar algumas coisas para adaptar para a Letícia de hoje e continuar. Seu eu tenho vontade? Muita. Se eu tenho tempo? Não. Ele está na minha lista de prioridades para escrever, ele é o quarto, estou na metade do primeiro. Então eu quero escrever, ele está ali, eu só precisava de tempo para poder chegar até ele e fazer o que eu quero fazer com ele. Vamos ver, vamos lá.”
No Meu Mundo – “Como foi ter uma obra sua adaptada em forma de web série?”
Letícia Black – “Então, foi bem legal adaptar para websérie, eu tive um relacionamento muito legal com a diretora, que era minha leitora, e ela me convidou pra ajudar em um roteiro que ela estava trabalhando e ela morava no Rio na época e a gente se encontrava sempre, conversava muito, era ótimo e nossa relação passou de autora-leitora para melhores amigas. Aí ela se mudou para SP e sugeriu a ideia de fazermos uma sobre Garota de Domingo e eu topei, SP é a cara dessa obra e funcionou muito bem. Ela deixou eu participar, mas não deixou eu pegar no roteiro, não deixou meu afeto pelo livro atrapalhar. Minha participação não foi grande, não escolhi os atores, mas estava na gravação, acompanhado, dormi na casa dela mesmo e amei o resultado, foi tudo feito com muito carinho, foi uma experiência incrível.”
No Meu Mundo – “Como foi criar um universo onde as fadas tem um relacionamento lésbico em seu mundo e de onde surgiu isso?
Letícia Black – “Foi natural criar um mundo com um relacionamento lésbico, na verdade. Eu na verdade queria fazer uma crítica, que funcionou. Queria fazer uma crítica sobre como seria, as pessoas ficam estranhas, a própria Michele chega, estranha e ainda fala: “Nossa, mas isso é tão esquisito”. Mas será que o nosso mundo não é esquisito? A gente olhar estranho para pessoas que se amam, porque é diferente. Será que é diferente mesmo? Não é diferente, né. Então pra mim foi muito natural esse assunto. Pra mim, dentro da minha casa, sempre foi muito natural. Então quando eu olhei e vi “isso aqui só tem mulher, cara. Como é que elas vão fazer? Elas tem que se pegar de vez em quando! Tem que resolver! Então pra mim foi natural, só tem fada, não tem fado. Foi muito natural.”
No Meu Mundo – “Você escreve Hot inclusive em um de seus livros escrito em parceira, Amor e Sexo, vocês colocaram uma cena em que a protagonista faz sexo a três com uma mulher e um homem. Alguém reclamou dessa cena? E como foi participar disso?”
Letícia Black – “Eu não me recordo de alguém reclamando, mas depois vou olhar os comentários. Mas, sinceramente? Não estou nem aí se alguém reclamou, porque foi muito legal escrever, mesmo essa não tendo sido escrita por mim, escrevi outras, teve cena de putaria real, com vários homens, uma experiência muito legal. E a mulher não poder sair de decote porque é taxada de puta e escrever sobre uma coisa assim com uma personagem que é dona do próprio corpo foi muito bom, que alívio que foi. Então se alguém reclamou, pra mim não importa. Pra mim foi um divisor de águas. E as vezes eu me apego a alguns livros e estava muito tempo presa a um livro só. Amor e Sexo foi isso. Estou relendo agora e é maravilhoso. Tivemos uma parceria incrível, tenho até dificuldade de enxergar quem escreveu cada cena, escrevemos de maneira muito parecida, tínhamos muita liberdade. Eu falava “vamo?” e ela falava “vamo!”. Foi maravilhoso, sinto muita saudade.”
No Meu Mundo – “Alguém já tentou te “ajudar” dizendo para não escrever sobre LGBTQ ou ter tramas LGBTQ no seu livros porque isso ia impedir ele de fazer sucesso?”
Letícia Black – “Então, acho que ninguém nunca tentou me ajudar falando isso e acho que, se tentassem, não ia dar muito certo. Eu tenho uma restrição muito grande quanto a ser mandada, sou quase um gato na hora que quero, do jeito que quero, quando eu quero. Então, mandar na minha escrita pode ser uma coisa muito perigosa. Mas eu acho que uma pessoa que vai deixar de ler um livro com uma temática LGBT não serve para ler um livro meu e, se vai fazer sucesso ou não, eu quero contar minhas histórias, não vou me privar pelo fato de não atingir o público X ou Y, não é isso que quero para mim, para os meus livros, para os meus leitores. Quero a sinceridade, o meu coração e normalmente meus personagens principais são LGBT, as minhas moças principais, como eu. Esse é o meu mundo, tenho dificuldade de olhar para meus amigos e apontar quem é hétero, a maioria não é. Então meu mundo abrange essa galera e quero que as pessoas vejam meu mundo e não vai fazer diferença nenhuma se alguém falar para eu não escrever sobre isso, eu vou continuar, sou um gato.”
No Meu Mundo – “Você acha que o meio literário é preconceituoso?”
Letícia Black – “A literatura ela abre mentes e quando ela faz ela deslancha. Eu tive uma recepção muito legal, Amor e Sexo teve uma recepção muito legal, quase 3 milhões de leituras, e de gente que olha e pensa: “Caramba, isso é legal! Ela está feliz com isso”. Eu tive uma recepção muito boa também com Toque de Recolher, mostrando algumas realidades vividas por mim na favela e recebi feedback de gente que nunca nem pisou em uma favela, falando: “Caramba, isso é muito legal, obrigado por ter aberto minha mente”. E eu acho que a literatura serve justamente para isso, abrir mentes. Quando você insere um personagem, seja ele ou ela, e o leitor percebe que é uma pessoa normal, com sentimentos, que sofre, que sorri, que brinca e faz as mesmas coisas que você. A normalidade é importante, fazer isso ser normal é importante. O ser humano tem um defeito de estranhar o diferente, então quanto mais normal parecer, mais fácil fica de aceitar a ideia.”
No Meu Mundo – Como você acha que a literatura pode ajudar na causa LGBTQ?”
Letícia Black – ” Eu acho que é muito preconceituoso e não é só com a temática LGBT, é com tudo. O hot sofre preconceito porque fala sobre a liberdade da mulher, Amor e Sexo sofreu muito preconceito, eu olho para alguns comentários que recebi e eu fico: “Puts, cara, como você está com essa mentalidade? Estamos no século 21, sabe?”. E a Becca foi chamada de puta, piranha e etc várias vezes. As meninas apelidaram ela de priribecca, quase um elogio, isso é o máximo, adoro esse apelido. Mas tem aqueles comentários que são ofensivos, do tipo: “Caraca, ela só sabe dar pra todo mundo” e ela está dando porque ela quer, qual o problema? Eu tenho um livro que, para mim, ele é maravilhoso, mas tenho aquela coisa de mãe, e a maioria dos personagens dele são negros e sofreu preconceito, o livro teve menos alcance. As pessoas olharam: “Hmmm, negro. Hmmm, favelado. Não quero.” e isso é horrível, sabe? O mundo é sujo e, sim, eu acho que existe sim preconceito entre os leitores, entre os autores também, que usam o “vou deixar o leitor imaginar quem ele quiser”, eles tiram a responsabilidade dos seus ombros, deixam de abraçar diversas lutas, que é o papel da cultura. E eles fazem isso porque é muito confortável deixar pra lá, eu virei uma pessoa melhor quando assumi essa posição de abraçar algumas causas, não consigo abraçar todas, mas faço tudo que posso e me sinto muito bem. O fato de não ter gente querendo dar a cara a tapa é muito preocupante, brigar pela gente mesmo, por todos que virão depois de nós. Estou fazendo a minha parte, passinhos de formiguinha, eu acho que a questão da representatividade não é só pra galera que é hétero ou não tem contato com pessoas LGBT ou qualquer outra coisa para qual é preciso ter a mente aberta. Tem uma galera que sofre pra caralho que não se reconhece em lugar nenhum e as vezes você olha e isso ajuda, sabe? Você olhar para aquele personagem que tem aquela liberdade, que está passando por uma transformação, querendo mostrar quem é de verdade e isso ajuda a pessoa a passar, dá forças. É aquela coisa de estender a mão. A cultura tem esse papel muito importante e a literatura tem esse papel de formar pessoas. A gente tem medo de falar isso, mas o autor forma opiniões, pode não ser um grande formador de opiniões, não alcançar tanta gente assim, mas o autor ele é um formador de opiniões sim. Então, você deve ter cuidado, mas há coisas que precisam ser faladas e essa é uma dessas causas. Tem muita gente aí precisando de um abraço, passando por coisas muito difíceis que talvez um dia abra um livro meu e pense: “Caramba, que bom que eu li, que bom que tem essa pessoa que parece comigo e que conseguiu e eu vou conseguir também”. Isso é incrível, é o papel da literatura.”
No Meu Mundo – “Você acha que é difícil ser um autor no Brasil?”
Letícia Black – “Se tem uma coisa que é difícil é ser autor neste país. É muito difícil, a gente sofre muito. A gente não é valorizado pelos nossos leitores, as vezes, que preferem ler internacionais, sendo que existe muita gente boa por aqui e não estou nem falando de mim, sabe? Eu acho que sou bem mediana, mas tem gente muito boa e a galera, quando fala de literatura nacional, só fala de Machado de Assis, sabe? E a gente tem uma literatura nacional contemporânea muito forte. Gente, Raphael Montes é um monstro, tem muita gente legal, muito livro bom. Eu esse ano só li livros escritos na língua portuguesa e eu to lendo livros maravilhosos, acho isso incrível. Eu coloquei essa meta de só ler livros nacionais, mas acabei caindo em uma portuguesa que escreveu um livro que se passa no Brasil. Eu li um livro muito ruim, alguns medianos, mas maioria é sensacional. Quem não lê literatura nacional não sabe o que está perdendo e isso é muito triste, porque tem tanta gente boa e a gente não consegue fazer com que essas pessoas sejam alcançadas.”
No Meu Mundo – “Ser autora deve no mínimo proporcionar momentos engraçados, qual foi a coisa mais engraçada que algum fã falou ou fez?”
Letícia Black – “Eu tenho um grupo no WhatsApp com as minhas meninas, hoje elas são mais calmas, mas logo no começo era muito agitado e, como eu escrevo bastante livros hot, de vez em quando acontece de algumas histórias chegarem para mim e a gente ficar meio: “Ops, vamos rir né”. Eu também tenho muitas histórias engraçadas sobre isso porque eu sou muito estabanada, enfim, deixa pra lá. Eu lembro especificamente de uma leitora que torceu o braço na hora H e falou: “Pera aí, vamos terminar antes de ir para o hospital” e eu achei isso o máximo. Teve uma que quebrou a cabeça, tem uma história que é sensacional, vou tentar censurar um pouco, mas ela estava testando uma posição nova e começou a tocar na cabeça dela a música do Aladim, “Um Mundo Ideal”, e a gente deixou o nome do grupo com o nome da música por alguns dias e foi sensacional. São muitos momentos engraçados.”
No Meu Mundo – “Você tem intenção de escrever uma história mais voltada especificamente para o público LGBT?”
Letícia Black – “Eu acho que não, não dessa mesma forma. É o que eu falei, a questão da normalidade, se eu vou escrever um romance homo em algum momento da minha vida, provavelmente vou, mas não exatamente pensar e decidir escrever sobre aquilo, não funciona assim. Meu próximo livro, a personagem é bissexual, como eu e a maioria das minhas personagens femininas e ela está em um relacionamento homo e ela é muito feliz, mas o livro não fala sobre isso. Na verdade, é sobre feminismo e é uma saga, mas não é exatamente voltado para o público LGBT, mesmo que ela esteja lá, fazendo parte disso. A gente não sabe o dia de amanhã, talvez eu escreva, mas vai ser algo natural, um dia vou olhar para uma historia, me apaixonar, mas não voltada para um público específico, eu não tenho público-alvo”
Esse foi o fim de mais uma entrevista, quero agradecer a Letícia Black pela oportunidade.
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Melhor pergunta para abrir a entrevista!!! *batendo palmas*
A primeira pergunta tinha que ter uhauhauh