Finalizando este especial, não podíamos deixar de fora algumas das distopias mais clássicas que já figuraram as telonas – e as mais influentes, também. Vindo desde o cinema mudo até os blockbusters mais convencionais, as distopias mudarão a maneira de se fazer cinema – e é por isso que tantas atingem o aclamo da crítica e o status de cult.
- Blade Runner
“No início do século XXI, uma grande corporação desenvolve um robô que é mais forte e ágil que o ser humano e se equiparando em inteligência. São conhecidos como replicantes e utilizados como escravos na colonização e exploração de outros planetas. Mas, quando um grupo dos robôs mais evoluídos provoca um motim, em uma colônia fora da Terra, este incidente faz os replicantes serem considerados ilegais na Terra, sob pena de morte. A partir de então, policiais de um esquadrão de elite, conhecidos como Blade Runner, têm ordem de atirar para matar em replicantes encontrados na Terra, mas tal ato não é chamado de execução e sim de remoção. Até que, em novembro de 2019, em Los Angeles, quando cinco replicantes chegam à Terra, um ex-Blade Runner (Harrison Ford) é encarregado de caçá-los.”
Ridley Scott é um dos diretores de ficção científica mais fantásticos que já existiu. Ele não só deu início à série “Alien”, que é uma das maiores sagas já feitas para o cinema, como também fez história com “Blade Runner”, um dos filmes cult mais venerados da década de 80.
A sinopse, hoje, pode parecer batida, mas na época foi um grande bang o cinema. O filme trouxe uma nova visão de distopia: altamente tecnológica, com ruas superpovoadas e sujas, cheia de pobreza. Essa é a visão que permanece até hoje do que uma boa distopia deve ser. Mas o filme vai muito além disso.
Ao ser contratado para caçar os quatro androides rebeldes que iniciam uma onda de crimes e assassinatos, o personagem de Harrison Ford, Rick Deckard, tem que confrontar várias questões que amedrontam a nós, nos dias de hoje. O que é ser humano? O que é viver com medo? O que é ser uma peça de um sistema? Tudo isso, claro, vivenciado com a técnica maravilhosa de Ridley Scott, que sabe criar suspense como nenhum outro. Scott cria também cenas memoráveis de emoção e tragédia. Pode não ser um filme para qualquer um – afinal, muita gente diria que “Blade Runner” é um filme “lento”, o que eu sinceramente não entendo, por que, para mim, obras primas tem que levar o tempo necessário para se desenvolver; e, quando as pessoas falam em um filme “rápido”, geralmente estão pensando em um filme cheio de ação, mas não é só de ação que se faz um filme bom.
- Laranja Mecânica
“Em uma desolada Inglaterra do futuro, a violência das gangues juvenis impera, provocando um clima de terror. Alex (Malcolm McDowell) lidera uma das gangues e, após praticar vários crimes, é preso e submetido à reeducação pelo Estado, com base em uma técnica de reflexos condicionados. Quando ele volta à sua vida em liberdade, é perseguido por aqueles que foram suas vítimas, Mr. Alexander (Patrick Magee) e sua esposa.”
Não posso elogiar “Laranja Mecânica” da mesma forma que o fiz com todas as obras acima, afinal, eu não li o livro nem vi o filme. Porém, um clássico da magnitude de “Laranja” não pode ficar de fora desta lista.
Sei muito pouco em relação ao livro – porém, o filme é venerado por gerações. Seu realizador, Stanley Kubrick, é responsável por vários filmes que deixaram uma marca na história do cinema, seja para melhor ou para pior. É ele o diretor do maravilhoso clássico de ficção científica “2001 – Uma Odisséia No Espaço” e da horrorosa adaptação de “O Iluminado” (lembrando que esta é uma opinião minha; “O Iluminado” ainda é o clássico dos filmes de terror, não importa o quanto eu odeie esse filme).
Kubrick é, sim, um diretor indulgente, podendo realizar filmes maravilhosos ou horríveis. Mas é inegável que ele deixa uma marca por onde passa, e “Laranja Mecânica” é uma delas, sendo até hoje considerado um dos filmes mais violentos feitos na história do cinema. Inclusive, o filme foi eleito como “o mais controverso de todos os tempos” pelo blog Getro, acima de filmes como “Saló – Os 120 Dias de Sodoma”, “O Último Tango em Paris”, “A Última Tentação de Cristo” e “Holocausto Canibal”, filmes que até hoje enojam e/ou revoltam os espectadores.
Segundo críticas, o principal objetivo de “Laranja Mecânica”, ao menos como filme, é iniciar uma discussão acerca da hipocrisia social e do aparente moralismo que carregamos todos os dias. Violência gera violência? A repressão brutal é um exercício de controle? O filme, assim como “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, é conhecido por seu uso experimental de música clássica. Nas cenas mais tensas, surge uma sinfonia de Beethoven para deixar tudo mais terrível e assustador. A reputação desse filme o precede, e, mesmo carregando polêmicas consigo, é impossível de não se interessar por um filme que há mais de 40 anos assombra gerações.
- Metropolis
“Metrópolis, ano 2026. Os poderosos ficam na superfície, onde há o Jardim dos Prazeres, destinado aos filhos dos mestres. Os operários, em regime de escravidão, trabalham bem abaixo da superfície, na Cidade dos Trabalhadores. Esta poderosa cidade é governada por Joh Fredersen (Alfred Abel), um insensível capitalista cujo único filho, Freder (Gustav Fröhlich), leva uma vida idílica, desfrutando dos maravilhosos jardins. Mas um dia Freder conhece Maria (Brigitte Helm), a líder espiritual dos operários, que cuida dos filhos dos escravos. Na iminência de uma revolta, Joh ordena que um robô tenha a aparência de Maria e diz para Rotwang escondê-la na sua casa, para que o robô se infiltre entre os operários para semear a discórdia entre eles e destruir a confiança que sentem por Maria. Mas Joh não podia imaginar uma coisa: Freder está apaixonado por Maria.”
Para fechar esta lista com chave de ouro, eu não poderia deixar de fora “Metropolis”, não apenas por ser uma ótima distopia, como também um marco na história do cinema. É incrível como um filme mudo de 1927 consegue ser tão atual e tão divertido mesmo nos dias de hoje – e tão importante para o que o cinema viria a se tornar, principalmente a ficção científica. Se não fosse por “Metropolis”, provavelmente não teríamos nem metade dos filmes, livros e obras que temos hoje, inclusive “Jogos Vorazes”, “Blade Runner”…
Como a mais antiga distopia desta lista, “Metropolis” não podia deixar de ser a mais influente. Obra-prima do expressionismo alemão e primeiro longa-metragem de ficção científica feito na história (antes disso, o gênero era exclusivo de curtas e coisas do tipo), o filme trouxe tantas ideias novas à maneira de se fazer cinema que é impossível de listá-las todas aqui. Claro, é um filme mudo, mas há incontáveis sequências, situações e ideias que estão muito à frente de seu tempo. A começar com o orçamento: “Metropolis” foi o filme mais caro de sua época, o que deu liberdade para momentos épicos e empolgantes, e efeitos tão fantásticos que chegam a ser melhores do que alguns de hoje em dia.
Segundo, o filme é um salto IMENSO para as ideias da época. Se “Blade Runner” trouxe a primeira imagem do que uma distopia deveria ser, “Metropolis” trouxe a primeira imagem do que qualquer tipo de ficção científica deveria ser: altamente tecnológica, com cidades gigantes, altamente industrializado, bem parecido com o que são nossas cidades de hoje, como Nova York, São Paulo… Essa é uma das coisas mais interessantes no filme: como ele previu, em 1927, várias coisas que aconteceriam e continuam a acontecer hoje, em 2013, mais de oitenta anos depois.
Mas nem tudo que “Metropolis” previu é bom. O grande foco do filme é a segregação social: os ricos e abastados vivem na superfície do planeta, nas grandes cidades, enquanto os trabalhadores mais pobres tem que viver debaixo da terra, trabalhando quase o dia todo, “como eles sempre deveriam fazer”. Essa é uma crítica afiada ao capitalismo selvagem e à sociedade da época, já que os EUA viviam o “American Dream”, em anos cheios de riqueza e prosperidade, e a Europa se reconstruía após a Primeira Guerra, concentrando rendas, desviando verbas e enchendo-se de corrupção, deixando os ricos mais ricos e os pobres mais pobres. Isso acontecia em particular na Alemanha – país onde foi realizado o filme –, que fora a grande perdedora da guerra. Mas a segregação que acontecia no período pós-guerra continua até hoje. Não é difícil de perceber: aqui no Brasil, os mais ricos vivem na zona sul do Rio de Janeiro tomando água de coco, enquanto os mais pobres tem que pegar um trem ou um ônibus cheio todo dia, e ainda serem mal tratados e excluídos da sociedade; alguns vivem em favelas, onde serão sempre marginalizados pela polícia e pelos políticos. Nos EUA, existem bairros exclusivos de brancos ricos e bairros exclusivos de negros pobres… e assim vai.
Mas não é só de política que “Metropolis” vive. Tem uma historinha bastante divertida, típica dos filmes mudos. É clichezinho, bobinho, exagerado, como qualquer filme mudo – inclusive, esta é uma das coisas que mais me incomodou no filme, já que volta e meia parece que os personagens são apenas baderneiros sem rumo –, mas o filme ganha no simbolismo: trazendo imagens cristãs fortíssimas, principalmente em relação aos sete pecados capitais (que representam a corrupção dos ricos), à morte (que representa o colapso da sociedade e dos direitos humanos caso a situação continue do jeito que está) e à batalha entre o bem e o mal. Isso tudo misturado com ideias revolucionárias de ficção científica. Inclusive, o Homem-Máquina, que é o símbolo mais famoso do filme e está em praticamente todos os pôsteres, foi inspiração principal para George Lucas criar o androide C3PO em sua saga “Star Wars”. O filme é tão importante que chegou a ser remasterizado e reorquestrado por artistas famosos como Freddie Mercury, Adam Ant, Bonnie Tyler etc., e também serviu de inspiração para o mangá “Metropolis”, lançado em 1949 e adaptado para o cinema em 2001. O mangá não tem nada a ver com o filme a não ser o nome, e sua adaptação em 2001 é considerada um dos melhores animês já feitos.
Não vou dizer que é a jornada mais fácil do mundo. Filmes mudos sempre são um desafio, principalmente para nós que já estamos acostumados a mais de setenta anos de cinema falado. Além disso, o filme tem mais de duas horas e meia, o que torna tudo um pouco mais cansativo. Não vou dizer que é o melhor filme do mundo, por que há diversas partes em que a história peca na excessiva ingenuidade e em buracos bobos no roteiro. Mas é um filme bom para caramba, e merece o status de clássico.
E aí, gostaram? Acharam que faltou alguma boa distopia que você gostaria de ver na lista? Comentem à vontade, e diga para nós o que vocês acharam.
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