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The Walking Dead: a série de zumbis em que os vivos é que são o perigo

Talvez, você e algumas pessoas pensem que The Walking Dead é só mais uma história de zumbis que, como qualquer outra, simplesmente mostra um bando de gente viva correndo de gente morta. Mas, surpreenda-se: não é só isso.

Após a contaminação quase generalizada da população, os sobreviventes têm de começar tudo, literalmente, do zero – inclusive sua organização social.

Inicialmente, a série mostra como o grupo do policial Rick evolui de um grupo nômade a uma sociedade mais complexa, que representava o que poderia ser os Estados Nacionais.

Tudo começa a se delinear a partir da ameaça externa: os mortos – que representam o lado mais “selvagem” do perigo. Sendo assim, eles se aglomeram em grupos, já que, juntos, se tornam mais resistentes. No entanto, conforme o nível da ameaça aumenta, eles são obrigados a se abrigarem em lugares mais sólidos, mais blindados, vindo a descobrirem que, não só os mortos, mas também os vivos constituíam uma forte ameaça. Uma vez que a doença devastou as sociedades e , junto com elas, a pandemia havia, também, varrido as leis consigo, tal situação deu lugar a homens que, agora, estavam livres para praticar todo o tipo de abuso que quisessem.

Até hoje, algumas pessoas se revoltam quando se coloca a questão do conflito e do egoísmo como algo intrínseco à natureza humana, conforme Thomas Hobbes havia definido. Contudo, o ponto-chave não é generalizar ou acusar alguém de ser egoísta, corrupto ou violento nato, mas sim mostrar que o padrão da raça humana é, de fato, não ter padrão. E The Walking Dead desempenha essa tarefa muito bem.

Conforme a história vai evoluindo, os vivos acabam se tornando uma ameaça incomparavelmente maior que os mortos. Tanto é que eles temem e desconfiam de todo e qualquer desconhecido que se aproxima deles, vindo, até mesmo, a aplicar perguntas e a fazer testes para que pessoas fossem admitidas no grupo – como se fosse um sistema de imigração (a própria Michonne passou por um interrogatório até ser aceita).

Várias pequenas comunidades começam a ser descobertas quando Rick e seu grupo fazem suas andanças em busca de suprimentos etc. E acaba sendo interessante perceber que todas elas possuíam um líder e hierarquia – um padrão em comum com os sistemas e sociedades de que se tem registro na História. Coincidência? Claro que não. O autor é bem detalhista em reproduzir as organizações sociais, de maneira orgânica, explorando a questão da natureza humana.

Finalmente, a questão da guerra entra em cena e é então que a série mostra o início do conflito de interesses entre diferentes “Estados” (a comunidade de Rick contra a comunidade do Governador). Até aí, tudo bem. Mas a coisa fica feia mesmo quando eles terminam sendo colonizados (isso mesmo: COLONIZADOS) pela grande hegemonia do grupo de Negan – que comanda uma sociedade que poderia ser interpretada como um Estado imperialista, colonizador e opressor. E, para completar e corroborar essa configuração colonial, os dominadores obrigam inúmeras comunidades a lhes repassar tudo o que eles produziam. E, apesar de Rick não ter estudado Relações Internacionais, ele raciocinou muito bem e percebeu que a única solução, naquele caso, seria fazer um Bandwagon,          que é quando se faz uma aliança entre os pequenos Estados para fazer valer, através da cooperação, seus interesses perante o grande. No caso, eles declararam guerra.

Conclui-se, portanto, que The Walking Dead é mais que uma historinha pós-apocalíptica; trata-se de uma excelente distopia que tenta transmitir a ideia de que os homens são o maior perigo dos homens, que os indivíduos são aleatoriamente perigosos e que formam sociedades egoístas (inicialmente, com a intenção de se protegerem – surgimento das fronteiras – mas que, depois, se tornam extremamente excludentes). E, ao vê-los percorrer todos os sistemas político-econômicos, é super interessante atinar para o fato de que todos os sistemas eram violentos e injustos. Definitivamente, no que tange a raça humana, o padrão é não ter padrão.


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Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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