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Saudações novamente queridos fãs do terror e do suspense! O filme de hoje é a continuação estrelada pelos sobreviventes do filme que analisei na matéria anterior.  Feito em 1998 na tentativa de seguir o merecido  sucesso de “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado”, o precursor “Eu AINDA sei o que vocês fizeram no verão passado” (“I STILL Know What You Did Last Summer”) foi dirigido por Danny Cannon, com roteiro de Trey Callaway. Vejamos quais detalhes relevantes podemos extrair deste aqui, embora desde já vou dizer que senti demais a falta de Jim Gillespie e Kevin Williamson, respectivamente diretor e roteirista do anterior. Então analisarei não somente alguns dos pontos altos, mas também os pontos baixos e incoerentes do filme.

Bom, não gosto muito de analisar sequências muito detalhadamente, uma vez que na esmagadora maioria das vezes elas perdem muito da essência e da profundidade dos filmes originais… Contudo há exceções (talvez raras) quando não estamos falando de sequências cinematográficas previamente planejadas, e algumas ainda valem como diversão ou simplesmente para se ter uma ideia de como ficou a vida dos personagens principais após o “final” da história. Se esta que analiso vale ser assistida ou não prefiro deixar o julgamento de vocês, mas certamente o original é melhor…

A aspas no vocábulo “final”, linhas antes, é porque histórias macabras parecem nunca ter um final definitivo, e sim sempre algo em aberto…Uma vez que sempre vale a regra: “se não houve corpo o assassino não morreu” – e cá entre nós alguns filmes do gênero seguem esta lógica até depois do corpo aparecer, introduzindo elementos sobrenaturais ou quando estes já existem. Conheço uma música (que infelizmente não consta na trilha sonora deste filme) que dizia que “o mal que os homens fazem vive para sempre”… Acho que era mais ou menos sobre algo assim  que ela falava.

Bom, em “Eu ainda sei o que vocês fizeram no verão passado” (certamente um dos slashers com maior título já feito), a primeira cena suspeita desta vez não possui nenhuma trilha sonora especial para nos transportar à atmosfera soturna alguma, mas o próprio silêncio ambiente da cena e o foco no diálogo que sucede nos instiga um sentimento de curiosidade a princípio ao ver Julie (Jennifer Love Hewitt) , a nossa querida sobrevivente principal, em uma igreja confessando seus pecados sobre o acidente que mudou sua vida antes tão pacata. Gostei de como esta cena inicial deixa claro o sentimento de culpa intenso que ela ainda carrega acerca de todos acontecimentos passados e o ato da confissão cristã me soou uma ótima alegoria desta culpa, um daqueles clichês que sempre dão certo aos quais costumo elogiar, embora o filme esteja repleto de clichês mal usados mais adiante.

A cena que se segue chamou bastante minha atenção e não causou o efeito de “susto” desejado porque me pareceu bem familiar, pois quando a moça desperta gritando em plena sala de aula e descobrimos que era tudo um sonho me pareceu uma referência muito clara à algo que também aconteceu de modo idêntico em um filme de 1984 intitulado “A Hora do Pesadelo”/Nightmare on Elm Street (do mestre Wes Craven, de quem ainda pretendo falar em matérias futuras e que vocês devem  conhecer), na verdade a cena teve uma semelhança fotográfica que não me passou desapercebida. Gostei de verdade  da cena, mas ou foi referência gritante ou de fato cópia.

Logo o clima de suspense começa a ser quebrado após o foco se seguir no relacionamento dos sobreviventes: Julie James  e Ray Bronson, e aqui começam as incoerências. Pois a meu ver a maioria delas parecem perseguir o personagem de Freddie Prinze Jr, uma vez que notei um certo esforço do roteiro para preservá-lo na trama e ainda tentar fazer dele um “herói” de um  modo que me pareceu um pouco forçado, ao qual deduzo que foi para manter no elenco o ator que (como citei no artigo anterior) era um queridinho hollywoodiano naqueles anos.

Assim na primeira cena em que Ray aparece a própria Julie pergunta à ele o que todos os espectadores estão pensando naquele momento: o que ele está fazendo ali. Sim, porque se ela estuda fora da cidadezinha litorânea a qual ambos pertencem e fica claro que ele não, então por que diabos o jovem pescador faria uma viagem tão longa para visitar a namorada sem que ela mesma soubesse? E ainda apareceria literalmente do nada no campus de sua Universidade? Bom, a explicação que se segue é que ele veio para levá-la à cidadezinha natal deles para “as famigeradas festividades de 4 de julho” as quais conhecemos bem do primeiro filme, pois, foi exatamente quando e onde TUDO aconteceu nos últimos anos, e Julie (logicamente) logo se mostra resistente a voltar com ele.

E foi aí que  o “perfeitinho” do primeiro filme já começou a se tornar irritante, pois que tipo de bom namorado vem de longe para levar uma garota para uma festa onde eventos traumáticos ocorreram não somente para ela, mas para ele também e ainda fica chateado de ela preferir não ir? Um que tenha “peixe no cérebro” como Karla (a cantora de “Talk About Our Love”, Brandy Norwood), a colega de quarto e “nova melhor amiga da protagonista” diz em certo momento… Então, senhoras e senhores, ESTE não era o Ray que conhecermos anteriormente! Sem dizer que nas próximas linhas expressarei minha frustração pelo roteiro não apenas com isto, mas principalmente pelo desperdício imenso de oportunidades para uma trama muito melhor…

Desperdício este de um roteiro  que inclusive manteria Ray nesta história de modo bem mais convincente e interessante do que foi feito… E ainda com a boa sacada (que não houve) de  aproveitar bem pontos do primeiro filme, como foi tentado muito parcamente ao meu ver… Porque há uma cena no primeiro filme onde Ray dizia: “A profecia se cumpriu, eu me tornei meu pai… Meu pai era pescador, é tudo o que sei sobre ele…”…Cena seguida de alguns indícios de que havia momentos em que Benjamin  Willes, nosso pescador assassino a quem sabíamos ter uma filha falecida na idade dos protagonistas, parecia “pegar mais leve” com Ray do que com outras possíveis vítimas e isto é um fato inclusive questionado por Barry, um dos personagens que depois morre.

Por que cito isto? Porque encerrei a última matéria citando a questão social de Ray perante os outros protagonistas – que continua a mesma inclusive – e uma possível ligação dele com o assassino, que menciono agora: ambos eram pescadores, tal qual o desconhecido e mencionado PAI de Ray. E, como quem viu ambos os filmes da franquia (ou até mesmo somente este segundo) possivelmente sabe, a trama dá um suposto filho a ao nosso assassino-pescador… E estou de fato aqui analisando agora que a trama seria mil vezes mais coerente se ao final descobríssemos que este tal filho fosse Ray, baseando-se nos detalhes que acabo de destacar… Eu REALMENTE esperei por isto na época quando soube que haveria uma continuação, e até hoje fico com Ray como filho de Ben Willes em um canto minha mente quando fico muito tempo sem assistir ambos os filmes.

Porém infelizmente a história tomou um caminho bem mais banal, sem sentido e que por fim tentou trazer o impacto de “uma grande revelação” de maneira fracassada e muito menos competente. (Dói ver um grande clássico do cinema ser violado! Mas é o que mais acontece quando um filme possui renome, infelizmente…Com filmes e várias outras mídias.) Bom, talvez o sentido seria usar este “filho” como pessoa próxima para preparar a armadilha para Julie, como foi feito, e Ray não se encaixava no perfil. Contudo então que isto fosse feito de modo mais coerente e que Ray não passasse o filme todo indo de uma cidade à outra e por fim para BAHAMAS como se a distância fosse “logo ali na esquina”, sabendo-se que ele era um rapaz pescador de poucas posses, para depois de tudo chegar lá com “pinta de salvador” e NÃO FAZER ABSOLUTAMENTE NADA!

Mas como ainda estamos no início vamos por partes, como diria Jack o Estripador ou o próprio Ben Willes, que inclusive passa a ter um “upgrade” em sua arma de matança  nesta sequência: antes ele usava um gancho para matar em lugar de lâmina, agora este de fato se tornou sua mão, que havia sido decepada ao final do primeiro filme. E notamos facilmente a mudança de sua personalidade, que antes era assustadora mas ainda podíamos enxergar um pai que havia enlouquecido com a morte da filha e matado aquele a quem julgava responsável por isto, ou o vingador que elaborava toda um jogo psicológico de perseguição e morte àqueles que haviam “matado” ele mesmo e se descartado seu corpo…Agora ele de fato se torna um monstro, que agredia a esposa no passado e uma máquina de matar no presente.

Então retomando a sequência de acontecimentos do filme, após a briguinha de Julie e Ray acontecem várias ceninhas que teoricamente deveriam assustar mas tiram toda tensão que um filme como este precisaria  manter – quando você descobre repetidas vezes que era só medo infundado da personagem e não havia nada lá – onde Julie sempre pensa estar vendo ou ouvindo Ben tanto em seu quarto quanto até numa boate para onde a amiga Karla a pressiona à ir.

Aliás a amiga e colega de quarto vive tentando empurrar Julie para Will (Matthew Settle),  um amigo de seu próprio namorado Tyrell (Mekhi Phifer), negro como ela, confirmando como sempre o padrão americano de que as pessoas apenas se atraem ou se apaixonam somente por outras pessoas COM A MESMA RAÇA OU ETNIA. Tyrell ocupa no filme o lugar de “o cara que só pensa na virilidade” enquanto Will tentará (irritantemente) ocupar o papel do “certinho romântico”, com quem a Julie diz não querer nada tantas vezes que na metade do filme você já está gritando com Karla por insistir tanto em juntar os dois e bem longe de achar isto engraçado, como se nota que foi a princípio a intenção do infeliz roteirista… O fato – que fracassará miseravelmente como “grande revelação” no final – é que ironicamente Will Benson é filho de Ben Willes, e mais pateticamente irônico ainda é que o moço é um personagem tão “bem construído” (aspas=sarcasmo) nesta história que o nome e sobrenome dele é uma inversão óbvia do sobrenome e nome de seu pai! (Kevin Williamson, cadê você com teus roteiros maravilhosos  nesta horas!?)

Aliás faço minhas as palavras de outro telespectador deste filme que vi dizer que quando Julie e sua colega de quarto Karla ganham quatro viagens para uma ilha nas Bahamas na promoção de uma rádio, as circunstâncias suspeitas da vitória das garotas “causam pânico no espectador brasileiro antes das mortes começarem”. Ele tinha razão, pois elas simplesmente respondem a pergunta de uma promoção dizendo que a capital do Brasil era Rio de Janeiro! Alguém se esqueceu de lhes avisar que a resposta estava com muitas décadas de atraso.

Posteriormente Estes (Bill Cobbs), um antigo funcionário do hotel para onde as moças vão, será quem irá alertar-lhes e mostrar no mapa o engano, bem mais tarde e quando as primeiras mortes acontecem. Ele é um homem sábio e negro, que funcionaria bem como uma boa alegoria do “velho sábio” – que em filmes mais antigos de terror, podia ser um “velho sábio e sinistro” interpretado por muitos como um “mensageiro”, que costuma alertar sobre o que “se deve ou não fazer para sobreviver”… Mais recentemente Wes Craven, com sua metalinguagem,  atualiza esta “figura” para um “geek de filmes de terror” que conhece bem todas as “regras” de sobrevivência. Mas este é assunto para um próximo artigo… Neste vale dizer que já quase no final do filme Estes aparece como praticante de voodoo e por isto muito preconceituosamente acusado de assassino quando pequenos  pertences de Julie e seus amigos somem, e depois eles descobrem estar num altar na casa do idoso senhor. Que na verdade apenas estava tentando protegê-los com seus rituais ao perceber que coisas realmente sombrias (e que nada têm haver com práticas místicas ou religiosas) estão acontecendo.

Então, ainda na chegada de Julie e Karla à (por enquanto) ensolarada ilha, sem conseguir mais inovar com a temática do verão soturno (como foi feito lindamente no primeiro filme) o roteiro de “Eu ainda sei o que vocês fizeram no verão passado”   tenta se voltar por alguns minutos para o “verão genérico”, com piscinas e praia nas Bahamas… Embora em seguida o objetivo seja frustrar esta ideia colocando os personagens isolados num resort deserto com uma infindável tempestade de verão, que dura da metade de filme até o final – e eis aqui a justificativa do nome do artigo.

Como já dizia o falecido Randy Meeks, personagem “geek de filmes de terror” que mais me representava em “Pânico”/Scream: “as sequências de terror por definição são filmes inferiores aos originais e a contagem de corpos é sempre maior”, e ele estava certíssimo! Pois daí para frente será tudo o que veremos neste filme! Fazendo a alegria dos que assistem tais filmes apenas para ver as mortes mais bizarras e colaborando para a má fama do gênero quando isto acontece numa trama rasa como esta… O que se inicia após uma rápida interação de Julie e companhia com personagens coadjuvantes locais do hotel tais como uma barwoman Nancy  (Jennifer Esposito, que dois anos depois seria a vampira Solina em Drácula 2000)  que lhes serve uma bebida com nome particularmente interessante: “Tempestade Sombria”, a qual define exatamente a situação na qual eles se encontram.

Havia também um recepcionista e gerente arrogante e racista (Jeffrey Combs, repetindo personagens que já havia feito em outros filmes), o já mencionado Estes, Titus um maconheiro local que tenta vender erva para tudo que se mexa e tenta ser um alívio cômico no filme ( o querido e talentoso Jack Black, muito mal aproveitado e com uma morte absurdamente estúpida) e um funcionário das barcas negro e  uma camareira latina que nunca saberemos o nome porque morrem rapidamente e sem justificativa alguma somente para aumentar a contagem de corpos.

Então depois da tentativa de Ben em literalmente fritar Julie em uma das esteiras de bronzeamento artificial do resort, as famosas cenas de perseguição aqui foram trocadas por sucessivos gritos diante de cadáveres que vão tirando toda aquela maravilhosa tensão que as cenas de perseguição do primeiro filme nos davam. E aqui temos sustos mal dados  em, não uma, mas três moças sobreviventes – apesar de uma delas morrer pelo caminho: Julie, Karla e Nancy, onde elas vão encontrando um corpo atrás do outro… E cabe aqui mencionar um detalhe por trás das câmeras de que a princípio seria Karla quem morreria, mas acabaram mudando para Nancy.

Será que posso crer, pessoalmente, que talvez ficasse “feio” uma funcionária coadjuvante e sem importância para a trama (além de preparar as “Tempestades Sombrias” unicamente)  sobreviver, e uma coprotagonista negra morrer sem mais nem menos…? Contudo, tal pensamento pode ser pura ingenuidade minha considerando que na contagem de corpos os negros certamente ganham em disparada neste filme. Algo que não é exclusivo deste, uma vez que muitos filmes mais antigos seguem este padrão de mortes focado na hierarquia racial…Houve inclusive críticas sutis à isto na metalinguagem dos filmes de terror dos anos 90 e de maneira bem mais direta nos últimos anos.

Aliás, lembra do namorado da Karla, neste filme? O Tyrell… Além do fato de que ambos, O CASAL NEGRO (que deveriam ser COPROTAGONISTAS para formar um “novo quarteto” junto a Julie e Will) simplesmente NÃO TINHAM SOBRENOMES,  o texto do rapaz se resumia apenas a querer transar e falar disto todo tempo… E por mais que ele estivesse ocupando o lugar de Barry Cox como “o idiota do grupo” até o falecido loiro que era um imbecil hipócrita tinha falas melhores!

Novamente… Encerro perguntado retoricamente… Quem escolheu este roteirista mesmo? Porque Kevin Williamson ficou de fora desta vez? Bom, provavelmente por sentir o “cheiro de tempestade sombria” no ar… Então, tomem cuidado com promoções e viagens suspeitas, veja se tem alguém com um gancho embaixo da tua cama antes de terminar de ler, e até o próximo filme semana que vem…Que será um original e por definição bem melhor que o de hoje…


Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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