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Darei continuidade às passagens da famosa obra escrita em 1949 por George Orwell, onde ao meu ver muitas coisas descritas como um cenário “imaginário de modo absurdo de tão ruim” podem agora soar como “premonições” em nossa distopia cotidiana da vida real. Primeira parte da matéria se encontra em “Algumas PREVISÕES distópicas de “1984, George Orwell” – Parte 1“.

Então, como a introdução se encontra já na primeira parte, vou dando continuidade aos tópicos:

*A polícia do pensamento quer te pegar

Se por qualquer razão alguma coisa ou alguém fugisse do controle do Grande Irmão, ele poderia contar com uma série de aliados para denunciar pessoas que tivessem feito alguma coisa errada ou considerada contra o sistema. Era a chamada polícia do pensamento.

Vivemos em um momento de extremo atrito atualmente ao dizer o que pensamos ou mesmo postar nossos posicionamentos em redes sociais. Ou em alguns casos até sermos nós mesmos quando nosso modo de ser não condiz com as normas ditadas por certos grupos intolerantes, que fortalecidos por formas de governo que os apoiam se tornaram praticamente a polícia do pensamento da nossa realidade distópica.

Se você faz parte de qualquer minoria que não se enquadra no ideal de vida que eles defendem, ou falar sobre qualquer tipo de assistência social que poderia ser dada a quem mais necessita, cuidado, a “polícia do pensamento” pode querer te pegar. E pode ser teu vizinho, teu ex-namorado, colegas de trabalho, teus tios mais conservadores, teu chefe que queria escolher até em quem você “deveria” votar. Estamos sendo vigiados e enquadrados em todos os lugares, como em 1984.

*Sorria, as Teletelas estão te vendo!

Em “1984”, quase todos os ambientes privados e públicos possuem um monitor chamado “teletela”, que nada mais era do que uma espécie de televisão que, de um lado, transmite imagens de propaganda e normas de conduta do governo para a população e, do outro, servia como um instrumento de controle, vigiando tudo aquilo que as pessoas estavam fazendo de modo perverso e controlador.

Os televisores da atualidade não são espiões tão ativos quanto os descritos no livro (ainda), mas, se levarmos em consideração os tablets e notebooks, todos com suas câmeras embutidas, temos a sensação iminente de estarmos sendo vigiados. E mais recentemente as chamadas de vídeo e vídeos íntimos que vivem circulando na internet e em celulares alheios sem a permissão das pessoas que aparecem neles.

Além disso, recebemos mensagens publicitárias a todo instante e por todos os meios, mediante a dados pessoais nossos que circulam sem que saibamos exatemente como ou quando eles vazaram. Como será que empresas de telemarketing atuantes até em localidades que você nunca visitou conseguiram teu telefone?

*Desvalorização da Cultura e valorização do ódio

O controle sociopolítico em  1984 se dá com a criação de uma figura antagônica, considerado traidor da nação – Emmanuel Goldstein – que passa a ser culpado por tudo de ruim que possa acontecer. Ocorriam os populares “Minutos do ódio”, onde a figura do tal traidor aparecia nas teletelas e a população devia loucamente xingar e descontar toda sua frustração violentamente. Não temos teletelas, mas acho que posso muito facilmente permitir que o leitor raciocine que temos nossos próprios “Goldsteins”.

Como mencionado anteriormente nada que fosse contra as normas vigentes poderia ser bem visto, e a norma ditada pelo Grande Irmão e vigiada para seu cumprimento diário era a de que o padrão de vida ideal era focado apenas em trabalho com cargas horárias abusivas e salários miseráveis, exercícios com disciplina militar e os minutos dedicados ao ódio pelo “traidor do sistema”. Algo soou ainda mais familiar?

E se eu disser que não havia bibliotecas, livrarias, teatros , cinemas ou qualquer forma de cultura no cotidiano de Winston Smith e seus colegas de trabalho. O próprio protagonista tinha de se esconder em um canto do quarto onde os olhos do Grande Irmão não o vissem através da teletela para ler um livro, do contrário seria preso.

Bom, que mundo se tenta criar quando não se incentiva a cultura e se contribui para que ela se resuma somente aos televisores? Ou se defende que os profissionais ligados à áreas culturais mais engajadas sejam mal quistos e tratados como se fossem “parasitas”? Me pergunto se em alguns anos não estaremos tendo que nos esconder para ler livros que não estejam de acordo com as normas políticas… Espero estar sendo pessimista aqui!

*O Duplipensar e a história modificada

Em “1984”, vemos a existência de apenas três ministérios. Um deles é o “Ministério da Verdade”, cuja função é espalhar mentiras, controlar a mídia e a educação, reescrevendo diariamente a história, rasgando livros e editando os fatos já ocorridos… Alguma semelhança com certas faladas que vemos atualmente sobre a “não existência” em nosso passado de um certo regime político autoritário que está prestes à se repetir?

Temos também o “Ministério do Amor”, responsável pela segurança pública e por torturar pessoas… e “Ministério da Paz”, que sempre está promovendo a guerra contra as duas outras nações. Nada mais contraditório! Talvez apenas quando vemos alguém querer pregar a “paz” com uma arma na mão, ou dizer que “não é machista mas as mulheres ficam ótimas no papel de donas de casa”… E isto apenas para citar exemplos leves e despretensiosos. Pois é exatamente neste tipo de discurso que manipula o interlocutor e diz coisas convenientes de modo convincente, porém contradizendo completamente suas próprias ações, que se define o que George Orwell chamava de duplipensar.

“Quem controla o passado controla o futuro. Quem controla o presente controla o passado”. Um dos lemas políticos presentes no  livro, onde inclusive alguns personagens possuem como ofício passar as horas de trabalho  modificando registros históricos em jornais e livros, modificando assim todo o curso da história e manipulando o modo de pensar da população. Muitas informações que recebemos hoje vem de fontes online que, nem sempre, são muito confiáveis… E creio não precisar de muito para lembrar que recentemente até aplicativos vem sendo usados para disseminar as tão conhecidas fakenews, e qual se tornou o peso delas na decisão das pessoas e consequentemente no próprio curso da história.

Eu poderia continuar citando mais coincidências observadas na narrativa de Orwell que me fazem pensar em muitas coisas que estamos vendo ultimamente no mundo real, tal qual estivéssemos todos dormindo e sonhando com uma distopia. Porém não pretendo construir uma terceira postagem para este tema, então encerrarei por aqui desejando que em breve todos ACORDEMOS, antes que a realidade se torne distópica a um ponto que não tenha retorno.


Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

2 Responses

  1. Cara, primeiramente parabéns. Cai super por acaso nobseu blog por causa de uma resenha de 5 anos e atras e ainda bem que decidi dar uma olhada nas outras postagens.
    Enfim, maravilhoso o seu post. Nao cheguei a ler esse livro ainda, apesar de querer ha pelo menos uns 3 anos. Agora posso dizer que a vontade aumentou ainda mais (obrigada!)
    Sobre as previsões: é desesperador o quao proximos estamos desse cenario. Na verdade ja estamos ate mesmo presenciando alguns pontos como voce ressaltou. Realmente, sinto muito medo de comobas coisas vao se dar daqui pra frente

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