Quem leu o livro Jogos Vorazes ou já viu os trailers do filme que irá sair, já escutou ou leu essa frase, com certeza no livro foi provavelmente a frase que mais me marcou, sério pensei sobre ela e toda a situação da Katniss naquele momento e eu não faria diferente. Para aqueles que não sabem do que estou falando vou situa-los melhor, recomendo antes ler a minha resenha sobre o livro Jogos Vorazes, caso você ainda não tenha lido o livro.
no final do primeiro capitulo de livro, é feito o sorteio do tributo feminino do Distrito 12, a escolhida, diferente do que pensamos é Primrose Everdeen, irmã mais nova de nossa protagonista Katniss Everdeen, que está participando do seu primeiro dia da colheita. Prim tem apenas 12 anos e a visão de mandar a irmã para a morte certa na arena, faz Katniss tomar uma atitude que ninguém esperava.
Depois de uma breve confusão mental, o choque de que era o nome da sua irmã no meio de tantos outros, a ser sorteado, Prim tinha um misero papel com seu nome, enquanto a própria Katniss tinha vários, porque ela foi sorteada? Ela tinha apenas 12 anos. Vou colocar aqui o trecho do livro onde tem essa parte.
“- Prim! – O grito estrangula sai de minha boca e meus músculos começam novamente a se mexer. – Prim! – Eu não preciso abrir caminho em meio à multidão. Os outros garotos dão passagem imediatamente, permitindo que eu chegue rapidamente ao palco. Eu a alcanço quando ela está a ponto de pisar no primeiro degrau. Empurro-a para trás de mim com meu braço.
– Eu me ofereço!- digo eu, arquejando.- Eu me ofereço como tributo!”
Quando eu li essa parte, pensei na mesma hora, eu não faria diferente. Eu não tenho uma irmã mais nova, somos apenas duas irmãs aqui em casa, mas tenho um sobrinho, que mora aqui e é quase como meu irmão mais novo, eu faria o mesmo por ele, o problema é que eu não poderia me voluntariar no lugar de um garoto, ao pensar nisso me bateu um grande desespero.
A atitude de Katniss é vista no livro como algo, diferente, algo de uma heroína, mas não é como eu penso, ela apenas agiu por instinto, se ela tivesse se voluntariado no lugar de alguém que não conhecia, tudo bem, ela seria uma heroína, mas não nesse caso, é natural que a gente proteja os mais novos de nossa família, mas pelo o que consta no livro, não é isso que o pessoal do distrito 12 pensa, como consta no parágrafo logo em seguida.
“Há um certo burburinho no palco. O Distrito 12 não tem um voluntário há décadas, e o protocolo já está enferrujado. A regra diz que, uma vez que o nome de um tributo foi retirado da bola, outro garoto elegível, se foi lido o nome de um garoto, ou outra garota, se foi lido o nome de uma garota, pode se apresentar para tomar o lugar dele ou dela. Em alguns distritos em que vencer a colheita é uma grande honra, as pessoas ficam ansiosas para arriscar a sua vida, o que torna o voluntariado algo bem complicado. Mas no Distrito 12, onde a palavra tributo é quase sinônimo de cadáver, voluntários estão mais que extintos.”
E no parágrafo após a escolha do tributo masculino Peeta Mellark
“Effie Trinket pergunta se há algum voluntário, mas ninguém se apresenta. Ele tem dois irmãos mais velhos, eu sei, eu os vi na padaria, mas um deles talvez seja velho demais para ser voluntário e o outro não quer. Procedimento padrão. A devoção familiar, para a maioria das pessoas, termina quando começa o dia da colheita. O que fiz foi a coisa mais radical do mundo”
Isso é algo que sinceramente eu não entendo, acho que talvez eu seja antiquada, viva em um mundo onde seu bem mais precioso é a sua família, eu brigo com a minha irmã, fico puta com ela, passo horas do dia sem falar com ela, mas ela é a minha irmã, ela e a minha mãe são as únicas que estiveram do meu lado a todos os momentos e sempre vão estar, minha irmã é minha cúmplice, é mais do que minha amiga, é a pessoa que eu poderia ter tido uma briga terrível agora, aquela que você olha para a pessoa e a odeia, odeia o jeito que ela respira até, o branco dos olhos dela, odeia tudo nela, eu posso estar sentindo isso pela minha irmã depois de uma briga, se logo em seguida fossemos para o dia da colheita e o nome dela foi sorteado, eu não pensaria duas vezes em me voluntariar no lugar dela e eu sei que ela faria o mesmo por mim.
Uma situação bem diferente, mas que demonstra essa coisa de ir no lugar da irmã, foi o que aconteceu comigo e minha irmã uma vez na praia, acho que ela não vai se lembrar disso, eramos muito pequena, mas essa é a primeira lembrança que tenho que minha irmã faria qualquer coisa por mim. Eu estava com meus primos e ela na praia e cavamos um buraco bem fundo na areia, todos nós e meus primos mais velho disseram que entre todos nós depois iriamos sortear quem iriamos enterrar no buraco, enterraríamos todo o corpo deixando apenas a cabeça para fora e eu acabei sendo a sorteada, eu não me lembro como foi o sorteio e fiquei com medo de sei lá, o buraco ser muito fundo e eles me enterrarem totalmente, eu hoje sei que eles não fariam isso, mas eu era pequena e burra, tinha medo, eu falei que não queria e os mais velhos colocaram pilha, falando que eu tinha concordado e tudo mais e minha irmã falou que iria no meu lugar. Não era um caso de vida ou morte, mas eu não sei se ela ficou com o mesmo medo que eu talvez, mas mesmo assim se voluntariou.
Uma outra situação foi quando eu estava com sei lá, uns 5 anos mais ou menos, eu mamava na mamadeira ainda, estávamos brincando no play do prédio e eu não me lembro direito como começou a conversa, só sei que uma das garotas falou que eu mamava na mamadeira, eu metida a mocinha disse que era mentira, ela disse que era verdade porque ela tinha visto mamadeira na minha casa, minha irmã vendo o meu medo de ser descoberta na hora, disse que era dela, que ela mamava na mamadeira, sendo que ela era mais velha e seria mais mico para ela do que seria para mim, mas ela não se importou com ela mesma, apenas quis me deixar mais confortável sobre esse meu segredo.
São coisas idiotas, mas mostra o lado de se importar mais com os outros do que com a gente, mostra que ela se importava mais comigo do que com ela, tenho certeza que se ao invés disso fosse o dia da colheita e uma fosse chamada, a outra iria se voluntariar na mesma hora, tenho certeza que eu não me importaria com meu pouco condicionamento físico, com meu coração mole que me faria chorar pela morte de cada tributo, mesmo sabendo que eles queriam me matar, eu não pensaria duas vezes, se fosse o nome da minha irmã a ser chamado, eu falaria na mesma hora: “Eu me ofereço! Eu me ofereço como tributo”
Eu seria corajosa? Não, de fato não, eu estaria sendo talvez até medrosa, medo não de morrer, mas de viver sem a minha irmã e pensar que eu não fiz nada para salva-la, eu não conseguiria viver dessa forma, eu iria preferir acabar com tudo de uma vez e morrer na arena, ao invés de passar uma vida em sofrimento sem ela. O que a Katniss fez não foi uma demonstração de coragem extrema, eu vejo mais como medo, medo de perder a pessoa que mais amava, talvez algo até mais covarde, já que ela preferia morrer e deixar a família sofrer sem ela, do que viver sofrendo pela irmã. Porém a demonstração de covardia mais corajosa, que supera qualquer coisa.
Sei que muitos podem falar, que ela se voluntariou porque sabia que teria mais chance que a irmã, mas não é isso que ela pensa, fica claro no livro que ela sabe que está caminhando para a morte certa, não vou colocar o trecho aqui, porque é muito grande, mas no trailer tem um resumo bem específico de que é assim que ela pensa a principio, a parte que eu falo está bem em 1:10min, na hora em que Gale está de frente para Katniss, ambos parecem sozinho nessa tomada e ele fala desesperado para ela: “Eles só querem um bom show, é só o que eles querem” e a Katniss responde “São 24 de nós Gale, só um sai vivo”
Eu penso que talvez, por um momento, ao nome de Prim ser chamado e Katniss se voluntariar, passou pela cabeça dela que ela tinha mais chances que Prim, mas não imagino que ela tenha se imaginado como vencedora dos Jogos Vorazes, é apenas a questão da proteção, “se eu tiver por perto, nada de ruim acontecerá com quem eu amo”, todos pensamos assim, se você ama alguém você se acha um super herói, acha que seu corpo é a prova de tudo, que você é invencível, nos momentos de aperto é assim que você vê as coisas, porque de uma forma, lá dentro, você sabe que não irá conseguir continuar em frente se alguém que você ama morre e você não pode fazer nada, eu vou citar mais um caso que aconteceu aqui em casa e dessa vez existia um risco real de vida.
Eu moro perto de uma favela, atualmente está pacificada, mas já tivemos dias totalmente negros aqui. Teve uma época que eu trabalhava como suporte técnico de uma operadora de internet banda larga, meu horário de trabalho era de 19h às 01h, então eu chegava em casa normalmente por volta das 02h. Geralmente era tranquilo, mas teve um dia, que eu estava já dentro do ônibus vindo para casa, quando minha mãe me ligou, falando que a favela próxima a nossa casa estava em guerra, muitos tiros e disse para eu ir para a casa da minha avó, como eu estava em lugares desertos no momento, disse que eu iria ligar para ela na Saens Pena, para ela me falar como estavam as coisas, porque qualquer coisa eu saltava na Uruguai e daria para eu pegar um ônibus para a casa da minha avó.
Ao ligar para ela, fiquei sabendo que a situação não melhorou, eu saltei do ônibus para pega-lo do outro lado da rua, mas aí veio o desespero, como todos os ônibus passavam perto dessa favela para chegar ao ponto final, nenhum ônibus estava subindo para o ponto final e nem descendo para continuarem, eram 2h da manhã, eu estava sozinha no meio da Uruguai, nada aberto, um desespero tomou conta de mim pois eu sabia que não ia conseguir pegar nenhum ônibus, andei até o posto, onde existia gente para eu ficar mais segura e liguei para casa, minha mãe decidiu que era para eu pegar um táxi se eu conseguisse e ir para casa, ela me esperaria na portaria e eu o fiz.
O meu bloco, fica no fundo do prédio, então tem um bom pátio para se chegar até a portaria, onde para você passar, teria que passar exatamente onde existia chance de pegar alguma bala perdida, o taxi chegou rapidamente no meu prédio e eu sai, não vendo minha mãe na portaria, corri direto para meu bloco, meio abaixada, ao chegar perto da portaria do meu bloco, eu vi minha mãe saindo, ela tinha dito que iria ficar na portaria do meu prédio, eu a mandei entrar e entrei logo em seguida, quando estavamos em casa, todas que caímos no choro, podia ter acontecido qualquer coisa ali.
O porque eu contei essa historia? Na época do ocorrido minha mãe havia acabado de operar o joelho, não podia correr e eu era mais rápida que ela, então porque ela desceu? Porque não me esperou em casa? Era a coisa lógica a se fazer, pois ela não teria como me ajudar a correr, era uma pessoa a mais que estaria em perigo, minha mãe não tem colete a prova de balas, nem nenhuma proteção em especial, mas naquele momento, ela não pensou nisso, não pensou no que poderia fazer, pensou apenas que se ela estivesse lá, tudo ficaria bem. Acho que foi esse o pensamento da Katniss na hora de se voluntariar no lugar da irmã, foi algo como “se eu estiver lá, nada de ruim vai acontecer a ela”, isso é algo natural, por isso eu fiquei espantada ao ler que o gesto dela foi heroico, não, não foi, ela apenas agiu como deve-se se agir.
Mas pensando na atualidade eu vejo que infelizmente, não é realmente normal algo assim, hoje em dia vemos que estamos cada vez mais nos importando com nós mesmos e menos com as pessoas ao nosso redor, mesmo que essas sejam da nossa família, praticamente todos os dias você encontra um crime que eu considero terrível, é filha que mata os pais para ir a show, pai que espanca o filho quase o matando por causa de um furto de calcinha, o garoto devia ser castigado, sim? Mas não quase morrer… Porém infelizmente essas notícias não abalam mais as pessoas como antes, porque são todos casos que está fazendo parte do nosso dia-a-dia quase, cada vez mais crimes que antes eram considerados terríveis, estão se tornando banalidade, estão se tornando aquela notícia que você lê como “mais uma” no jornal.
Jogos Vorazes é um livro que se passa no futuro, uma realidade que consideramos utópicas, mas se pensarmos para onde estamos indo, no que a humanidade está se tornando, não demorará muito para que troquemos os reality show, com pessoas em uma casa, ou em uma fazenda, para um passado em arena, onde o vencedor não é quem tiver mais votos e sim, o que sobreviver.
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Adorei o Post Mih *-* É a mais pura realidade isso. Atualmente o importante a muitos tem sido o próprio umbigo e principalmente se ligar a programas que mostram a vida das pessoas, de forma ou degradante ou de forma deturpada ao qual ganha não quem é o melhor como ser humano, mas quem é o pior como ser humano geralmente. Afinal ganha quem DÁ mais O.O
O problema é que a violência se tornou normal para muitos, é como se todo dia ocorresse algo pior e pior que faz com que o crime anterior se torne tão passado que ninguém mais lembra. Se for basear mesmo a humanidade estamos regredindo, voltando aos tempos considerados antes “negros” aos quais a religião fala mais alto que a racionalidade, não que seja ruim ser religioso, mas há um limite, e as pessoas passam além dele. Aonde ao invés de corrigir, educar as pessoas preferem bater, surras, pagar praticamente olhos por olhos, sangue por sangue.
Como antes ocorria, não sei como não vemos guilhotinas nas ruas ou o famoso carrasco, acho que agora ele tá mais discreto dentro de roupas mais formais e menos aterrorizantes que sabe?
Beijocas
S2
Infelizmente essa realmente é a pura realidade, ao ler Jogos Vorazes você fica horrorizada com a crueldade, mas comece a liga-la a nossa realidade atual e veremos que dias igual aos que ocorrem em Panem, não estão tão longe.
Eu sempre pensei muito sobre isso, o que é o amor de verdade… E acho que só é verdadeiro quando a gente se coloca exatamente neste papel: Por quem eu daria minha vida?
É realmente uma ótima forma de pensar sobre amor verdadeiro.
Tenho duas coisas a falar
1 – Você é a CULPADA por meu vicio por Jogos Vorazes….por sua causa eu devorei os 3 livros em menos de 5 dias…e nao me importo em reler um monte de vezes.
2- Você me fez chorar com os relatos com sua irmã…eu sei bem como é isso.
Eu sei porque é isso que sinto pela minha irmã e pela minha sobrinha…eu me candidataria para ir no lugar delas sem hesitar e sei que elas fariam o mesmo por mim.
Isso me fez lembrar quando eu era pequena, tinha 7 anos e apanhei na escola de uma garota mais velha. Quando cheguei em casa, minha irma ao descobrir me pegou pela mão e me fez dizer onde a tal garota morava, e ela foi na casa da garota e falou com os pais dela e deu uma baita lição de moral….e no dia seguinte minha irma me levou na escola e fez questao de avisar a garota e todo mundo da turma para nunca mais encostarem a mão em mim, senão iriam se ver com ela. Naquele dia minha irmã com uma baita diferença de 10 anos de idade, se tornou a minha heroina….e desde então muitos momentos isso foi reforçado.
mas voltando ao tema
VIVA OS JOGOS VORAZES!!!!!!!!!!!!!
Primeiramente, mione, é você me deixou com MUITA vontade de ler e ver o filme Jogos Vorazes, obrigado e.e
Você me fez pensar e me levou a conclusão de que eu certamente iria me oferecer como tributo por qualquer um que amo. Mas me fez pensar também: haveria alguém que se ofereceria por mim? Um familiar certamente faria isso, eu sei. Mas no outro sentido, entende? Nos dias de hoje, nessa geração nova onde “é só pegar”, onde não há mais tanta fidelidade, tanto comprometimento, e o amor não se torna totalmente “verdadeiro” e nem a coisa mais importante como antes. Então… será que alguém me amaria a tal ponto de fazer isso?
Será que alguma pessoa amaria outra a tal ponto para fazer isso?
Enfim.
Adorei o post mione, ficou muito bom, mesmo *—*
Faço QUALQUER coisa pela minha irmãzinha!!
Sabe Supernatural? Dean Winchester? Pois é sou eu!! rs
Ela é a coisa mais importante do mundo pra mim!! É praticamente minha filha!
Desde que leu a sinopse do livro, minha irmã falou da semelhança que tenho com a Katniss. Viro uma fera, com máxima coragem quando mexem com ela, tb não tenho medo de me expor ao ridículo ou a perigos…
Suas histórias foram bem emocionantes… mas não é sempre assim! Tenho amigas as quais os irmãos não ligam a mínima para elas.
Podem falar que controlo demais a vida da minha irmã, mas ninguém sente o que eu sinto quando fico preocupada com ela, parece que vou sufocar!!
Ao mesmo tempo que é ótimo ter uma amiga e companheira como ela, é um “peso” sempre ter que pensar em prol dela. Não adianta, amor vem junto com responsabilidade e sinto que serei responsavel por ela até o fim dos meus dias…
É um amor maior que a vida, a minha filhinha que sempre cuidei, troquei fralda, dei mamadeira, ensinei a gostar de filmes, músicas, livros. Agora ela pode ter seus 18 e eu 29, mas sempre vai ser um bebê pra mim…