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“Relatos Selvagens” é uma antologia que conta com seis segmentos, cada um com seus personagens, cenários e situações diferentes, unidos por apenas um fator: a violência e a vingança a níveis ridículos e irracionais. Caminhando entre o drama e o humor negro (dando grande e especial destaque para este segundo), Szifron inicia uma inacreditável odisseia de sarcasmo e ironia.

A escolha do título de “Relatos Selvagens” não poderia ser mais precisa e acertada. Em nenhum momento vemos qualquer sinal de amor, bondade, esperança, ou qualquer sentimento positivo. Apenas selvageria. Damián Szifron nos guia frenética e belamente através de explosões imprevisíveis pela barbárie do cotidiano, extravasando qualquer concepção de ética, moral e bom senso. Não tentem procurar sentido lógico ou qualquer sinal de humanidade: a barbaridade é feita de reviravoltas surreais, frenéticas e insanas.

É difícil comentar um único ponto alto para o filme. Poderia destacar o roteiro, criativo e cruel a níveis extremos, sempre surpreendendo seu público, o que é facilmente visível nos segmentos “Pasternek”, “Bombita” e “Até Que A Morte Nos Separe” – sendo este último meu favorito. Mas seria injusto não comentar a direção primorosa e complexa de Szifron especialmente em “O Mais Forte”; o diretor, não contente em imprimir um estilo único em cada plano, também procura encher suas cenas de beleza, com amplas paisagens e abundância de cores, ressaltadas pela ótima fotografia de Javier Juliá. E a trilha sonora, que casa perfeitamente com a proposta de cada cena? Teríamos ainda que falar das atuações, todas acertadas, e dos conceitos absurdos de cada segmento, bem como seus respectivos desenvolvimentos, sempre muito imprevisíveis e satisfatórios…

Fato é que “Relatos Selvagens” é um filme deliciosamente histérico, e é no exagero que encontra sucesso. Mas não se enganem: mesmo absolutamente irracionais, os personagens de “Relatos” jamais se tornam caricaturas, muito menos suas tramas. É um filme que extrapola todo e qualquer limite, mas sem perder a sofisticação. Uma das melhores comédias de humor negro dos últimos anos, é provável que “Relatos Selvagens” deixe algumas marcas em seus espectadores, arrancando boas risadas e também longas reflexões. O cinema latino-americano está muito bem representado. Afinal, não é qualquer filme que recebe uma ovação de 10 minutos em Cannes.

Nota: 9/10

Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

One response

  1. […] “Relatos Selvagens” é outro filme perturbador, que, porém, utiliza-se de suas aspirações doentias para fins cômicos. Uma antologia de seis segmentos unidos por nada além da temática de violência e vingança, “Relatos Selvagens” é uma incrível e assustadora comédia de humor negro. Nem todos os seis curtas mantém o mesmo nível de qualidade – o segundo, por exemplo, intitulado de “As Ratas”, é apenas mediano –, mas, em histórias como “Pasternak” e “Até Que A Morte Nos Separe”, o roteiro atinge o ápice de sua inspiração e entrega alguns dos momentos mais hilários do ano. Mas não é apenas o roteiro que compõe a grandiosidade deste filme: a direção de Szifrón e a fotografia Javier Juliá garantem também uma rica experiência visual. E o que falar da trilha sonora, extremamente bem selecionada? “Relatos Selvagens” é um filme incrível sobre pessoas que passam dos limites em situações simples do cotidiano, e, no processo de contar suas histórias, arrebata o espectador com uma explosão de violência e humor nem um pouco politicamente correto. Para saber mais sobre “Relatos Selvagens”, leia minha resenha completa sobre o filme. […]

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