Viemos falando desde ano passado de “As Quatro Estações”, e eis que finalmente chegamos à quarta e última novela da coletânea de Stephen King! O livro, conforme já comentamos, mostra um lado mais humano de King e reforçando algo que, até em seus livros de suspense e terror é evidente: o autor sabe escrever personagens críveis e incrivelmente humanos. Caso ainda não tenha lido as partes anteriores, não deixem de conferir! (Parte 1 – Parte 2 – Parte 3)
Nas resenhas anteriores, comentamos que “Aluno Inteligente” também tinha um clima mais mórbido e esperado do autor ao retratar a história de dois potenciais serial killers, no entanto, “O Método Respiratório”, quarta e última novela do livro, que resenharemos a seguir, finalmente sugere algum elemento sobrenatural, ainda que de forma brilhantemente dúbia, sem se tornar o foco de tudo.
A novela é narrada pelo personagem David, um homem de meia idade, que se envolve num misterioso clube de cavaleiros em Nova Iórque. O grupo se reúne com frequência em noites especiais para contar histórias, e é uma destas que se torna o foco da narrativa do personagem.
A história é narrada pelo colega de clube Emlyn McCarron, um médico que narra a marcante e história de sua paciente Sandra Stansfield: uma mulher que resolve dar à luz seu filho ilegítimo na década de 30. E é aí que a humanidade marcante de “As Quatro Estações” brilha: numa história onde o machismo é o pano de fundo, em palavras capazes de criar empatia com o leitor, ao explicar todas ansiedades de uma mãe solteira numa época tão remota. Ressaltamos também que quem lhes escreve agora é um homem, incapaz de verdadeiramente entender como uma mulher pode de fato se sentir, e estamos cientes que a história é narrada por um personagem masculino, criado por um escritor também do sexo masculino – mas realmente me pareceu uma narrativa que não objetificou, banalizou ou fetichizou o sofrimento de Sandra.
É num final nada feliz que a história tem uma leve sugestão de sobrenatural – e mesmo assim, é de se pôr em perspectiva do Dr. McCarron: seria o bizarro desfecho da história de Sandra algo que ficou apenas na imaginação dele para sempre? Esta dúvida também evidencia-se no que David, o “primeiro” narrador vê no clube: um grupo de homens que visivelmente tem algo a esconder que nunca é de fato descoberto. E, enquanto num primeiro momento, nos pegamos impacientes, sentindo que a história de Sandra deveria ser o conto todo, quando pensamos melhor, o fato de ser a “história dentro da história” é o que possibilita e reforça esta maravilhosa dúvida do quanto nossos medos são reais ou não – resgatando, de certa forma, a mesma sensação de um bom medo do escuro.
O dúbio sobrenatural e a empática narrativa com preconceitos como pano de fundo fazem de “O Método Respiratório” um ótimo desfecho para a antologia de Stephen King. Talvez não seja a novela mais forte das quatro – o autor se demora demais na menos interessante história de David, o narrador. No entanto uma vez que se entende (e se consegue superar) a necessidade de pôr a história de Sandra dentro da narrativa de David, o leitor poderá ter uma bem vinda e surpreendente mudança de percepção ao se perguntar: será que minha mente faz dos medos realidade?
Uma curiosidade a mais é que “O Método Respiratório” é a única novela de “As Quatro Estações” que, até o momento não ganhou adaptação. Foi noticiado há alguns anos que isto mudaria, com uma minissérie para a TV, no entanto ainda não há nada realmente sólido sobre o assunto.
Nota: 7
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