Um violino Stradivarius desaparecido, algumas orelhas cortadas e seus respectivos cadáveres trazem o famoso Sherlock Holmes ao Brasil, por recomendação de sua não menos famosa amiga Sarah Bernhardt. Porém aquilo que parecia um pequeno e discreto caso imperial transforma-se numa saga cheia de perigos, tais como feijoadas, vatapás, mulatas, intelectuais de botequim, pais de santo e cannabis sativa.
Esse livro foi recomendação de um amigo que, na minha cabeça, tem um gosto literário melhor que o meu se posto na balança a quantidade de clássicos que ele já leu, então toda vez que ele diz que um livro é bom eu meio que me forço a gostar, mas dessa vez não deu.
Os pontos que mais chamaram a atenção com relação a esse livro foram 1) Jô Soares e 2) Sherlock Holmes, mas, ironicamente ao extremo, esses mesmos fatores que me fizeram querer ler foram as razões que me fizeram desgostar da leitura. Basicamente, O Xangô de Baker Street vai trazer a figura icônica do Sherlock para o Brasil à pedido de D. Pedro II para resolver um roubo de um violino valiosíssimo e de quebra ele cai no meio de uma investigação de assassinato. Uma premissa super interessante, mas que não foi bem executada.
Eu nunca li nenhum livro oficial do Sherlock Holmes, mas sou formado em três temporadas da série maravilhosa Sherlock com o rei do universo Benedict Cumberbatch e tenho uma noção base de como seria uma boa retratação do personagem histórico, coisa que não aconteceu nesse livro. É como se o tempo todo a imagem de um magnífico Sherlock Holmes fosse socada cabeça à dentro do leitor em vez de mostrar como ela funciona. Como um enaltecimento infinito de “minhas técnicas de dedução são extremamente superiores à de qualquer ser humano”. Claro, todos nós sabemos que é, mas o próprio personagem dizer isso cria um ar super prepotente. E eu realmente não sei o que o Watson estava fazendo ali. A única coisa que ele fez o livro inteiro foi reclamar de qualquer coisa e ser o mais avulso possível.
A mistura de mistério e humor não funcionou bem. As cenas narradas pelo assassino são muito boas e cumprem a intenção de chocar ao leitor com a forma brutal que ele ataca as mulheres, mas enfiadas no meio de cenas do Sherlock pagando uns micão é de quebrar o ritmo completamente. Parece que o livro inteiro é mais sobre o Sherlock turistando no Brasil do que própriamente sobre o mistério e isso foi que mais me decepcionou, porque eu esperava um clima mais denso e instigante. Tem sim piadas muito boas que eu ri alto, mas também tem piadas tão inteligentes que acabam sendo sem graça e você tem que voltar um pouco pra perceber que ela estava ali.
Sou fã do Jô, hoje em dia com ressalvas por alguns closes errados que ele sempre deu, mas eu que fechava os olhos pra isso, porém é perceptível que ele forçou demais um vocabulário muito rebuscado que não era necessário. De tão excessivamente pomposo o ritmo de leitura acaba sendo muito lento sem motivo. Se escrito numa linguagem mais atual e acessível o livro seria mais ágil e, com certeza, mais prazeroso.
Por mais que tenha suas partes legais, como o embasamento sobre o Brasil do século XIX (coisa que eu achei que não me agradaria) e algumas passagens que brincam com a possibilidade do Sherlock e do Watson terem influenciado o surgimento de algumas coisas que perduram até hoje na cultura brasileira, temos poucos personagens realmente interessantes e uma história que não se sustenta por todas as suas quase quatrocentas páginas (mesmo com um espaçamento gostosinho de ler). É uma decepção, mas não vou desistir do Jô e espero tirar esse gosto amargo da boca em outros livros dele.
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