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O gênio singular e o humor mordaz de Oscar Wilde encontram a sensibilidade e perspicácia de Clarice Lispector neste clássico do escritor irlandês adaptado pela mais importante autora brasileira. O retrato de Dorian Gray é mais um volume da coleção Os Favoritos, que reúne histórias universais adaptadas por Clarice Lispector, como O chamado selvagem, de Jack London, Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, A ilha misteriosa, de Julio Verne, e O talismã, de Walter Scott.

Na trama, tecida por Wilde em prosa elegante, repleta de diálogos espirituosos, questionamentos filosóficos e elementos fantásticos, Dorian Gray é um jovem belo e virtuoso que tem seu retrato pintado por Basil Hallward, um artista sensível que procura imortalizar na tela toda a beleza, pureza e inocência de seu modelo. Ao ser apresentado a Henry Wotton, no entanto, Dorian é seduzido pelo estilo de vida hedonista e um tanto cínico do lorde, mergulhando numa vida de vícios e busca pelo prazer sem limites, sob a aparente fisionomia da bondade e da virtude.

Uma das primeiras coisas que aprendemos quando pequenos é “Não Julgue um livro pela capa” quando fui solicitado a escolher que livro eu resenharia optei pela famosa história de Dorian Gray, Você já deve ter visto um dos muitos filmes em que o rapaz aparece, um exemplo é “A Liga extraordinária (2003)” (que por sinal eu recomendo). A capa desta adaptação feita pela ilustre Clarice Lispector é um tesouro, só o fato de ter um livro de tamanha beleza já te faz ter dó de não devorá-lo o mais rapido possível,  ao faze-lo você descobre que o apreço que você cria pelo seu exemplar do livro acaba se assimilando a paixão que todos os personagens acabam por nutrir pelo jovem protagonista.

De primeira pensei que detestaria a história, ou no minimo a escrita, por ser uma adaptação da tão complicada e incompreendida Clarice acabaria ou por não compreender nem um terço do Conto, ou por ter uma viagem astral das mais insanas e profundas, a verdade é que nossa dama da literatura nos presenteia com uma visão sucinta e agradável, como uma leitura leve de fim de tarde de sábado deve ser, se você não sabe o que isso significa não sei com que outras palavras posso me fazer entender.

A Historia Criada por Oscar Wilde começa com o Pintor Basil Hallward comentando com seu amigo Lord Henry Wotton que está em completa euforia, pois achou o ser mais belo na face da terra, e que o mesmo por sua vez aceitou fazer-se de modelo para um retrato que viria a ser sua maior Obra. O Jovem puro, livre de maldade ou pecado, intocado pelas malicias e desgostos do mundo era uma criança, um anjo aos Olhos de Basil, que por sua vez queria que henry mantivesse distancia do mesmo.  Henry Wotton é o tipo de personagem teimoso que tem a terrivel mania de fazer o exato oposto do que lhes mandam, ao longo da trama se mostra um completo estupido, machista e grosseiro, o que aparentemente nada mais era do que o comportamento natural dos homens da Inglaterra de 1890.

Ignorando as Suplicas de seu amigo Lorde Henry desenvolve seus meios para conhecer o jovem e da sua maneira começar a mutar a Inocencia do até então imaculado Dorian, o Jovem é tudo o que Basil diz e mais um pouco, sua beleza é digna de aplausos e o Retrato feito pelo pintor uma demonstração fiel de tamanha perfeição, o menino o encanta de forma que torna impossivel a Henry não adiciona-lo a mais um de seus estudos, com toda sua manipulação e influencia Henry ensina a Dorian as mais diferentes coisas, revela as mascaras que o mundo veste e por muitas vezes as retira de forma bruta o que para Dorian é um choque mais do que traumático.

Para gosto da trama uma pitada de mágica é adicionada ao conto, o Retrato de Dorian feito por Basil se nutre de um desejo feito na sala em que a tela era pintada, naquele momento todos ali presentes imploraram ao vento que Dorian permanecesse imaculado e que em seu lugar envelhecesse o retrato, sem saber diretamente como ou por que tal desejo se realiza, mas o único a percebe-lo é o proprio dorian que o guarda em casa. Ao cometer um ato de crueldade a expressão na tela se modifica, o retrato agora não só acrescenta suas caracteristicas temporais como também as marcas de seus pecados e atitudes mais grotescas.

Crescendo sobre a tutela e auxilio do inescrupuloso Henry Wotton, Dorian acaba por se tornar um homem Libertino, Maldoso e de certa forma tão poluido quando a mais suja das ruas, mesmo com os passar dos anos, a casca de Dorian continua perfeita, bela e aparentemente tão pura quando se pode ser, em contrapartida seu retrato se putrefa com cada ato impuro que o mesmo realiza. A Historia tem um fim trágico porem inesperado, um conto divertido, mas leve,simples de ser lido. O Retrato de Dorian Gray é uma adição valiosa pra biblioteca de qualquer leitor, mas que não prende ou se faz desejar como muitos livros atuais fazem, a história é de uma simplicidade que faz com que o leitor não se desespere por mais e ao mesmo tempo se apaixone pelas questões demonstradas no livro.

Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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