Categories:

Com humor fino e inteligente, O Projeto Rosie conta a história do professor de genética Don Tillman, segundo o jornal The Guardian, um personagem para entrar para a história da literatura. Na busca pela esposa perfeita, ele vai precisar de muito mais do que o questionário que desenvolveu para selecionar candidatas. E quando Rosie Jarman surge – um exemplar totalmente inadequado de parceira –, o imprevisto, o impulso e a emoção passam a ser as novas regras. O livro de estreia do australiano Graeme Simsion teve os direitos vendidos para mais de 30 países, e vai se tornar filme, com produção da Sony Pictures.

Normalmente não gosto de pegar um livro e me achar nele. Aquele famoso “me sinto representado aqui” não é uma coisa que me agrade muito, parece que estão jogando você mesmo na sua cara e eu mesmo já faço isso, não preciso de uma terceira via. Mas Don Tillman é daqueles que abre uma exceção.

O Projeto Esposa nasce quando Don, um professor de genética metódico ao extremo, com horários regrados para que haja o menor desperdício de tempo possível e completamente incapacitado socialmente, percebe seus quarenta anos chegando e ainda não tem sequer uma namorada. Focado em mudar isso, ele cria um questionário enorme com exigências ultra especificas, como: nunca chegar com antecedência ou com atraso, sempre pontual, nada de maquiagem exagerada e, mais importante, nunca fumar; tudo isso a fim de restringir o número de mulheres em potencial até encontrar a pessoa ideal. Mas a chegada de Rosie (<3), o completo oposto para todas as questões da lista, promete virar seu jogo de cabeça para baixo, literalmente.

Don foi o que mais me marcou no livro. Toda a sua neura e regragem com relação a sua rotina e o seu modo particular de fazer as coisas me remeteu muito a mim mesmo. Gosto de rotina e gosto de saber o que vem pela frente, surpresas me tiram completamente do sério, e isso me pôs o mais próximo que eu estive de um personagem há muito tempo. Vejo-me em muitas situações que o Don passou e que pode vir a passar, pois ele é um personagem que não fenece após a última linha, ele ganha vida própria e continua seguindo após o fim do livro.

É muito interessante o modo como Graeme Simsion tratou da “esquisitice” de Don. Em nenhum momento isso é especificado, mas Don sofre da síndrome de Asperger: doença em que a pessoa não tem controle sob suas emoções, sendo assim ela tem grande dificuldade de interagir social e afetivamente, diz o que lhe vem à mente e não tem consciência de que pode magoar alguém com seu modo de interpretar a vida. A doença tem uma pequena ligação com Autismo. Em vários momentos do livro o próprio Don fala sobre essa síndrome e chega até a fazer uma palestra sobre isso a pedido de um amigo, onde ele mesmo diz que a grande maioria dos adultos portadores de Asperger não possui conhecimento disso. Ou seja, o livro inteiro te dá indícios de que ele possui a doença, mas não toca no assunto diretamente, o que caiu super bem para o modo despojado que o autor decidiu por contar a história.

Mas tive uns leves probleminhas. Don tem um casal de amigos, Gene e Claudia, ambos psicólogos, que possuem um casamento “aberto”, mas o tempo inteiro percebemos em pequenos gestos o quanto ela não se sente mais à vontade com essa situação, ainda mais com a pompa excessiva que Gene fala sobre seu projeto de sair com o maior de número de mulheres de nacionalidades diferentes. Ambos são personagens que ajudaram tanto no desenvolvimento de Don e que também eram tão interessante sozinhos que me deixaram esperando um desenvolvimento maior sobre isso, mas ele nunca veio. Outro caso foi com o Projeto Pai, onde Don decide ajudar Rosie a achar seu pai verdadeiro após descobrir que ela perdeu a mãe quando muito nova e lhe foi revelado que o homem que ela achava ser seu pai era na verdade seu padrasto, o que também acarretou em uma relação bem distante entre os dois. A premissa começa interessante e o desenvolvimento é muito engraçado: Don e Rosie vão de um canto a outro catando amostras de DNA de vários possíveis pais, resultando em situações hilárias, mas chega um momento em que muitas informações se embolam e, a meu ver, no fim não deu em nada muito relevante.

É uma leitura bem rápida e divertida, mas sem deixar de ter uma profundidade bem acentuada e marcante, exatamente o que eu precisava após uma leitura extensa e desgastante tal qual o livro que li anteriormente. A melhor parte é que eu já estou com a continuação, O Efeito Rosie, em mãos, logo não tenho que sofrer esperando por mais Don Tillman, que nunca é demais.

Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

No responses yet

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *