“Danny Torrance não é um menino comum. É capaz de ouvir pensamentos e transportar-se no tempo. Danny é iluminado. Será uma maldição ou uma bênção? A resposta pode estar guardada na imponência assustadora do hotel Overlook.
Em O Iluminado, quando Jack Torrance consegue o emprego de zelador no velho hotel, todos os problemas da família parecem estar solucionados. Não mais o desemprego e as noites de bebedeiras. Não mais o sofrimento da esposa, Wendy. Tranquilidade e ar puro para o pequeno Danny livrar-se das convulsões que assustam a família.
Só que o Overlook não é um hotel comum. O tempo esqueceu-se de enterrar velhos ódios e de cicatrizar antigas feridas, e espíritos malignos ainda residem nos corredores. O hotel é uma chaga aberta de ressentimento e desejo de vingança. É uma sentença de morte. E somente os poderes de Danny podem fazer frente à disseminação do mal.”
“O Iluminado” é, junto com “A Dança da Morte” e “A Torre Negra”, considerado o magnum opus de Stephen King. Se ele já havia angariado alguns fãs com seus primeiros dois livros (“Carrie, a Estranha” e “A Hora do Vampiro”), foi somente com “O Iluminado” que King se fixou com o maior autor de terror moderno dos EUA, e por que não do mundo?
Isto muito se deve à sua lírica única: você muitas vezes deve te ouvido que King jamais escreve livros sobre monstros, e sim sobre as pessoas diante dos monstros. O terror de sustos bobinhos e personagens leves, feitos com o único propósito de serem vítimas em potencial, nunca interessou a escrita de King. Seus personagens são sempre profundos e perturbados; sempre diante de um problema que questiona a humanidade como um todo. O sobrenatural em seus livros não passa de um belo recheio, um mero artifício para levar o personagem ao seu extremo e leva-lo a fazer coisas cruéis, inaceitáveis. King faz essas coisas parecerem justas! King nos envolve tanto com seus personagens que sentimos seus problemas! Suas lutas! Tudo o que estão passando naquele momento, chegando até mesmo a nos fazer pensar de uma maneira fria, calculista – a maneira necessária para o personagem sobreviver a seu problema.
King é, realmente, um autor genial. Ele não só cria uma atmosfera tensa, que nos deixa à flor da pele, como também nos faz sentir o mesmo medo que o próprio personagem está sentindo; nos faz passar pelos mesmos pensamentos, pelas mesmas questões. Chega ao ponto que nós pensamos de maneira exatamente igual ao personagem, tamanha é a habilidade de King em nos envolver. É quase impossível não se perturbar com um livro de Stephen King – seja um grande clássico de terror como “O Iluminado”, um grande épico político como “Dança da Morte”, um drama humanitário e filosófico como as histórias de “As Quatro Estações” ou uma fantasia/ ficção científica como “A Torre Negra” ou “Olhos de Dragão”. King é, acima de tudo, um autor humano.
“Este lugar desumano cria monstros humanos.”
O grande às de “O Iluminado” está em todos esses fatores acima citados. O livro, com pouco mais de 300 páginas, não é pura e simplesmente a história de um hotel assombrado, como muitos pensam. Muito pelo contrário. “O Iluminado” é, provavelmente, um dos livros mais emocionais e pessoais de Stephen King.
O livro lida, em primeira instância, com a questão de uma família dividida. Jack Torrence é um alcoólatra. Sua mulher, Wendy, é a típica dona de casa americana. Seu filho, Danny, de 4 anos, é um garoto problemático que vê coisas. A família está ficando sem dinheiro. Jack não pode seguir seu sonho de ser escritor, pois precisa arranjar algum emprego que vá manter a família por mais um rigoroso inverno. Ele está sóbrio há alguns meses, desde que quebrou o braço do filho num ataque de fúria. Sua mulher prometeu estar ao seu lado. Seu filho o ama. A família, aos poucos, parece se reconstruir.
Mas, dessa questão familiar, partem inúmeras outras subtramas que vão caracterizando os personagens: a família Torrence não é tão perfeita quanto tenta ser. Jack está decaindo novamente, não consegue aceitar a pressão nem ver seus sonhos morrendo aos poucos. Wendy é uma mulher maníaca por controle que não consegue aceitar o fato de seu filho amar mais o pai do que ela. Cada um tem sua própria subversão, sua própria falha – ainda assim, eles tentam sufocar seus próprios anseios e fingir que são seres humanos perfeitos. E para quê? Para manter a família unida. Por que o amor que sentem é muito maior do que seus desejos. Cada personagem é um absoluto nojo, uma pessoa horrível e egoísta – mas nós nos apaixonamos por eles, pelo simples fato de sentirmos a confusão que eles sentem. Esse é o poder da escrita e da poesia de King: fazer com que vejamos nesses personagens complexados os problemas existenciais e morais que nós mesmos carregamos.
Tudo muda quando chegam ao Hotel Overlook – onde Jack arranja um emprego de zelador para todo o inverno, ou seja: terá de passar toda a estação lá sozinho com a família, pois o Hotel não recebe clientes no inverno, já que neva muito e é impossível descer ou subir a estrada de acesso. Eles pensaram que este seria o recomeço – Jack escreveria seu livro, a família se aproximaria novamente… mas o Hotel Overlook traz o pior das pessoas. Os cantos mais sombrios da humanidade.
O livro discute muito essa questão: quem você é, e quem você quer ser. O seu desejo de mudar, e mesmo se mudar é possível. Se a sua escuridão é maior do que seus motivos para querer superar as próprias limitações. A perda da inocência também é um tema recorrente, visto que os fantasmas do Hotel são cheios de luxúria. Danny, um garoto de apenas 4 anos, tem de encarar cenas de orgias perturbadoras, e mesmo ameaças sexuais. Nunca irei esquecer de uma cena em que Danny encontra um fantasma vestido de cão, parado de quatro no chão de um corredor. O fantasma disse claramente, sem espaço para deixar nenhuma dúvida quanto a suas intenções: “Eu vou comer esse seu piruzinho roliço”. Como se aquilo não passasse de um feitiche divertidíssimo para ele.
“O Iluminado” é uma obra cheia de cenas chocantes e aterrorizantes como esta. O terror desse livro não precisa de grandes cenas sangrentas – apesar de haver uma bela quantidade de tripas sendo espalhadas por algumas páginas –, mas somente de psicologia. King nos atinge onde somos mais fracos. Viramos página por página, absolutamente perturbados, principalmente por que estamos profundamente envolvidos com cada personagem; por que nós sabemos que eles são humanos.
Este é um livro, acima de tudo, humano. Um livro em que vemos os extremos da humanidade, opostos, em conflito. O bem e o mal absolutos, frente à frente. Não é um livro confortável de se ler. Muitas vezes, chega a ser desagradável, pois estamos enojados, chocados com cada acontecimento – nem precisa ser sangrento, um “Jogos Mortais” da vida, basta fazer com que pensemos na vida de um outro jeito, com que saiamos de nossa zona de conforto. É isso o que “O Iluminado” propõe: uma reflexão profunda sobre as várias coisas que acontecem em nosso dia a dia. Será que valem a pena? Será que, no fundo, no fundo, nós somos maus? Será que se não fosse pela pressão que a sociedade impõe para que sigamos uma linha certinha e comportadinha, nós seríamos verdadeiros animais? Será que, se não fosse pelo amor que nos une, nós seríamos humanos?
“O Iluminado” é um dos meus livros preferidos de todos os tempos. Recomendo a todos que não só procuram uma boa e substancial leitura, mas também àqueles que adoram filosofias de vida e mesmo um terror marcante.
PS: No início do texto, falei que “O Iluminado” é provavelmente a obra mais pessoal de King. Imaginem Stephen King, um recém-casado pobretão, viciado em bebidas, que tem um sonho de ser escritor, mas se sente desmotivado pela vida e pelo próprio texto, chegando até mesmo a quase desistir de publicar “Carrie”, seu primeiro livro, e jogá-lo todo no lixo! Lembraram-se de alguma coisa? Pois é. É difícil não conectar “O Iluminado” diretamente com as experiências de vida de King, à exceção da parte dos fantasmas, claro. Provavelmente, é por isso que este é um livro tão bom: por que o autor já esteve no lugar dos personagens, já pôs sua humanidade à prova, já viu sua família decair. É isso o que torna a narração ainda mais emocional, mais chocante e mais magistral do que o habitual das obras de King.
PS2: Percebam que, durante todo o texto, procurei não falar sobre o filme de Stanley Kubrick, baseado no livro. Fiz isso por que não pretendia falar sobre qualquer coisa além da obra original, e por que não queria criar uma polêmica desnecessária com os cinéfilos de plantão. Sim, eu odeio esse filme. Sim, eu tenho meus motivos, que não vou dissertar aqui justamente para não criar uma discussão desnecessária. Sim, eu sei que este filme revolucionou o cinema moderno, é considerado o melhor filme de terror de todos os tempos e blá blá blá, mas, honestamente, não vejo por que isso deveria interferir na visão de ninguém. Eu tenho a minha visão de cinema, e você provavelmente tem a sua. Não é por que eu odeio profundamente “O Iluminado” de Stanley Kubrick que eu sou um “ignorante”, um “pseudocult”, alguém que “não sabe nada de cinema” ou um “alienado por filmezinhos de Hollywood” (até por que, se vocês pensarem bem, “O Iluminado” é sim uma superprodução Hollywoodiana de 1980). Sim, já tive que ouvir tudo isso. Realmente é tão difícil de aceitar que alguém não faz parte desse culto quase religioso a esse filme? Afinal, até hoje eu me pergunto como Stanley Kubrick, a mesma mente genial por trás de filmes como “Lolita” e o magnífico “2001 – Uma Odisséia No Espaço”, conseguiu fazer um filme tão ruim, vazio e egocêntrico como “O Iluminado”.
9 Responses
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livro….mas vc já leu o livro reverso escrito pelo autor Darlei… se trata de
um livro arrebatador…ele coloca em cheque os maiores dogmas religiosos de
todos os tempos…..e ainda inverte de forma brutal as teorias cientificas
usando dilemas fantásticos; Além de revelar verdades sobre Jesus jamais
mencionados na história…..acesse o link da livraria cultura e digite
reverso…a capa do livro é linda
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?
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