Que filme foda.
Desculpem as palavras de baixo calão, desculpem se eu deveria ter mais cuidado com o que eu digo, desculpem se estas palavras feias ofendem alguém. Mas que filme foda pra caralho.
Esperei por este filme desde o primeiro trailer, que saiu no final de 2012. Esperei ansiosamente a cada notícia. Esperei com as expectativas lá em cima, pois sabia que com a equipe envolvida (e não, não estou falando de Christopher Nolan), o filme tinha potencial de ser um dos melhores da temporada. E conseguiu. Conseguiu superar todas as minhas expectativas. Conseguiu ser um espetáculo visual cheio de ação, e ao mesmo tempo um drama sensível e emocionante, de deixar qualquer um com os olhos marejados.
Antes de eu continuar, gostaria de dizer algumas coisinhas sobre o Superman. Sim, estou ciente do fato de que nem todo mundo gosta dele, de que nem todo mundo gosta de seu senso de moral, e suas características infantis, etc. Mas, a ideia que vocês tem do que o Superman é, é uma ideia errada. Esse Superman fofinho é coisa dos filmes de 1979. São ótimos filmes? Sim, mas o Superman é muito mais complexo do que aquilo. Não pensem, por favor, que o Superman que vocês viram na “Liga da Justiça” do Bom Dia e Companhia é o Superman inteligente, devastador e filosófico dos quadrinhos.
Pois bem, dito isso, quero dizer que: “O Homem de Aço” traz à tona o lado mais bonito, emocional, melancólico, nostálgico, filosófico, tristonho, enfim, o melhor lado do Superman. O filme passa seus primeiros momentos mostrando os últimos dias de Krypton, o planeta de Kal-El – cenas intensas e belas. A partir daí, vemos a jornada de Clark Kent, mostrando desde quando ele tentava esconder seus poderes do mundo e fugir de seu destino, até o momento em que ele se torna, enfim, o Homem de Aço. Paralelo a isso, temos flashbacks incríveis de sua infância, mostrando cenas belíssimas, tristes e tocantes.
As batalhas do filme deixariam “Os Vingadores” com inveja. São mais de 40 minutos de um espetáculo visual e emocional. É incrível como esse filme conseguiu transformar até a destruição em algo lindo e comovente – mas, acima de tudo, desesperador. Esse é um sentimento constante do filme: o desespero de ser um deslocado, de saber que a humanidade está em suas mãos, e saber que tudo depende de um só homem. Adorei isso: o Superman deste filme deixou de ser um símbolo americano para se tornar o defensor do planeta inteiro.
Sem spoilers, posso dizer o seguinte: este filme vai te emocionar, te encantar e explodir sua mente. Henry Cavill faz a atuação da sua vida como Clark, conseguindo emocionar e destruir, dependendo do momento – assim como Diane Lane, Kevin Costner, Russel Crowe e praticamente todo o elenco. O Superman é completamente reinventado para as audiências modernas, mas sem perder o que fê-lo ser tão encantador por mais de 75 anos. Inclusive, é fantástica a maneira como o senso de moral do Super foi tratada, principalmente nas últimas cenas, que são surpreendentes e tristes na mesma medida. E as cenas de ação – particularmente o clímax – deixarão claro o por que de Kal-El ser o super herói mais venerado, querido e poderoso de todos os tempos. Você, que não gosta de Superman: vai por mim, não há motivos para não gostar dele aqui. Neste filme, você finalmente entende o por que dele ser tão “certinho” (certinho coisa nenhuma, como dá pra ver logo em suas primeiras cenas no filme). Você entende o tamanho da dor e do dilema que Clark Kent carrega. E ainda consegue sentir coisas incríveis com cenas de poder incrível. É realmente estarrecedor. Tem uma cena, próxima ao final do filme, em que Clark volta para casa, já no uniforme de Superman, e abraça sua mãe, que está recolhendo as fotos da família em meio aos destroços. É algo lindo, simples, tocante: ver um homem tão forte e tão poderoso amar tanto sua família; ver o contraste de seu poder com sua humanidade.
Outra coisa: se você está esperando que o filme seja parecido com o “Batman” de Christopher Nolan, esqueça. Para falar a verdade, o filme está mais para o “Star Trek” de J. J. Abrams (principalmente pelo tom de homenagem) do que para o “Batman” de Nolan. Sim, o Nolan produziu “Homem de Aço” e escreveu o roteiro, mas foi só isso também.
O roteiro de Nolan, na verdade, foi 80% modificado pelo diretor – Zack Snyder. Esse homem sim é a mente por trás de “Homem de Aço”. Foi ele quem trouxe essas cenas geniais e emocionais. Foi ele que decidiu elevar o Superman a um nível épico e humano. Nolan quase não tem nada a ver com o filme (e foi melhor assim, por que o roteiro original de Nolan era bem ruinzinho e clichê). De fato, “Homem de Aço” não tem nada a ver com a trilogia “Batman”: “Batman” é sombrio e até meio distópico, enquanto “Homem de Aço” é um drama filosófico. A única semelhança, talvez, seja o realismo, mas até o realismo de “Homem de Aço” é diferente do de “Batman” – e isso é uma das vitórias do filme, o fato dele ser uma grande novidade: é difícil ver um drama tão honesto mesclado com um blockbuster tão bom.
Finalizando, eu gostaria de pedir que você, que ainda não viu o filme, ficasse atento ao simbolismo do filme – não só as questões existencialistas e a reflexão, como também as referências à religião cristã. Em determinada cena do filme, Clark diz que tem 33 anos – mesma idade em que Jesus se sacrificou na cruz. Durante todo o filme, de fato, é dito que Jor-El, seu pai, enviou Clark à Terra com a missão de levar os seres humanos a conquistar maravilhas… a missão de Jesus era parecida. E há uma cena em que o Super inclusive se deixa cair em pleno espaço sideral com os braços abertos – formando uma cruz. Ah, e fiquem atentos também às referências ao Universo DC: há símbolos da LexCorp e até mesmo da Wayne Corporation espalhados pelo filme, o que pode sugerir que logo teremos vários heróis juntos no cinema (o que já foi confirmado: o filme “Homem de Aço 2” vai estrear ano que vem, podendo ou não ter um novo Batman em seu elenco, e “Liga da Justiça” está confirmado para 2015, ambos os filmes sob direção de Zack Snyder). Outra coisa a que o expectador deve estar atento é o sol, uma das figuras mais simbólicas da história, mencionada diversas vezes. Inclusive, há uma cena em que Superman, logo após uma batalha que esgota suas forças, olha para o sol e aponta para ele como se pudesse pegá-lo – pois, segundo Jor-El, essa é sua missão: “Você dará às pessoas um ideal para lutar. Eles correrão atrás de ti, vão tropeçar e vão cair. Mas com o tempo, eles se unirão a você junto ao sol”.
Sinceramente, peço que vocês vejam o filme de coração aberto. Não é um filme perfeito, não estou dizendo isso: existem várias falhas, sim. Mas que é um filme intenso, belíssimo e terno, é sim. Faz muito tempo que eu não vejo um filme tão bom. Obrigado, Zack Snyder, por ter feito de “O Homem de Aço” o filme mais foda, bonito e comovente da temporada.
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[…] O Homem de Aço (Man Of Steel, de Zack Snyder, EUA, Ação, 2013) Star Trek – Além da Escuridão (Star Trek – Into Darkness, de J. J. Abrams, EUA, Ficção Científica, 2013) Os Suspeitos (Prisioners, de Denis Villeneuve, EUA, Suspense, 2013) Django Livre (Django Unchained, de Quentin Tarantino, EUA, Faroeste, 2012) Spring Breakers – Garotas Perigosas (Spring Breakers, de Harmony Korine, EUA, Dramédia, 2013) Pietá (Pieta, de Ki-duk Kim, Coréia do Sul, Drama, 2012) A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty, de Kathryn Bigelow, EUA, Suspense, 2012) A Caça (Jagten, de Thomas Vinterberg, Dinamarca, Drama, 2012) Ginger & Rosa (de Sally Potter, Reino Unido, Drama, 2013) […]