Mais conhecido por suas inúmeras adaptações, em especial o musical de Andrew Lloyd Webber, “O Fantasma da Ópera” é um clássico moderno e um marco para a literatura mundial. Conta a história de Erik, o epônimo Fantasma, um misterioso ser que vive no subsolo da Ópera de Paris. O Fantasma aterroriza os proprietários da Ópera, enquanto se dedica a ajudar sua amada, Christine Daaé, a alcançar o estrelato como cantora. Porém, uma figura do passado de Christine, Raoul, chega para questionar os sentimentos da cantora pelo Fantasma, despertando a ira de Erik e trazendo consequências a todos.
Lembrado pela história intensa e romântica de suas adaptações, muitas vezes se é esquecido do tom irônico e sarcástico que predomina em “O Fantasma da Ópera”. “O Fantasma” é, acima de tudo, uma sátira dos valores românticos na sociedade francesa da época, valores estes que predominam até hoje. Afinal, o amor é um sentimento verdadeiro ou vive somente de aparências? Christine se apaixona à primeira vista pelo Fantasma, seu “anjo da música”, que a treina e a ajuda a conseguir o tão sonhado papel principal na Ópera. Mas, ao descobrir sua real face, a deformação que Erik esconde sob a máscara, fica aterrorizada e esquece de todas as bondades do Fantasma para correr aos braços de Raoul – um homem muito mais bonito, disposto a salvá-la das garras do monstro.
“O Fantasma da Ópera” é ácido em sua mensagem, criticando os clichês da literatura romântica que muitas vezes são transpostos para a vida real. Christine é a típica mocinha em perigo, enquanto Raoul é um cavalheiro muito honrado. O Fantasma – sem dúvidas o mais humano dos personagens – é sempre julgado e deixado de lado por sua aparência deformada, tornando-se um vilão aos olhos dos protagonistas, mas não dos leitores. A narração de Gaston Leroux, feita de maneira jornalística, de modo a quase parecer que o Fantasma realmente existiu, é sempre muito irônica, ressaltando o tom satírico da obra.
A única falha de “O Fantasma da Ópera” fica por conta de seu ritmo inconstante, especialmente na segunda metade, cujas quase 150 páginas são usadas para cobrir eventos que ocorrem em poucas horas, tornando a leitura um pouco lenta e até mesmo arrastada. Mas mesmo isto não atrapalha o sucesso de sua mensagem. Sofisticado, cheio de suspense e até mesmo engraçado, “O Fantasma da Ópera” é um dos raros livros que conseguem ao mesmo tempo entreter e fazer o leitor pensar, e merece seu posto como clássico.
Nota: 8,5
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