Um clássico da literatura inglesa, “Mrs. Dalloway” é provavelmente o livro mais famoso da aclamada escritora Virginia Woolf. Seja pela sua crítica afiada aos costumes sociais ingleses ou pelo seu estilo narrativo revolucionário, “Mrs. Dalloway” é até hoje uma das obras mais desafiadoras para leitores do mundo todo, principalmente pelo seu desenrolar que está longe de ser simples. Objeto de várias críticas na época em que foi publicado, é inegável que hoje seja uma peça essencial para a literatura mundial. Seja como for, com “Dalloway”, Virginia Woolf renovou a literatura inglesa e deixou uma marca obrigatória para todo leitor.
O livro se propõe a uma tarefa muito simples: contar o dia da senhora Dalloway, uma típica dona de casa rica dos anos 1920 enquanto ela prepara uma festa que dará à noite. Entretanto, a simplicidade para aí. A partir de situações rotineiras, como sair para comprar flores ou costurar um vestido, Dalloway reencontra amigos do passado e recorda sua juventude numa série de inúmeros flashbacks que acabam se misturando à narrativa, de modo que é difícil dizer se o que estamos lendo é passado ou presente. Ao mesmo tempo, vemos outros acontecimentos de vizinhos e conhecidos do casal, como a depressão de um esquizofrênico suicida ou a visita de um homem fracassado e pobretão.
“Mrs. Dalloway” é tão complexo principalmente pelo seu estilo único, chamado de “fluxo de consciência”: basicamente, se trata de um estilo em que o leitor é levado a mergulhar nos pensamentos do personagem. As ações dele, como atravessar uma rua ou abrir uma porta, são menos importantes do que o que ele está pensando no momento. E estes pensamentos geralmente são questionamentos sobre situações do dia, filosofias e até mesmo lembranças, de maneira que a narrativa se constrói não-linearmente, isto é, sem uma “linha temporal” fixa, podendo ir para o passado ou para o presente e até mesmo para o futuro quando bem entender. Um exemplo bem claro disso é que, em “Mrs. Dalloway”, a personagem título sai para comprar flores e só chega na loja quase 20 páginas depois; todo esse tempo, ela estava andando na rua, mas nós estávamos acompanhando suas memórias enquanto ela lembrava de um verão de sua juventude, com sua melhor amiga e sua paixão de então.
Cansativo? Para alguns, sim. Para outros, será uma viagem introspectiva levantando questões sobre identidade, valores sociais e existencialismo. “Mrs. Dalloway” pode ser um livro sobre uma mulher rica que se lembra da época em que era apenas uma garotinha confusa, mas também pode ser uma viagem dentro do próprio ser humano, mostrando as várias facetas de um personagem – e por que não nossas várias facetas? Vergonha, arrependimento, manipulação e alienação: a fórmula do processo de envelhecer à mercê das expectativas de uma sociedade hipócrita está aqui. “Mrs. Dalloway” crítica veementemente os valores e a superficialidade da alta sociedade inglesa, ao mesmo tempo que mostra como os sonhos de uma juventude imensa e ambiciosa são destruídos diante da vida adulta.
“Mrs. Dalloway” pode ter apenas pouco mais que 200 páginas, mas é uma viagem fascinante pelo ser humano. Visceral e modernista, o livro encanta com suas mensagens e críticas ao narcisismo e à mesmice da sociedade, e até mesmo explora em menor escala temas como a sanidade mental, o feminismo e a homossexualidade – uma mistura de polêmicas em afloramento na sociedade entre-guerras em 1920. “Dalloway” pode entediar o leitor que procura um livro mais convencional e comercial, mas, para aquele que deseja encarar uma análise ácida sobre o que é ser humano, o livro de Virginia Woolf – uma grande entendedora de dores existencialistas – será arrebatador.
4 Responses
Tracey Hi Ricardo: I do love a good stream of csincnouosess\’ tale, it can be very easy to read but also very intense as it\’s like spending time drifting amongst someone else\’s thought processes. If you get the chance you should give The Princess Bride book a read as it is very similar in wit and style to the movie there are just a few other bonuses It must be one of the most often quoted movies
Estou lendo este livro. O estilo de Virgínia Wolf me lembra o da Clarice Lispector, aquele dialogo interior, meio desconectado da realidade exterior, um olhar para dentro do personagem e seus conflitos, seus sonhos, suas forças e fraquezas.
enquanto estava lendo a resenha tive essa mesma impressão. Pensei em Clarice Lispector.
Gostaria de saber quem é o autor da resenha? A análise feita com o fluxo de consciência é realmente algo que tenho me deparado na leitura do livro e em aulas a respeito.