Eu gosto de manter o mínimo de respeito ao fazer uma crítica a algum filme, mesmo que negativa. Mesmo sendo irônico às vezes, eu sigo a regra de sempre considerar que toda uma produção ocorreu para que tivéssemos aquele resultado final.
Mas, com paródias, a coisa fica um pouco diferente. Talvez por que paródias não devam ser consideradas como um filme. Convencionalmente, um filme tem uma história, uma linha lógica, personagens e sentido. Mesmo os filmes mais experimentais e nada a ver têm o mínimo de coesão. As paródias, entretanto, são somente um amontoado de esquetes vulgares e sem sentido que acham que são muito mais engraçadas do que realmente são. E devemos isso, principalmente, aos gênios Jason Friedberg e Aaron Seltzer. Em 2000, eles foram responsáveis pelo roteiro do primeiro “Todo Mundo Em Pânico”, que foi tão engraçado justamente por ser politicamente incorreto e seguir uma fórmula diferente.
De lá para cá, a dupla foi responsável por mais cinco paródias: “Uma Comédia Nada Romântica”, “Deu A Louca Em Hollywood”, “Espartalhões”, “Super Herois: A Liga da Injustiça” e “Os Vampiros Que Se Mordam”. Não cheguei a assistir à primeira nem à última, mas todas as outras deixaram de lado os elementos que fizeram “Todo Mundo Em Pânico” ser tão diferente e investiram incansavelmente na mesma fórmula de vulgaridades, piadas cansativas e sem graça, atores desconhecidos e sem talento, e roteiro que tira um pouco da nossa fé na inteligência da humanidade. “Deu A Louca Em Hollywood” é um desfile de nojeiras e asneiras; “Espartalhões” passa 90 minutos fazendo as mesmas duas piadas (a sexualidade dúbia dos espartanos e pessoas caindo pelo buraco de Esparta), que já não tinham graça para início de conversa; e “Liga da Injustiça” é um dos filmes mais terríveis, nojentos, subversivos, vulgares, incompreensíveis, repugnantes, revoltantes, odiosos, execráveis, detestáveis, abomináveis, nefastos e depravados que eu já vi. Uma vez, um vlogger fez uma crítica curta e direta sobre o filme, com apenas duas palavras: “Fuck you”. E não acho que poderia ter sido mais conciso.
Com “Jogos Famintos”, novo filme de Friedberg e Seltzer, não é diferente. O filme surpreende por não ser tão ruim quanto os anteriores (para falar a verdade, pode ser o melhor da dupla, o que não é difícil de se fazer). Isso se deve, principalmente, ao carisma de Maiara Walsh, que interpreta a protagonista. Walsh é uma boa atriz, e ser uma boa atriz num filme desses é algo a se considerar. Talvez, sua carreira decole no futuro – mas, para isso, ela vai precisar escolher melhor seus papéis.
“Jogos Famintos” segue a mesma fórmula de sempre: piadas chinfrins em cima de uma trama de sucesso, com um monte de referências a outros filmes de modo jogado e sem conexão – daí o porquê de dizer que uma paródia não é um filme, mas uma sucessão de esquetes. Na brincadeira, entra Harry Potter, Os Vingadores, Sherlock Holmes e até mesmo Gangnam Style, em participações de meio minuto, entrando só para fazer mais piadas sem graça sobre suas respectivas histórias – ou, nesse caso, só para explorarem diferentes formas de morrer. Pois é, se você espera que algum dia alguma paródia venha a ser criativa, sinto avisar, é só mais do mesmo, e do mesmo, e do mesmo, reciclado em uma nova embalagem e com ainda menos graça do que antes.
Não vou negar: existem, sim, determinados momentos que são genuinamente engraçados, como os que o filme satiriza a televisão americana, mostrando “primeiro tempo”, “show do intervalo”, entrevistas do intervalo, coisas assim. Inadvertidamente, esses são os momentos em que se pode dar uma risada verdadeira, por que mostra brevemente uma centelha de bom gosto. É uma pena que o resto do filme seja de um mal gosto extremo. Pode-se esperar piadas sobre fezes (muitas piadas), cuecões, partes do corpo, figuras bizarras e mutilações esquisitas. As mesmas infantilidades e imaturidades de sempre.
Em determinado momento, um personagem chega a dizer: “Eu passo esse vídeo todo ano para vocês por que vocês são burros”. E tenho a impressão de que é exatamente isso o que Jason Friedberg e Aaron Seltzer pensam de nós. “Jogos Famintos” é apenas mais uma paródia que se aventura pelo caminho da idiocracia e resulta em frutos podres. Mas sempre há um lado bom. Aparentemente, o filme foi lançado nos EUA em uma estreia limitada, o que significa que poucos cinemas passarão o filme. Com a possibilidade de lucro reduzida, pode ser que, talvez, com alguma sorte, a dupla se aposente num futuro próximo. E é bom que façam isso, antes que se envergonhem mais e se tornem os piores comediantes de todos os tempos. Do jeito que estão, são apenas os piores comediantes do século.
Nota: 2/10
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6 Responses
Me desculpe em descordar da sua critica, acredito que por um filme ser uma parodia e para ele ser desse jeito “sujo, imundo” que você descreveu mais também e para ser engraçado e uma mistura de alguns filmes. Esse em particular ‘jogos famintos’ deve de ser um filme mediano (considerando que eu ainda não vi) e uma mistura de todos os outros filmes sendo esse bons ou não.
Olá, Isadora. Não duvido da intenção do filme, que se esforça, sim, em ser engraçado. O problema é só que não é. Não vejo graça em piadas de cocô de pombo (sim, há coisas do tipo nesse filme e em vários outros feitos pela dupla). É uma questão de opinião, claro. Todo mundo está livre para ter a própria, a minha está acima. Acho o filme imundo, sim, acho que você descreveu da melhor maneira. Não gosto de paródias, como disse antes, pelo nível a que elas se submetem. Eu, particularmente, não acho graça em nada disso, nenhuma dessas piadas “vulgares”, na falta de uma palavra melhor.
Você não tem gosto, sinto muito ;x
pfné. Goste, pura verdade. Nenhuma paródia nunca chegara aos pés de Todo mundo em pânico.
Esse filme é a coisa mais sem graça que já vi na vida, nem consegui assistir até o final. Já vi os Espartalhões, e esse eu vi até o final. Uma bosta mesmo u.u
[…] há outra explicação para produzir paródias tão repulsivas e revoltantes. “Jogos Famintos”, como disse na minha resenha, é só mais uma produção da dupla, que já foi responsável pelos horrorosos “Deu A Louca Em […]
sinceramente acho que a critica dela foi uma das melhores que já vi, conseguiu descrever direitinho como uma parodia é realmente.