Seja quem você é. Quando as pessoas olham para George, acham que veem um menino. Mas ela sabe que não é um menino. Sabe que é menina. George acha que terá que guardar esse segredo para sempre: ser uma menina presa em um corpo de menino. Até que sua professora anuncia que a turma irá encenar “A teia de Charlotte”, e George quer muito ser Charlotte, a aranha e protagonista da peça. Mas a professora diz que ela nem pode tentar o papel porque… é um menino. Com a ajuda de Kelly, sua melhor amiga, George elabora um plano. E depois que executá-lo todos saberão que ela pode ser Charlotte — e entenderão quem ela é de verdade também.
Preciso começar dizendo que, independente de opiniões, esse é um livro importante. Mesmo com o atual aumento de diversidade presente nos livros, a história de uma criança transexual é importante. E nada nesse mundo pode dizer o contrário.
Presa num corpo que não corresponde sua visão sobre si mesma, George é, por fora, um menino; mas por dentro ela sabe que é uma menina e teme viver por trás de uma mentira pelo resto de sua vida. Quando sua professora anuncia que a turma encenará uma adaptação de “A menina e o porquinho” George decide que precisa interpretar a aranha Charlotte. Mas a professora não permite, pois ela é um menino. Decidida a mudar a opinião fechada de todos à sua volta, principalmente sua mãe, George — junto de sua melhor amiga Kelly — bola um plano para mostrar ao mundo quem ela realmente é: uma menina.
É simplesmente lindo ver a visão de uma criança sobre um assunto que toma seu lugar nos holofotes a passos curtinhos. O livro desenvolve bastante a questão da interpretação de outros sobre uma pessoa. Desde a relação de George com seu irmão que eu não esperava dar em muita coisa, mas que no fim acaba sendo muito bonita, à sua amizade com Kelly, que é definitivamente a melhor pessoa, o livro consegue entreter e passar ensinamentos muito necessários. Sem tentar impor algo cabeça dentro do leitor de forma muito didática, o livro se mantém numa vibe mais fofinha, congratulando mais como George se sente com relação a si mesma e como ela lida com as asneiras que as pessoas ao redor foram condicionas a aceitar do que criando um enredo mais elaborado.
O que também tornou-se um pontinho negativo (mínimo). A história é tão otimista que acaba sendo inocente demais em alguns momentos, com um final até meio forçado??? Apoiando-se num tom mais leve e singelo, falta profundida em George. Entendo os pontos específicos que o autor quis tocar com a história, mas talvez abordar temas mais longínquos como: focar na questão do órgão sexual, que George escolhia simplesmente ignorar, e também em sexualidade — completamente diferente de gênero — com certeza teríamos uma história mais tocante e que poderia alcançar uma faixa etária mais diversificada.
É uma leitura rápida, principalmente pelo livro ser muito curtinho — pouco mais de 100 páginas —, mas carrega mensagens tão profundas em passagens tão sutis que torna-se marcante de alguma forma. Narrado em terceira pessoa, apesar de todos à sua volta tratarem George como o que veem, um menino, durante a escrita é sempre usado o pronome feminino para se referir à ela. Sempre A George. E acho que isso resume muito bem o que o livro quer passar: devemos aceitar que o modo como uma pessoa se vê não deveria afetar o modo os outros a veem. Pois personalidade independe de gênero ou sexualidade, e, sim, do caráter.
No responses yet