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Ark vive no alto das últimas árvores que restam no mundo. E, já que mesmo em um país suspenso como Arborium alguém precisa desentupir os canos, ele tem uma profissão: aprendiz de encanador. É enquanto está ocupado com o vaso sanitário de um político poderoso que o garoto se torna testemunha de algo que vai mudar sua vida. Sem querer, Ark entreouve a conversa de conspiradores que pretendem destruir seu país.

Uma perversa enviada de Maw, o império inimigo, feito de vidro e metal, planeja tomar as ricas árvores de Arborium e transformá-las em matéria-prima, fazendo de seu povo, os pacíficos dendrianos, nada mais que escravos de seu plano maligno.

Flagrado, Ark precisa fugir para não ser morto, e terá de percorrer o gigantesco arvoredo e chegar à sombria Floresta dos Corvos, onde talvez esteja sua única chance de proteger seus amigos e seu lar.

Quando um livro não tem carisma, ele não tem quase nada. Essa é a regra geral para qualquer tipo de literatura, comercial, clássica ou experimental: deve haver algo, mesmo que um detalhe mínimo, que encante e envolva o leitor. Dito isso, já sabemos qual é o maior problema de Floresta dos Corvos, livro de estreia de Andrew Peters no Brasil e o primeiro de uma trilogia: os leitores dificilmente criarão um vínculo com essa história bobinha e batida.

O livro narra a trajetória de Ark, um encanador no país de país de Arborium. Sua terra é dotada de inúmeras maravilhas naturais: é uma ilha feita basicamente de árvores. Cidades, casas, tudo é construído a partir de árvores, em árvores. Um dia, num de seus trabalhos, descobre uma conspiração para matar o rei e roubar todos os recursos da ilha. Uma enviada de Maw, um império de ferro e vidro, deseja dominar Arborium – o último refúgio natural do mundo – e usar suas árvores como matéria-prima para a indústria, escravizando seu povo. Agora, ameaçado de morte, Ark deve impedir os planos dos conspiradores e salvar o rei, bem como descobrir os mistérios por trás das lendas de Arborium – como a amaldiçoada Floresta dos Corvos.

O que me levou a comprar este livro – admito – foi a belíssima capa. A sinopse veio em segundo lugar, uma vez que a história e a mitologia pareciam bastante interessantes e inovadoras, diferentes do que costumamos ver.  A história, que tinha tudo para se desenvolver bem, fica no velho clichê de “uma busca por um lugar estranho, conhecendo curiosas pessoas pelo caminho”, bem infantil e típico de Sessão da Tarde.

Mas o problema não está no clichê, de maneira alguma. Muitos livros são encantadores mesmo com seus clichês e fórmulas batidas. O problema é que Andrew Peters ainda não sabe narrar suas histórias de uma maneira que nos prenda, e decai ao monótono. De suas 300 páginas, poucas são realmente interessantes. Tudo parece muito previsível, e mesmo as cenas de ação parecem paradas por conta da narrativa meio “mecânica” – isto é, sem emoção, se preocupando em simplesmente apresentar cenas, e não em dar profundidade a estas.

É claro que existem alguns twists interessantes; no meio do livro, descobrimos que muitas das lendas de Arborium não são bem o que imaginamos, o que dá um toque científico bastante curioso. E é claro que a construção de uma história diferente numa época em que tantas sagas preferem ir na onda de outros livros de sucesso é sempre bem vinda, mas a narração e a superficialidade de Peters é realmente incômoda. Associe isto a um grupo de personagens chatinhos e sem carisma, e o que você tem é um livro esquecível e pouco marcante que nunca se arrisca. O último ato também deixa a desejar, já que recorre à violência excessiva e sangrenta quando todo o resto do livro fora infantil demais, criando discordância. Essa batalha final também é longa e repetitiva. Ao longo de 50 páginas de ação desorganizada, fica a impressão de que, se diminuíssemos a cena para 15 páginas, ela seria muito mais interessante. Isso vale para o livro todo, também: muitas vezes a história parece dar voltas e não chegar a lugar nenhum, o que, ao longo de 300 páginas, é inadmissivelmente tedioso.

Floresta dos Corvos poderia ser um livro bastante interessante, porém falha em cativar o leitor. É o clássico exemplo de “não se julga o livro pela capa”. Não havendo previsão de lançamento para os próximos livros, é provável que esta história vá cair no esquecimento de uma estante da editora Intrínseca, e eu, particularmente, não sinto vontade de continuar com esta saga.

Nota: 5/10

Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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