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Resumo: Num mundo dividido entre humanos e ciborgues, Cinder é uma cidadã de segunda classe. Com um passado misterioso, esta princesa criada como gata borralheira vive humilhada pela sua madrasta e é considerada culpada pela doença de sua meia-irmã. Mas quando seu caminho se cruza com o do charmoso príncipe Kai, ela acaba se vendo no meio de uma batalha intergaláctica, e de um romance proibido, neste misto de conto de fadas com ficção distópica. Primeiro volume da série Crônicas Lunares, Cinder une elementos clássicos e ação eletrizante, num universo futurístico primorosamente construído.

Personagens: Cinder (personagem principal, uma ciborgue mecânica), Peonny (irmã e melhor amiga de Cinder), Iko (Androide e amiga de Cinder, Adri e Pearl (madrasta e irmã de Cinder), Príncipe Kai (principal e herdeiro do império das nações ocidentais), Rainha Levana (rainha da comunidade lunar)

Pontos positivos: Uma personagem forte e dona de si, embora autodepreciativa e em condições precárias. O livro é altamente bem construído em uma sociedade pós moderna assolada pela peste. Os argumentos da história são de primeira linha, deixando a ficção científica verossímil.

Pontos Negativos: Logo no começo, desvendei um dos “mistérios” da trama. Não sei se pode ter sido por ter o costume de ler livros do gênero ou se esse ponto em questão foi fraco, mas gostei demais do livro e decidi relevar.

Tem alguns livros que parecem que são feitos para pararem em nossas cabeceiras e nos encantarem com a sua leitura. Essa foi a sensação que tive ao, após várias pessoas me indicarem, ler Cinder. Sempre fui muito fã de ficção científica e contos de fada, encontrar os dois funcionando de forma tão agradável foi uma surpresa.

Logo quando peguei o livro, nas primeiras 30 páginas, formei uma opinião forte sobre o livro: além de ficção científica, era uma mistura de Cinderela (um dos contos de fadas mais adaptados e reformulados) com Anastasia (uma fantasia real da realeza e meu desenho de princesas favorito!). Não foi muito difícil amá-lo!

“Algumas teorias conspiratórias diziam que a princesa sobrevivera e ainda vivia em algum lugar, esperando pela hora certa para reinvindicar a coroa e acabar com o reinado tirânico de Levana, mas Cincer sabia que o desespero alimentava tais rumores. Afinal, encontraram traços de carne da criança em meio às cinzas”.

O livro se passa em um mundo 126 anos pós a quarta guerra mundial, na terceira era, na comunidade das nações orientais. Não me recordo de ter lido livros em que os principais eram orientais e foi um bom exercício brigar com meu cérebro para imaginar os personagens fora do tão comum padrão ocidental.

Cinder é uma ciborgue que trabalha como mecânica em um centro comercial de nova Pequim. Ela pertence à família Linh, foi adotada por seu padrasto que morreu de febre azul há anos e Adri Linh é sua tutora agora. Ela e a filha Pearl são bem malvadas com ela, ao contrário de Peonny, sua outra irmã adotiva, que é amigável e preocupada.

“Não conseguia imaginar em que tipo de preparativos poderiam ajudar Pearl, mas não tinham dúvidas de que seriam bolados para torturá-la. Mais uma noite de servidão. Mais uma noite.”

Ela também é amiga de Iko, a androide da família. Ela recebe uma visita inesperada em sua tenda, o príncipe Kai, herdeiro do império das nações ocidentais, aparece pedindo que ela conserte um androide para ele. Logo após, uma confusão acontece no centro comercial: uma comerciante aparece com sintomas da febre azul e toda a área é isolada. Cinder e Iko fogem para Cinder não ser enviada para a quarentena. Encontram com Peonny e vão para um ferro velho buscar peças para a oficina de Cinder.

Peonny aparece com manchas azuis da peste e é enviada para a quarentena. Cinder é testada, mas não está contaminada, embora tenha certeza que deveria ser sua culpa – ela que esteve com alguém contaminado nas últimas horas, aonde mais Peonny poderia ter se contaminado?

Ao voltar para casa, descobre que sua madrasta havia cedido-a para ajudar na descoberta da cura, então Cinder é levada a força para o centro de pesquisas do palácio.

“O dr. Erland uma vez lhe contara sobre uma crença antiga de que coisas ruins sempre vinham em grupos de três.”

A história, deste momento para frente, te devora (não, não é você que devora ao livro, é ele que demanda sua atenção e te devora), envolvendo você em tramas políticas entre a Comunidade das Nações Ocidentais e Luna, com a temível Rainha Levana e seu poder de coordenar massas, o inevitável romance entre Cinder e o charmoso príncipe Kai, que tem milhares de motivos para receber o apelido de encantado, embora não seja utilizado o recurso descarado durante a narrativa.

“De todas as garotas da cidade, ela era… A mais conveniente.

Os argumentos para a criação e desenvolvimento da história são acima da média, mas creio que, talvez, por ser uma releitura ou talvez por, apesar dos elementos inesperados (como uma distopia biopunk espacial), ainda tem sua carinha clichê de releitura, então foi previsível em várias situações (não um previsível entediante, mas aquele que você solta um “sabia” e revira os olhos porque é brega, mas você gostou).

Uma coisa que me chamou muita atenção é a construção da personalidade de Cinder. Temos uma adolescente comum, revoltada com o controle que exercem sobre ela, ciente de sua personalidade e seu poder pessoal, mas com pensamentos autodepreciativos, comuns à idade. Cinder reage com paixão às coisas, com muita garra e demonstra uma inteligência fora do comum, muito verossímil e não muito utilizada em contos de fadas. É forte, mas deixa-se guiar pelas emoções, faz besteiras e também acerta. Ao contrário da Cinderela original, Cinder não é conformada à servidão, ela não aceita e sempre está com algum plano para fugir, responde sua madrasta com frequência e demonstra sua rebeldia no seu dia-a-dia. Os outros personagens também são muito bem construídos: a madrasta e a irmã malvadas não aparecem muito, mas fazem bem seu papel de motivo para dar a rebeldia de Cinder, a androíde Iko, com sua irreverência, o doutor Dmitri Earland, misterioso, mas apaziguador e, claro, o charmoso príncipe Kai.

Também achei interessante Cinder ser mecânica. Cinder, em inglês, é cinzas. No conto original, Cinderela estava sempre coberta de cinzas, sujeira e fuligem. Cinder também está sempre suja, mas de graxa. Apesar da fonte ser diferente, esteticamente falando, as sujeiras são parecidas, então foi uma escolha muito inteligente de narrativa. Há vários recursos na narrativa aonde a autora insere outros elementos do conto original de forma extremamente inteligente e criativa, causando nada mais, nada menos, que surpresa gostosa. O cenário é irreverente, também, foi o primeiro livro que li que se passa na Ásia e é um oriente distópico, ainda, que pareceu ainda mais fascinante. Não encontrei nenhum erro de digitação ou qualquer coisa fora do lugar, a revisão foi impecável e os diálogos dinâmicos me deixaram presa por longas horas, apaixonada pela forma com que a história caminhava.

A capa segue o padrão internacional, não diz muito sobre o que é a história, mas é funcional. A diagramação é simples, mas bonita.

Sem dúvidas, Cinder é a adaptação mais inteligente de um contos de fada que já li e estou ansiosa para ler as continuações.

Nota do Editor: Pra você que é fã da Marissa Meyer, está rolando uma super promoção na nossa página do Facebook sobre o mais novo livro dela “Sem Coração”, dá um pulinho aqui nesse link para saber mais informações.


Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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