Autora: Vanessa Nunes.
A proposta desse projeto já começa de uma forma a mudar o que se pensa sobre literatura. Depois dele, não se pode afirmar, de maneira nenhuma que escritor vive no mundo da lua, que só escreve sobre mundos que não existem e que tem a cabeça nas nuvens.
Cicatrizes tem a proposta de estar perto dos leitores, de trazer à tona um problema de saúde pública com o intuito de dizer a todos que não estão sozinhos e que existem muitas formas de ter ajuda e cuidado.
Lendo cada um dos textos desse projeto percebe-se que há desabafos, há sofrimentos e há também um olhar para o outro que nós da Psicologia chamamos de empatia.
Autoconhecimento, entendimento das dificuldades do outro e o sentimento de ajuda são as coisas que mais encontrei nesses contos. Quando os li, não foi simplesmente uma leitura de seleção. Precisei ser mais profundo que isso e descobrir o que havia por trás desse processo todo de criação da história. Foi necessário me projetar para a dor de quem estava escrevendo e procurar imaginar o que poderia ser mais profundo do que estar naquela situação descrita e como poderia se sentir.
O processo do suicídio, por muitas vezes é muito silencioso e só alarde quando há algo maior acontecendo. Em situações de consultório ou mesmo de pesquisa, podemos encontrar muitos relatos desses processos, mas ter pessoas que se sentem confortáveis em trazer sua essência para esse projeto e ouvir depoimentos de que “foi aliviador poder falar sobre isso dessa forma” ou ainda “trazer essa história fez com que eu me libertasse de algo que me prendia há muito tempo” torna, pelo menos pra mim que pude auxiliar de perto esse processo, o olhar mais aguçado e a percepção pelo outro de uma forma mais significativa.
Só posso agradecer por todo o processo, desde a leitura até a construção e agora a construção do livro físico. Cicatrizes não é só um livro que conta histórias, é um movimento literário que não para só na construção desse compilado gráfico, mas deixa uma marca em nossos corações e nos ajuda a respirar e dizer que não se está sozinho.
Resenha escrita por Erik Gabriel Thomazi.
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