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Não queria ser da realeza.

Não queria ser Um.

Não queria nem tentar.

Nem todas as garotas querem ser princesas. America Singer, por exemplo, tem uma vida perfeitamente razoável, e se pudesse mudar alguma coisa nela desejaria apenas ter um pouquinho mais de dinheiro e poder revelar seu namoro secreto.

Um dia, America topa se inscrever na Seleção só para agradar a Mãe, certa de que não será sorteada para participar da competição em que o príncipe escolherá sua futura esposa. Mas é claro que seu nome aparece na lista das Selecionadas, e depois disso sua vida nunca mais será a mesma…

Seleção é o primeiro livro da Trilogia distópica A Seleção de Kiera Cass. Primeira coisa que você pensa lá vem um livro a lá The Bachelor. OK, de certo modo tem suas similaridades, bem pouca mais tem. Mas começarei do inicio para que a história faça sentido.

Eles vivem em um mundo após a queda dos Estados Unidos e o surgimento do Estado Americano da China que passou a ser chamado de Illéa, se tornando uma monarquia. Este novo país dividiu sua população em oito castas, dos mais ricos aos mais pobres. Sendo que cada uma delas tinha uma especificação, por exemplo: casta cinco é das artes (músicos, pintores, etc etc), a casta seis é de pessoas que ajudam – que trabalham especificamente para servir. A ultima casta era só de mendigos, bandidos, adulteras e etc. É uma estrutura bem rígida.

Nossa protagonista America Singer vivia na casta cinco, sua vida não é as mil maravilhas. Sua família é uma família grande, tem 4 irmãos. Sua irmã mais velha se casou com um membro da casta quatro e seu irmão devido a sua arte conseguiu ser notado e mudou para a casta dois, os outros mais novos vivem junto com ela e seus pais. Uma vida humilde, muitas vezes passam fome, mas dentre as oito castas não fazem parte da pior, seria intermediário.  Sua mobilidade social é bem difícil, só ocorrem através de muito dinheiro ou pelo casamento, apesar de ser um processo bem trabalhoso e caro as jovens que se casam com membros de outras castas se tornam parte das mesmas. Ou pela Seleção.

O que seria a Seleção? É uma tradição de Illéa que o príncipe herdeiro se case com uma plebéia. Então eles criaram um processo seletivo para encontrar 35 candidatas para participar desse “reality show” no palácio e competir pelo coração do Príncipe Maxon. Tá ai, este é o momento The Bachelor, afinal 35 mulheres competindo por um bom partido. Ok, qualquer semelhança pura coincidência. As jovens selecionadas passariam a viver no palácio, ter aulas de etiqueta, história e conhecer todas as coisas boas e ruins que a vida no palácio poderia as proporcionar.

America nunca havia cogitado a possibilidade de participar da Seleção, na realidade ela nem queria isso, pois estava apaixonada por Aspen – seu namorado secreto e membro da casta seis. Quando as inscrições foram abertas foi ele quem a convenceu a participar, já que isso poderia significar uma vida melhor para ela e sua família. Dias antes da revelação do resultado, Aspen terminou seu “namoro” alegando não poder oferecer nada a ela, visto que mal conseguia suprir as necessidades de sua própria família esta que se tornou o provedor após a morte de seu pai.

Como podemos imaginar, America foi uma das selecionadas e resolveu seguir adiante com ideia, afinal isso seria uma válvula de escape, um meio de fugir da sua vida e do seu coração partido.

Ela só precisava estar lá, ficar o máximo que conseguisse para manter sua família em uma boa situação e nem lutar propriamente dito pelo amor do Príncipe. Só que ela não contava que o ele fosse tão gentil, bondoso, preocupado com o povo e que fossem ficar tão próximos. Veja bem, ela até se propôs ajudá-lo na escolha da melhor candidata.

É interessante que a amizade e o sentimento de um pelo outro vai crescendo no decorrer da historia, vemos que ela não consegue esquecer o Aspen, mas ao mesmo tempo ela não se deixa estagnar e se permite conhecer o príncipe. Seria um clássico triangulo amoroso – já que o Aspen arrumou um jeitinho de voltar para a vida dela – se não fossem as outras 34 meninas no palácio. (hahahaha)

Existe um foco bem grande no romance, mas a história não é só isso, podemos ver mais uma vez o conceito romano do “Pão e Circo” sendo aplicado. Uns esbanjam dinheiro e outros morrem de fome como em Jogos Vorazes. Só que na história da Suzanne Collins eles usam os espetáculos sangrentos (para os romanos os gladiadores e para Capital/Distritos os Jogos Vorazes) para apaziguar a insatisfação do povo e criar entretenimento. (Só que em algum momento a insatisfação é tamanha que se torna munição para uma revolução). Já em a seleção o conceito não é ligado à violência, mas usam a competição exatamente com o mesmo objetivo apaziguar a insatisfação do povo criando entretenimento.

Não é a primeira distopia, a meu ver pelo menos, que se alicerça na teoria de dois mundos de Platão. A separação do mundo sensível, das aparências e da ilusão do mundo inteligível, das essenciais imutáveis e da verdade. Porque assim que o Príncipe passa a entender o que ocorre para além dos muros do Palácio, ele vê a verdade de outra maneira.  Esse choque de realidade o fez refletir e criar uma forma mesmo ainda muito experimental de ajudar o seu povo. Já é um começo visto que ele será o próximo Rei.

Com isso você visualiza que é uma monarquia que seu Rei (Pai de Maxon) negasse a enxergar realidade de seu povo, por ser mais cômodo ou o que quer que seja. As classes inferiores passaram a se rebelar – apesar de que gostaria que isso fosse mais bem desenvolvido na historia – mostrando uma sociedade totalmente fragmentada não só pelas castas mais por suas necessidades.  É uma grande critica aqueles que preferem cegar-se ao lidar com situações indesejadas.

Sua trama é bem construída e te envolve não só pelo romance mais pelo cunho político, apesar de sutil.

Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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