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A cada novembro, os cavalos d’água emergem do oceano e galopam na areia sob os penhascos de Thisby. E, a cada novembro, os homens capturam esses cavalos para uma corrida eletrizante e mortal. Alguns cavaleiros sobrevivem. Outros, não. Aos 19 anos, Sean Kendrick já foi quatro vezes campeão. Ele é um jovem de poucas palavras e, se tem medos, guarda-os bem escondidos, onde ninguém possa vê-los. Puck Connolly é uma novata nas Corridas de Escorpião. Ela nunca quis participar da competição, mas o destino não lhe deu muita escolha. Sean e Puck vão competir neste ano, e ambos têm mais a ganhar – ou a perder – do que jamais pensaram. Mas apenas um deles pode vencer.

Esse é um livro muito difícil de avaliar, pois tenho um probleminha muito sério: tendo a forçar a barra para gostar mais de um livro dependendo do autor. Como sou apaixonado pela série dos Garotos Corvos, eu meio que fui de cabeça em A Corrida de Escorpião esperando amar infinitamente, e por um bom tempinho durante a leitura eu enfiava na minha cabeça de que eu estava vendo coisas erradas e que o livro na verdade estava simplesmente maravilhoso demais para eu compreender (basicamente um “olha, você não compreendeu a obra, lê de novo” comigo mesmo), quando na verdade eu realmente não estava gostando, só não queria aceitar.

Todo mês de novembro, os cavalos d’água assassinos emergem das águas de Thisby e são usados pelos moradores da ilha para competirem numa corrida cruel e ardilosa onde a sorte está nas mãos daqueles que sobrevivem: as Corridas de Escorpião. Com 19 anos e já vencedor de quatro corridas, Sean Kendrick é o que se pode chamar de especialista quando o assunto é os perigosos cavalos d’água. Por outro lado, a estreante Puck Connolly, que perdeu seus pais para os temidos cavalos, nunca almejou participar das corridas, porém se vê obrigada a correr devidas sua situação financeira e a partida iminente de seu irmão mais velho. Qualquer opção que não seja vencer a corrida é algo impensável para ambos, mas só um poderá sair vencedor, ou com vida.

Estando mais habituado à escrita da série dos Garotos Corvos, em terceira pessoa, estranhei bastante esse livro logo de cara por ser escrito em primeira. Com alguns autores notam-se logo de cara suas determinadas formas de escrever, mas, nesse caso, levei um tempinho para identificar os toques sutis da escrita da Maggie. Ela tem um estilo bem característico de fazer comentários — às vezes engraçados, em outras mais mordazes e ácidos — em momentos que não se espera, e eu acho que isso, combinado com suas ideias completamente originais são seu ponto de referência.

A Corrida de Escorpião é sim, e não tem como negar, um livro muito original, e provavelmente por sua excêntrica originalidade, vários pontos fantasiosos ficaram no ar sem serem devidamente explicados. Assim como uma tal deusa equina que faz parte dos costumes da corrida sem ser explicada sua história, outros pequenos pontos foram retratados como se também fossem normais para o leitor, o que os fazem parecer meio deslocados na leitura, até vagos, tornando a construção de mundo bem confusa e difícil de acompanhar. A narrativa é muito lenta, contrariando o que está realmente acontecendo: um treinamento perigoso com os cavalos que causam acidentes atrás de acidentes; entretanto é tomado muito tempo com coisas desnecessárias e acaba-se virando uma leitura maçante em diversos pontos do livro.

Com um romance que só começou faltando 100-150 páginas para o fim do livro, quando eu já tinha perdido as esperanças de ver alguma coisa, os protagonistas passam grande parte do livro como estranhos, meio que tendo consciência de suas existências à distância. Sean é super fechadão de um jeito que não acrescenta muito para a história como um todo. Com um pensamento pequeno de só ter suas coisinhas e se contentar por isso mesmo, sinto que ele só ficava cada vez mais para escanteio. Puck teve altos e baixos. Ela tem seus momentos de afrontosinha, dando respostas interessantes para pessoas que duvidam do seu potencial, mas eu não consigo engolir que o motivo principal dela entrar para uma corrida mortal, onde você pode morrer de formas extremamente brutais ser seu irmão, Gabe, querer sair da ilha.

O que mais me irritou, e até conseguiu minar ainda mais outras partes do livro que talvez eu tivesse gostado um pouco mais, foi o relacionamento de Puck com Gabe e a escolha dele de sair da ilha. Grande parte da construção de Puck é tentar entender o verdadeiro porque de Gabe querer deixar a ilha e em alguns momentos ela o confronta querendo saber, mas ele se mantém evasivo o tempo todo, nunca dando um motivo concreto sobre isso. E. Isso. Me. Corroeu. Por. Dentro. É como se eles trocassem as mesmas farpinhas em pequenas doses, sem nunca realmente esclarecem as coisas, para no fim dar em ainda mais nada. Em contrapartida, a relação de Puck com o irmão mais novo, Finn, é um ponto muito fofo da história. Finn é descrito como uma pessoa meio estoica, que luta para demonstrar a menor quantidade de emoções possível, mas aos pouquinhos vemos o quanto ele se importa do jeitinho dele e como a relação dele e Puck se dá nas pequenas ações.

To bem chateado por não ter gostado do livro quanto gostaria, e, mesmo sabendo que isso acontece com livros de qualquer autor, isso é algo que não sai da minha cabeça. Às vezes o carinho com o autor é tão grande que me vejo na urgência de amar tudo que leio; o que nem sempre acontece. Vai deixar uma manchinha imaginária, mas, ainda assim, sigo amando a escrita da Maggie e sua ideias mirabolantes que de vez em quando fazem super sentido.

Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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