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Indicado nas categorias de

Melhor filme
Melhor roteiro original
 Melhor diretor (Alexander Payne)
Melhor fotografia
Melhor ator (Bruce Dern)
Melhor atriz coadjuvante (June Squibb)

Não sou grande conhecedor da carreira do diretor Alexander Payne. O nome me era desconhecido até quando assisti seu filme anterior, “Os Descendentes”, imensamente aclamado pela crítica e indicado a vários Oscar. O resultado, infelizmente, não me empolgou tanto quanto à Academia; o filme, uma dramédia sobre um workaholic que descobre que sua mulher o estava traindo após ela entrar em coma, parecia mais um trabalho de um amador do que de um diretor ovacionado. Em resumo, para poupar tempo: os vários problemas de “Os Descendentes” fizeram o que poderia ser um drama poderoso se transformar num filme raso e coxinha. Portanto, não é difícil imaginar o porquê de eu ter encarado “Nebraska”, o mais novo trabalho de Alexander Payne, com cansaço e desconfiança. E talvez seja por isso que eu tenha me surpreendido em perceber que, até agora, este é o melhor filme de todos os que eu vi para o Oscar deste ano.

“Nebraska” conta a história de Woody Grant, um homem idoso que sofre de problemas mentais. Um dia, Woody recebe uma carta falsa dizendo que ganhou 1 milhão de dólares, e faz questão de retirar o prêmio. Para isso, teria que viajar até o estado de Nebraska. Mesmo com sua família inteira tentando alertá-lo sobre falsidade da carta, seu filho, David, compadecido com a situação do pai, decide levá-lo na viagem, onde encontrarão velhos amigos e inimigos da família.

É impossível não comparar “Nebraska” com “Os Descendentes”. Muitos dos elementos de um estão presentes no outro, mas, felizmente, Alexander Payne evoluiu como diretor e escolheu um roteiro muito melhor, também. A temática é muito parecida com a de “Descendentes”: a partir de um acontecimento inusitado, a “vida secreta” de um personagem (neste caso, Woody) se revela de forma dramática, levando toda sua família disfuncional a passar por uma transformação que os une novamente. Enquanto isso, os vários personagens secundários são responsáveis pelo alívio cômico. Porém, diferentemente de “Os Descendentes”, que tinha dificuldades em se conectar ao espectador, “Nebraska” é um filme honesto e tocante. É uma história encantadora sobre família, mas, principalmente, sobre um pai e seu filho que deixam para trás todas as mágoas do passado e tentam se reaproximar, mesmo contra todas as chances.

Sim, alguns vícios de “Os Descendentes” ainda estão presentes, como, por exemplo, a trilha sonora desnecessária e repetitiva tocando nos piores momentos possíveis. Mas, se essa trilha sonora fazia “Os Descendentes” parecer um drama ineficaz e clichê, pelo menos em “Nebraska” funciona como maneira de adicionar bastante melancolia e sensibilidade ao clima de road movie. Em “Os Descendentes”, a trilha tirava toda a emoção de certas cenas; em “Nebraska”, ela mantém o ritmo doce e dramático na medida certa. O roteiro também melhorou bastante: os momentos dramáticos são intensos e poderosos, conseguindo emocionar com sua simplicidade e minimalismo. Já as cenas cômicas são tão engraçadas que mesmo as mais chatinhas são capazes de arrancar risadas altas. É divertidíssimo ver a visão que Alexander Payne tem sobre a vida do típico cidadão americano de cidade pequena: caseiro, politicamente incorreto, dedicado a coisas simples do cotidiano e ao círculo de amigos e conhecidos particular. Tudo isso feito com leveza e realismo.

Porém, no que tange à questão técnica, o que se destaca é a direção e a fotografia. Não sei se houve um motivo claro para o filme ser rodado em preto-e-branco, se foi para aumentar a sensação de claustrofobia e melancolia, ou se foi somente uma decisão gratuita, mas, seja como for, a fotografia é inegavelmente linda. Mesmo se o filme fosse ruim, valeria a pena vê-lo somente pelo visual estarrecedor. Payne se utiliza disso e de outros fatores para criar um filme calmo, fácil e gostoso de se assistir, mas ao mesmo tempo profundo. Vale também ressaltar as atuações, especialmente a de Bruce Dern, que interpreta brilhantemente seu personagem Woody, com todas as nuances necessárias tanto para fazer rir quanto para emocionar, e June Squibb, que consegue ser odiosa e amável ao mesmo tempo, mas sempre muito engraçada. É muito bom que ambos tenham sido reconhecidos e indicados em suas categorias, mesmo que tenham poucas chances de ganhar este ano.

“Nebraska” é comédia-dramática eficaz e emocionante, um avanço inegável em comparação a “Os Descendentes”. Mesmo que ainda faltem alguns filmes na minha lista, este é, por enquanto, meu favorito na categoria de “Melhor filme”, e será difícil desbancá-lo. Doce e charmoso, “Nebraska” consegue apelar para todos os públicos, sendo acessível mesmo para aqueles que não estão muito interessados num drama melancólico, e tudo isso devido a sua simplicidade. E essa é sua maior vitória.

Nota: 9/10

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Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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