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Um romance sobre dois garotos, dois mundos e um encontro. Ethan é tudo o que Alek gostaria de ser: confiante, livre e irreverente. Apesar de estudarem na mesma escola, os dois garotos pertencem a mundos diferentes. Enquanto Ethan é descolado e tem vários amigos, Alek tem apenas uma, Becky, e convive intensamente com sua família e a comunidade armênia. Mesmo com tantas diferenças, os destinos de Ethan e Alek se cruzam ao precisarem frequentar um mesmo curso de férias. Quando Ethan convence Alek a matar aula e ir a um show de Rufus Wainwright no Central Park, em Nova York, Alek embarca em sua primeira aventura fora de sua existência no subúrbio de Nova Jersey e da proteção de sua família. E ele não consegue acreditar que um cara tão legal quer ser seu amigo. Ou, talvez, mais do que isso. One Man Guy é uma história romântica, comovente e engraçada sobre o que acontece quando as pessoas saem de suas zonas de conforto e ajudam o outro a ver o mundo (e a si mesmo) como nunca viram antes. Só sei que gosto de estar aqui com você e não consigo me imaginar querendo mais ninguém. Isso basta para você? Sobre o autor: Michael Barakiva é diretor de teatro e escritor, tem ascendência armênia e israelita e mora no bairro de Hell s Kitchen, em Manhattan, com o marido, Rafael Ascencio. É formado pela Vassar College e pela Juilliard School. Adora cozinhar e jogos de tabuleiro e se orgulha de ter conquistado o Most Improved Player Award de 2011 pelo New York Ramblers, o primeiro time de futebol para jogadores gays dos Estados Unidos. One Man Guy é seu primeiro livro. www.michaelbarakiva.com

Estive de olho nesse livro já tem um bom tempo, mas acabei deixando-o de lado por não ver tanta gente falando dele. Em decorrência da Maratona Literária de Verão, precisava de um livro LGBT para preencher um desafio e quando olhei para a estante já tinha lidos todos que tinha (porque livro gay a gente não deixa empoeirar não é mesmo?) então corri para ler em e-book. Provavelmente por tê-lo deixado em off por tanto tempo, não esperava algo muito além do básico, mas acabou sendo uma surpresa enorme.

O romance de Alek e Ethan tinha tudo para ser mais um YA clichê de bom moço se apaixona pelo bad boy, mas a abordagem do autor é o diferencial. A relação dos dois baseia-se muito mais em auto-descoberta, encontrar a si mesmo no outro, do que atração por alguém considerado uma má influência. O modo como Alek abraça sua sexualidade ao longo da narrativa traz uma mensagem muito necessária sobre aceitação. Com muito otimismo, mas sem querer dizer que seja fácil para todo mundo, o sentimento dos dois evolui na medida em que eles aprendem mais um sobre o outro, de forma muito simples, mas também muito realista.

Não é bem um PROBLEMA, com letras enormes, mas o único fator que me incomodou durante a leitura foi a família de Alek. Trazendo um background armênio muito interessante — descobertas maravilhosa do tipo: KARDASHIAN É  UM NOME ARMÊNIO — os pais dele falam muito sobre tradições e regras, e chega num certo ponto em que o livro já está bem encaminhado que a pressão que eles exercem sobre Alek e os empecilhos que eles enfiam na história meio que se mostraram um pouco forçados e me faziam revirar os olhos. Mas ao mesmo tempo eles são muito engraçados. O tipo de família que chega num restaurante e perguntam QUAIS MARCAS DE ÁGUA MINERAL ELES SERVEM (!!!). Me lembraram muito os O’Neals, da série The Real O’Neals, que são maravilhosos, logo é um bom sinal.

Mas a pessoa mais maravilhosa e iluminada de todo o livro, desbancando até mesmo Ethan que é um poço de charme enlouquecedor, é a Becky, melhor amiga de Alek. Ela é HILÁRIA. Daquelas loucas por filmes clássicos de Katherine e Audrey Hepburn, ela solta cada pérola que da uma vontade sinistra de rolar no chão. De início achei que ela seria chave para introduzir uma rixa desnecessária na história, pois no comecinho do livro ela beija Alek achando que, em um momento de confissão, ele estaria falando dela e não de Ethan, mas o modo como ela abraça a sexualidade do amigo e mostra-se empolgada por ele é bem reconfortante e da uma vontade desesperadora de tê-la como amiga.

O autor traz uma reflexão muito interessante sobre o que queremos e o que precisamos que me deixou pensando por um bom tempo durante a leitura. Em decorrência da cobrança rígida de seus pais, Alek sente muito como se precisasse atender às suas expectativas e Ethan vem para esmiuçar esse pensamento. Com seu jeito mais despojado de levar a vida, decorrente de um pai mais liberal, Ethan introduz em sua vida a vontade de querer. Pois existem muitos momentos que o querer mostra-se uma realidade alternativa, encontramo-nos presos demais na vontade dos outros para sequer sentirmos vontade da de ter vontade.

Essa é uma sensação muito constante e provavelmente já explodi a cabeça de muita gente falando sobre isso, mas sinto que tudo isso o que falei não faz jus ao que senti com essa leitura. Então como uma última tentativa de convencer alguém (e a mim mesmo), digo: essa é uma leitura MUITO engraçada, com uma visão de mundo muito luminosa e de certa forma acalentadora, que vai te fazer ir dormir na paz sabendo que esses personagens tão cativantes estão bem. E por enquanto isso me basta.

Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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