Quando pensamos em comédias românticas normalmente vem a nossa cabeça aquela boa e velha estrutura com a qual estamos acostumados:
- Existe um casal apaixonado
- Eles descobrem que se amam (depois de muito drama e enrolação)
- Acontece algo que torna impossível os dois ficarem juntos (ou eles ficam juntos algum tempo e acontece algo que separa os dois)
- O conflito que não deixa os dois ficarem justos (ou os separaram) finalmente é resolvido e os dois vivem felizes para sempre.
Essa normalmente é o tipo de história que nós estamos esperando quando assistimos um filme de romance. Acontece que, qualquer pessoa que já se apaixonou na vida sabe que não é bem dessa forma que as coisas acontecem. Não me entendam mal, eu amo os clichês, poderia ficar o dia inteiro comendo brigadeiro enquanto eu assisto Amizade Colorida ou Cartas para Julieta. Mas as vezes as pessoas precisam de um choque de realidade, entendem?
Quando falamos sobre desfazer os paradigmas dos filmes de Comédias Romântica, o primeiro filme que foge da estrutura citada acima e que vem a cabeça de todos é o filme 500 Com Ela, um dos meus filmes favoritos. Porém uma coisa precisa ser dita aqui: ele não é original. Se analisarmos esse filme e compararmos com Anne Hall, de Woody Allen (Assunto dessa matéria) nos perceberemos que não há nada de inovador nesse filme. A quebra da quarta parede, a forma que Summer enxerga o amor, a interação com figurantes, o jeito apaixonado de Tom, entre outros aspectos, é algo que a muito tempo Woody Allen já havia feito.
Falando de uma forma ampla sobre as Comédias Românticas podemos fazer uma linha do tempo começando pela Screwball Comedies (anos 30 e 40) que tem como suas principais características a batalha dos sexos, conflitos entre classes, temas farsescos e ritmo alucinante dos diálogos.
Já na segunda metade dos anos 1960 temos a revolução sexual e o declínio do gênero que traz o fim da censura e os filmes começam a tratar o sexo de uma maneira clara. Um dos principais filmes que pode servir de exemplo seria A Primeira Noite de Um Homem de Mike Nichols, onde já se apresenta uma mudança de paradigma.
(A Primeira Noite de Um Homem – 1967)
Em 1977 finalmente temos o filme que muda toda a história das comédias românticas, o diretor norte-americano Woody Allen leva para o cinema o genial Annie Hall. O filme se parte de um monólogo que mostra a história como um tipo de autobiografia, onde conhecemos Alvy Singer (Woody Allen) e o impacto que Annie Hall (Diene Keaton) causa em sua vida. Esse filme foge tanto dos clichês já conhecidos que fez algumas pessoas pensarem que talvez o diretor tenha criado um novo gênero.
Fugindo do clímax chato das Comédias Românticas, Annie Hall faturou 4 Oscars: Melhor Filme, Melhor Atriz, melhor Diretor e Melhor Roteiro. Além da inovação do gênero, o filme também mostra um novo olhar para o personagem feminino. Annie é uma mulher que de início é insegura, mas se torna forte, sofrendo um crescimento pessoal. É uma mulher que usa roupas completamente diferente das que estavam acostumados a ver uma mulher usando nas Screwball Comedies, roupas nada femininas. Annie lê Simone Beauvoir!
Já que é para fugir mesmo dos clichês [ALERTA SPOILER] Annie e Alvy não ficam juntos no fim. Simplesmente porque Annie vê que aquele relacionamento não está fazendo bem para ela, com o passar o tempo ela percebe as implicações que as atitudes de Alvy tem sobre sua vida, acaba se conhecendo melhor e decide que é melhor seguir em frente.
Além de Annie Hall, Woody Allen também tem em sua carreira filmes como Manhattan, Hanna e Suas irmãs, Meia-Noite em Paris, o aclamado Café Society entre outros sucessos. É um diretor inovador que consegue conciliar diálogos afiados e dramas (necessários) e acima de tudo consegue nos trazer a sensação de realidade. Não assista Woody Allen se você procura algo que te distraia de toda a confusão que existe em você, assista se você quer entende-la.
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