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Não que o goticismo nacional se resuma somente à esta banda, mas temos aqui sem dúvida um de seus ícones, e no metal certamente aquela que exerceu mais influências neste estilo em terras brasileiras…

Vivemos uma época atual em que simplesmente se tornou uma falha imperdoável não aparentar estar sempre bem ou se admitir a tristeza, falar dela e se permitir transmutar em arte musical a melancolia existente no mundo – que continua existindo, ainda que tentemos varrer para baixo do tapete.

Então relembro aqui a Silent Cry como parte de um movimento que tomava tal temática de forma poética e abstrata, embora seja com deixar claro que tal temática abordava também outros assuntos, mas me atenho a este uma vez que simplesmente tentar banir a tristeza e fingir que ela não existe tem levado mais almas ao suicídio do que lidar com tais emoções através da música e dar-lhes um sentido – e talvez assim um antídoto através disto.

Falo aqui de quando ser gótico ainda era mais que simplesmente se vestir de preto e consumir bebidas alcoólicas em excesso…Ou no outro extremo disto ser uma cultura associada à romances de criaturas que brilham ao sol e nada têm haver com o que de fato está em jogo.

Pois ao meu ver na década de 2000 e nas que a antecederam a coisa ainda mostrava um vies ligado tanto à rebeldia do rock e da cultura adjacente à ele também nesta época, como claras influências da literatura e música clássica facilmente observável tanto no instrumental que por vezes reúnem às guitarras teclados sinfônicos e violinos, como na indumentária das mulheres que emprestavam suas vozes às canções interpretadas frequentemente em tom lírico, mas sem perder certo peso característico do metal neste caso aqui…

Uma mistura bem feita e bem dosada que por anos se assemelhava ao cantar de anjos e demônios em uma única sinfonia teatral. Junto aos vocais femininos, pela primeira vez no metal nacional os teclados ganhavam destaque e acrescentavam à mistura todo um clima atmosférico e sinfônico, que no auge desta banda ficava por conta do saudoso Bruno Selmer – falecido em 2004 – que certamente deixou sua marca no mundo e nos arranjos musicais do estilo.

O Silent Cry teve inicio em 1994 com seu primeiro trabalho em forma de uma demo tape intitulada “Tanatofilo, opulente plenilunio”, esta demo soou bem Doom Metal – uma das ramificações do metal gótico – o que abriu muitas portas, expondo a banda ao cenário metal nacional.

Em 1995 a lendária vocalista Suelly Ribeiro – de quem eu gostaria de ter registros em vídeos para ilustrar melhor esta reportagem, mas infelizmente não tenho – foi convidada a se juntar ao grupo trazendo ainda mais possibilidades para a banda em termos de composição. Suelly foi uma das pioneiras no uso de vocal feminino dentro deste estilo de metal no Brasil.

Em 1997 sai “Tears of serenity”, aclamada pelos críticos a demo gera o primeiro contrato para lançamento do Debut. Em 1999 vem o lançamento oficial, o álbum “Rembrance” coloca a banda em uma posição de reconhecimento no cenário brasileiro, por um trabalho diferenciado e autêntico dentro do metal, com uma mistura de Doom Metal e gótico atmosférico a banda seguia compondo com personalidade impar, expressando sentimento em forma de musica. Complementando o álbum duas faixas para fechar com chave de ouro e mostrar que Bruno Selmer ter partido foi uma grande perda, pois além do trabalho belíssimo as incursões de teclado em “Innocence” são maravilhosas e a faixa título, “Remebrance”, tem um final apoteótico.

Em 2000 a banda lança seu segundo trabalho em CD, “Goddess of tears” – que se tornaria seu álbum mais famoso – dando continuidade ao trabalho do aclamado “Remembrance” conquistando novos patamares. No inicio de 2001 sai o Ep “Shades of the last Way… A prelude of a new begin”, bem como um relançamento em CD da segunda demo “Tears of Serenity”. Fim de 2002 é lançado o Terceiro CD “Dance of Shadows” e a banda seguia em turnê se apresentando em eventos de grande importância como extinto B.M.U. – Brasil Metal Union – também ao lado de nomes como Sepultura, Epica, Evergrey, Angra, After Forever, entre outros…

Após mais mudanças na formação em 2005 a banda lança o aclamado “Dark Life” – que incluía, após a saída de Suelly Ribeiro, uma vocalista que era (e ainda é) literalmente uma soprano profissional de música lírica: a talentosa Sandra Felix.

Sandra atualmente se dedica à música brasileira e música clássica, mas teve presença marcante na Silent Cry como a primeira vocalista negra numa banda deste estilo, que em suas origens e até meados de 2000 possuía uma intensa exaltação à branquetude e à palidez, por derivar de movimentos europeus que assim se constituiram. Algo que no Brasil não deveria fazer muita lógica, e certamente pode ser apontado como um ponto negativo que a cultura gótica já teve, apesar de toda beleza que de fato pode ser encontrada nela…

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Posteriormente após tantos álbuns a banda vê a necessidade de um DVD que sai em 2008 denominado “Dark ‘n Live”, o DVD tem o áudio muito elogiado pelas críticas especializada. No momento a banda tem seu mais importante empreendimento em vista que é seu novo álbum denominado “Hypnosis”, após uma pause de 4 anos o quinto CD da banda conta com sete musicas inéditas e uma nova roupagem para a canção “Tragic Memories” do debut “Remembrance”, pela primeira vez a banda se lança em uma jornada lírica temática onde o personagem “desenvolve” a auto hipnose, interiorizando para se obter o controle absoluto de suas ações independente de vontades e desejos na intenção de encontrar bem estar e paz interior, uma analogia onde o próprio ouvinte pode ser ou não o personagem, metaforicamente trata-se de assuntos íntimos dos mais profundos, alem disso o CD é todo orquestral e conta com a produção do renomado Ricardo Cofessori – ex-intregrante da banda Angra, famosa internacionalmente e atualmente integrante daquela que se originou de sua dissidência: Shaman – que também assume as baquetas deste grande projeto.

Formação atual da banda, que aparece no último vídeo publicado na reportagem:
Dilpho Castro (Fundador remanescente, guitarra & Vocal) Roberto Freitas (baixo) Joyce Vasconcelos (Vocal) Douglas Nilson (guitarra) Ricardo Confessori (bateria)

Fontes: YouTube Oficial da Banda, YouTube Oficial da cantora Sandra Félix, arquivos pessoais da colunista e sites especializados


Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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