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E cá estou de volta com números. Não sou uma pessoa ótima em números, mas durante essa minha jornada observando mais de perto do mercado editorial, reparei que eles são imprescindíveis para que a gente consiga ler melhor as tendências. Pois é, dá pra ler alguma coisa com números.
Desde 2007 (salvo engano), o Instituto Pró-Livro publica uma pesquisa chamada Retratos da Leitura. Basicamente, por meio de entrevistas, o instituto consegue traçar um perfil básico de quem lê no Brasil. A desse ano, foi realizada em parceria com o Itaú Cultural. Vou deixar aqui para vocês darem uma olhada.
Mas por que, você, autor, precisa saber o que os brasileiros leem? Uai, se você quer se lido, precisa conhecer quem vai te consumir. Quem é o leitor genérico e o quem é o seu leitor. E na primeira parte disso, a Retratos da Leitura ajuda pacas.
Retratos da Leitura
Não é a perfeição em si, afinal, a pesquisa considera como leitor, “é aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses.” Ou seja, uma pessoa que tenha lido uma frase qualquer em um livro qualquer, para a Retratos da Leitura, seria um leitor. Essa definição é muito criticada dentro do mercado, diga-se de passagem. Sobretudo quando se olha que, em 2019, 52 milhões de brasileiros seriam leitores com base na definição que apresentei acima. O que acham desse número (considerando, sobretudo, nosso índice de analfabetismo funcional e de crise econômica/desemprego)? Comenta sua opinião.
Seguimos. Os gráficos demonstram que tivemos uma queda no número de leitores. Em quatro anos, perdemos cerca de quatro milhões de leitores, pois, na última edição da revista eram 56 milhões de brasileiros que liam. São números bem significativos, mas que podem ser explicados por tudo aquilo que já sabemos: crise, desemprego e toda aquela ladainha. Mas há algo a considerar: já pensou que as pessoas podem ter migrado sua opção de entretenimento do livro pros serviços de streaming ou do youtube, por exemplo? Mais adiante farei uma provocação nesse sentido.
Outro número que chama atenção é o de não-leitores que, para a Retratos, é aquele que declarou não ter lido nenhum livro nos últimos 3 meses, mesmo que tenha lido nos últimos 12 meses (nem vou voltar a criticar a grande falha nessa definição para não ficar cansativo). São 48 milhões de pessoas não leitoras. Ou melhor dizendo: 48 milhões de possíveis leitores. Para mim, demonstra uma grande falha não apenas das políticas publicas de incentivo a leitura, mas de todo o mercado editorial (e até nossa enquanto escritores): a falta de interesse em converter essas pessoas em leitores. Como atraí-los? Como criar um canto de sereia que agradece esses ouvidos moucos? Eis meu desafio para que você pense, caro autor. Essa é sim uma responsabilidade sua. Se quer ser lido, crie leitores.
Nessa pesquisa, fica detalhado o gênero do leitor brasileiro, qual região lê, qual é o nível educacional. Eu sinceramente acho que vale a pena tirar um tempo para dar uma avaliada nela e fazer um exercício mercadológico de pensar: para quem quero vender? Onde encontrar essas pessoas?
Além disso, nessa pesquisa também é possível saber quais preferências literárias do brasileiro, quanto gasta, onde compra. É quase uma Disneylândia de números e até de insights pra quem quer se aventurar em conhecer as pessoas que abrem livros no Brasil. Volto a lembrar, se reconhecido passa por essa aventura capitalista da venda. Então, conheça seu público.
Eu falei de uma segunda forma de conhecer o leitor, né? Rá, vou deixar vocês no mistério até a próxima coluna. Conseguem imaginar possibilidades? Comentem aqui.
One response
Post muito interessante! E sim, pra lá de problemática essa definição de leitor, não só pelo quanto se lê de um livro ou o período de 3 meses, mas também pelo costume de se considerar que qualquer livro é capaz de formar um leitor, como livros religiosos (Bíblia principalmente) e auto ajuda. Eu considero que a formação de um leitor se dá pela literatura, então esta também é uma parte da pesquisa que merece discussão.