“Olá!”, diria um personagem ao surgir numa obra – ou não, se eu quisesse evitar um clichê. Este personagem – no caso, clichezaço – sou eu! E a história que pretendo narrar aqui não é nem Histórica e nem estória. Na verdade, se trata de quem sou eu e qual a minha história nessa coluna. E não há melhor maneira de me apresentar do que começando pelo “básico”: quem sou eu.
Isso poderia suscitar questões filosóficas e aqui não é o lugar – apesar de sempre gostar de filosofar alguma coisa, ainda mais se estiver num bar. Portanto, sigamos com o nosso clichê…
Sou uma escritora carioca que começou a carreira – eis mais um clichê! – bem cedo. Tinha 12 anos quando rascunhei os meus primeiros personagens e enredos. Aos 15 anos escrevia poesias e, aos 17 anos, lancei os meus primeiros contos e poesias em antologias e jornais literários.
(Para localizar o leitor, estamos em plena virada do milênio. O Brasil cresce economicamente e as coisas parecem promissoras para quem viveu o pesadelo do Brasil dos anos 1980 e início dos 1990 com o Collor.)
Terminada a escola, tinha debaixo do braço um punhado de textos, peças de teatro, poesias, alguns romances mal-escritos e muitas ideias e sonhos na cabeça. Em 2000, sejamos sinceros, não havia uma profusão de cursos de Escrita Criativa – isso parecia coisa de americano que “queria comercializar a Arte” (hoje, rio dessa visão) – e ser escritor nem era exatamente uma profissão – era mais “sorte” de alguns poucos que haviam conseguido “um milagre” num país com baixíssimos índices de leitura e livros caríssimos. Sendo assim, para uma jovem que havia decidido, aos 12 anos ser escritora, só havia um caminho lógico: o Jornalismo. Poderia aprender mais sobre escrita, ganhar algum dinheiro para me sustentar, e tentar “a sorte” como escritora de ficção nas horas vagas.
Claro que para quem ama Arte, a realidade jornalística foi dura e difícil, e acabei trancando o curso – faltavam apenas dois semestres para me formar – e tomei o rumo do curso de Letras, onde pretendia aprender tudo o que conseguisse sobre Escrita Criativa através das discussões de obras e teorias literárias. Nesse interim, como o bom clichê ambulante que sou, fui fazendo cursos extras em Filosofia, Psicologia, História, Teologia, Línguas e o que mais conseguisse para crescer a minha visão de vida e, consequentemente, de Literatura. Acabei também engatando num Mestrado em Literatura Brasileira e num Doutorado em Literatura, Cultura e Contemporaneidade (PUC-Rio).
Estava plena de mais e mais ideias, filosofias, escritos, mas me faltava alguma coisa para me considerar “preparada”. Vale ressaltar que, da época que entrei na faculdade de Jornalismo, em 2001, até defender a minha tese de doutorado, em 2013, havia se passado tempo o suficiente para eu aprender mais sobre escrita e sim, nesse interim, começaram a surgir os cursos de Escrita Criativa, a profissão de escritor “se firmou”, os índices de leitura aumentaram um pouquinho e os livros abaixaram bastante.
Eu havia escrito mais alguns romances – melhores construídos que os anteriores – e até havia sido finalista de um prêmio importante para jovens autores (o Prêmio SESC de Literatura – ótima dica para quem está começando!), mas não conseguia ser publicada por nenhuma casa editorial que – na época – eu conhecia. Isso aconteceu por uma questão muito simples: eu não estava preparada, de fato. Não era em relação a escrita, e sim, para o mercado editorial.
Não vou me alongar com esse enredo, mas digamos que isso me fez perceber que eu precisava conhecer o mercado para o qual eu havia me “matado” para fazer parte. Comecei a ir a eventos literários, participar de blogs, palestras, conhecer plataformas de publicação e, finalmente, pessoas que foram fundamentais na minha carreira como escritora. Como toda protagonista clichê que está perdida num mundo novo, afinal, assim começa a Jornada do Herói, precisei do auxílio de “mentores”, amigos que estiveram comigo nos momentos mais “dark night of the soul” – ou na “provação suprema” – e que me ajudaram a compreender o que acontecia, aprender com os meus erros e a seguir no meu caminho – pois a jornada nunca termina de verdade, sendo um ciclo dentro de outro como numa série de livros sem fim.
Uma dessas pessoas fundamentais, Elimar Souza Machado, me mostrou um gênero que havia passado desapercebido por mim durante todo esse tempo: o romance de época. Eu, como muitas pessoas, via como romances de banca ou romances históricos “mais leves” e nunca havia realmente atentado para as possibilidades do gênero. Foram muitas conversas até que eu comecei a ver as suas qualidades e como poderia ser interessante para um projeto antigo meu: mostrar a História do Brasil através da Literatura. Foi quando a minha vida deu aquela “virada” clichê!
Mas como a vida não é feita somente de clichês, eu não fiquei nem rica e nem famosa – dessa vez, eu realmente teria adorado ser um clichê! –, no entanto, me descobri num gênero e num projeto autoral: História e Literatura.
E, claro, que essa coluna faz parte desse projeto maior, portanto, esperem por muita História misturada à Literatura e, claro, alguns clichês – porque somos humanos, afinal.
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