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Chega ao fim mais um ano, com a seguinte constatação: 2014 foi um bom ano para o cinema – ou, pelo menos, segundo os filmes que vimos. Tivemos ótimos lançamentos e algumas grandes surpresas, tanto para diretores quanto para atores. Abaixo, listamos alguns dos melhores longas deste ano. Não há ordem de preferência, pois atribuir colocações é uma tarefa árdua, especialmente para tantos filmes ótimos: os organizamos levando em conta a data de lançamento no Brasil, de forma que, obviamente, foram considerados como elegíveis apenas filmes lançados em 2014 em território nacional. Assim como no ano passado, lembramos: esta não é uma lista oficial feita por profissionais, e sim apenas um artigo de opinião que pode não representar a opinião da equipe do blog inteira; da mesma forma, podem fazer falta alguns filmes considerados “obrigatórios”, pois nem sempre podemos acompanhar todos os lançamentos.

Sem mais delongas, segue a lista de destaques do ano:

Menções honrosas

Frozen – Uma Aventura Congelante (Frozen, de Chris Buck e Jennifer Lee, EUA, Animação, 2013)
Nebraska (de Alexander Payne, EUA, comédia dramática, 2013)
O Congresso Futurista (The Congress, de Ari Folman, França/Israel/Bélgica/Polônia/Luxemburgo/Alemanha, Ficção Científica/Animação, 2013)
O Grande Hotel Budapeste (The Great Hotel Budapeste, de Wes Anderson, Alemanha/Reino Unido, Comédia, 2014)
1001 Gramas* (1001 Gram, de Bent Hamer, Noruega, Drama, 2014)
God Help The Girl* (de Stuart Murdoch, Reino Unido, Musical, 2014)
Garota Exemplar (Gone Girl, de David Fincher, EUA, Suspense, 2014)
Mão Na Luva (de José Joffily e Roberto Bomtempo, Brasil, Drama, 2014)
Ventos de Agosto (de Gabriel Mascaros, Brasil, Drama, 2014)
Jogos Vorazes: A Esperança – Parte I (The Hunger Games: Mockingjay – Part I, de Francis Lawrence, EUA, Ficção Científica, 2014)
* Os filmes marcados estrearam somente no Festival do Rio 2014.

Ela (Her, de Spike Jonze, EUA, Romance/Comédia dramática, 2013)

Tenho um fraco por romances. Não por histórias exageradas e melodramáticas, mas por longas que realmente entendem a complexidade dos sentimentos que pesam numa relação. Quando um filme se propõe a ir um pouco mais longe e analisar a relação do amor para com o mundo, então, é difícil não me apaixonar. “Ela” é um filme que faz tudo isso. A partir da história de amor entre um homem e um sistema operacional dotado de inteligência artificial, “Her” constrói uma bonita metáfora sobre o que é amar neste complexo mundo tecnológico em que vivemos, e, mais interessante ainda, sobre a solidão, pungente e sufocante em cada minuto deste filme. Tudo isto embalado por um roteiro poético, uma belíssima fotografia, a direção intimista de Spike Jonze e atuações impecáveis de Joaquin Phoenix, Amy Adams e Scarlett Johansson (que contribui apenas com sua voz e, ainda assim, arrebata o público). Alguns problemas de ritmo impedem “Ela” de ser perfeito, mas, ainda assim, é um filme emocionante e extremamente doce. Para saber mais sobre “Ela”, leia minha resenha completa sobre o filme.

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (de Daniel Ribeiro, Brasil, Romance, 2014)

Para quem me conhece, é um tanto previsível que este filme esteja na lista. À época de sua estreia, “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” me arrebatou de tal maneira que eu não conseguia parar de falar sobre este filme. Baseado no curta “Eu Não Quero Voltar Sozinho”, a história de Leo, um garoto cego e solitário, que passa a redescobrir sua vida ao conhecer Gabriel, não só é um bom romance, mas também uma belíssima história de descoberta e amadurecimento. “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” é um filme sobre situações que todo adolescente já passou, independentemente de sua sexualidade. O roteiro pode ser simples, muitas vezes recorrendo a lugares comuns de dramas adolescentes, mas a direção de Daniel Ribeiro, bem como a trilha sonora impecável e as atuações inspiradas de Ghilherme Lobo, Fabio Audi e Tess Amorim contribuíram para que “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” fosse um dos mais sensíveis filmes do ano, conseguindo emocionar até mesmo nas mais simples cenas – e, em determinados momentos, até nas mais impensáveis. Belíssimo, não é difícil entender o porquê de “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” colecionar quase 30 prêmios ao redor do mundo.

Praia do Futuro (de Karim Aïnouz, Alemanha/Brasil, Drama, 2014)

Não comentarei sobre a polêmica que revolveu este filme à época de seu lançamento, pois é um absurdo sem igual. Além das tão faladas cenas de sexo, existe um filme lindo e sufocante. “Praia do Futuro” é um dos melhores trabalhos do diretor Karim Aïnouz, conhecido por longas como “Madame Satã” e “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo” (este último dirigido em parceria com Marcelo Gomes). “Praia do Futuro” conta a história de Donato, um salva-vidas que acaba de perder sua primeira vítima e que conhece o alemão Konrad, decidindo abandonar tudo para tentar a vida em Berlim; anos mais tarde, recebe a visita de seu irmão, Ayrton, que o considerava seu herói. Contando com atuações fantásticas de Wagner Moura, Clemens Schick, e, especialmente, Jesuíta Barbosa, “Praia do Futuro” é um filme sobre solidão e angústia, mas, acima de tudo, é um filme sobre um homem que não consegue encontrar seu lugar no mundo, um filme sobre medo. E, por isso, é tão assombroso. O roteiro e a direção de Aïnouz são tão apaixonadamente belos que é praticamente impossível para o espectador não sair do cinema mergulhado numa catarse, especialmente após o fantástico monólogo final. Definitivamente, um de meus filmes favoritos, “Praia do Futuro” é espetacular.

Sob A Pele (Under The Skin, de Jonathan Glazer, EUA/Reino Unido/Suíça, Ficção Científica/Suspense, 2014)

Em 2000, Michel Faber lançou o livro “Sob A Pele”, uma história satírica e surrealista sobre um alien disfarçado no corpo de uma mulher que seduzia homens na Escócia e os matava para enviar carne humana para seu planeta natal, onde tal artefato era considerado uma iguaria. Desta forma, Faber estabelecia uma curiosa crítica à indústria de produção de carne. O diretor Jonathan Glazer decidiu adaptar esta história, porém, despindo-a dos tons satíricos e da crítica social, transformando-a num interessantíssimo e misterioso art film com uma mensagem completamente diferente; porém, não comentarei sobre isto, uma vez que o longa dá abertura para várias interpretações diferentes. Em vez disso, falarei o porquê deste filme ser tão absurdamente hipnótico. As imagens são fortemente tensas, muitas vezes de forma sexual, mas nunca arbitrário; a ausência de diálogos apenas extenua este fator. Além disso, a trilha sonora original de Mica Levi é um dos trabalhos mais assustadores que já ouvi na vida. Scarlett Johansson, no papel da protagonista, está no melhor momento de sua carreira. Nenhum detalhe deste filme deixa de compor uma atmosfera de suspense opressora, de forma que a tensão não se dissipa em momento nenhum. Um dos thrillers mais envolventes, inteligentes e criativos dos últimos anos, “Under The Skin” é um espetáculo visual, de tal maneira que chega a ser impossível descrever em palavras. Para entender o quão assombroso este filme é, só vendo mesmo – coisa que recomendo fortemente que todos façam.

O Lobo Atrás da Porta (de Fernando Coimbra, Brasil, Suspense, 2014)

Premiado no Festival do Rio de 2013 nas categorias de Melhor Filme e Melhor Atriz para Leandra Leal, “O Lobo Atrás da Porta” começa com uma cena simples, mas desconcertante: uma mãe chega numa creche e descobre que uma mulher estranha levou sua filha. O caso vai parar na delegacia, e, a partir deste momento, reúnem-se um homem, sua mulher e sua amante, cujos depoimentos vão tecer uma trama doentia e obsessiva. Um suspense angustiante, “O Lobo Atrás da Porta” é incrível não só por conseguir manter uma forte e inabalável tensão ao longo de seus 101 minutos, com várias cenas mais fortes no meio do caminho, mas por conseguir emular com sucesso o cotidiano dos subúrbios do Rio de Janeiro. É incrível o grau de realismo, constantemente presente desde os cenários até as atuações. Leandra Leal está espetacular como a protagonista Rosa (cenas como a em que Bernardo, o personagem de Milhem Cortaz, a ataca, provam o quanto Leal é assustadoramente talentosa), mas o mesmo deve ser dito para o elenco secundário; Fabíula Nascimento, Thalita Carauta e o próprio Cortaz estão hipnoticamente ótimos, em performances extremamente realistas, meticulosamente construídas e nem um pouco caricaturais. Tudo em “O Lobo Atrás da Porta” inspira realismo cotidiano, de tal maneira que chega a assustar e elevar o clima de suspense. Tenso, “O Lobo Atrás da Porta” fez por merecer seu destaque nos festivais e premiações; mais impressionante ainda é que este é o primeiro longa do diretor Fernando Coimbra, o que já garante seu posto dentre os novos cineastas que merecem nossa atenção.

Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive, de Jim Jarmusch, Alemanha/Reino Unido, Drama, 2013)

É injusto dizer que apenas a Saga Crepúsculo queimou a imagem dos vampiros na mídia, uma vez que há um bom tempo não era produzido um filme realmente marcante sobre as criaturas da noite. Não acompanho muito as produções do gênero, mas “Amantes Eternos” merece grande destaque. “Only Lovers Left Alive” conta a história de dois vampiros casados, interpretados brilhantemente por Tilda Swinton e Tom Hiddleston, que voltam a se encontrar diante de uma crise. Os dois observaram os séculos se passarem, cansados da humanidade e da sociedade em que vivem. O reencontro é pacífico até a chegada da incontrolável irmã caçula da vampira. “Amantes Eternos” respira e inspira arte. A fotografia e os cenários, claramente inspirados pela obra de Caravaggio, são puro deleite visual. Sombrio e melancólico, o roteiro torna impossível não nos apaixonarmos por seus dois protagonistas, deprimidos pelo futuro sem rumo e pelo desinteresse humano, mas elevados pela paixão que sentem um pelo outro e pela arte. “Only Lovers Left Alive” não é um filme de vampiros sangrentos e violentos, e sim de criaturas contemplativas, eruditas, reflexivas, quase como deuses observando a evolução da vida e desamparados pelo isolamento. Música, poesia e beleza transbordam de “Amantes Eternos”, um drama genuinamente encantador que apenas flerta com o terror.

Miss Violência (Miss Violence, de Alexander Avranas, Grécia, Drama, 2013)

Não posso dizer que gostei de “Miss Violência”. Acho que ninguém pode afirmar tal coisa. De fato, saí da sessão completamente enojado, uma sensação inédita há muito tempo – precisamente o que garante ao filme um lugar nesta lista. “Miss Violência” não é um filme para fracos, e é bom esperar sair do cinema com o estômago completamente revirado. Já nos primeiros cinco minutos, somos afrontados com a imagem de uma garota de 11 anos cometendo suicídio no próprio aniversário – e o diretor Alexander Avranas não nos poupa da violenta e explícita imagem. A partir deste acontecimento, somos levados numa jornada no cotidiano desta aparentemente perfeita família, desvendando os segredos e a violência abusiva de seus membros, até chegarmos ao ápice nos vinte minutos finais, quando o filme torna-se ainda mais chocante e finalmente descobrimos o que levou a aniversariante a se matar. Para este filme, não poderia haver título mais apropriado do que “Miss Violência”. A violência, explícita ou não, física ou psicológica, está constantemente presente em cada cena deste filme tenso, subversivo e claustrofóbico. Boas atuações e a direção primorosa de Avranas, em especial em seus longos e perturbadores planos-sequências, embalam esta história doentia, que com certeza ficará marcada para sempre em seus espectadores.

Relatos Selvagens (Relatos Salvajes, de Damián Szifrón, Argentina/Espanha, Comédia, 2014)

“Relatos Selvagens” é outro filme perturbador, que, porém, utiliza-se de suas aspirações doentias para fins cômicos. Uma antologia de seis segmentos unidos por nada além da temática de violência e vingança, “Relatos Selvagens” é uma incrível e assustadora comédia de humor negro. Nem todos os seis curtas mantém o mesmo nível de qualidade – o segundo, por exemplo, intitulado de “As Ratas”, é apenas mediano –, mas, em histórias como “Pasternak” e “Até Que A Morte Nos Separe”, o roteiro atinge o ápice de sua inspiração e entrega alguns dos momentos mais hilários do ano. Mas não é apenas o roteiro que compõe a grandiosidade deste filme: a direção de Szifrón e a fotografia Javier Juliá garantem também uma rica experiência visual. E o que falar da trilha sonora, extremamente bem selecionada? “Relatos Selvagens” é um filme incrível sobre pessoas que passam dos limites em situações simples do cotidiano, e, no processo de contar suas histórias, arrebata o espectador com uma explosão de violência e humor nem um pouco politicamente correto. Para saber mais sobre “Relatos Selvagens”, leia minha resenha completa sobre o filme.

Boyhood – Da Infância À Juventude (Boyhood, de Richard Linklater, EUA, Drama, 2014)

A carreira de Richard Linklater é injusta. O diretor mal acabara de completar sua magnífica trilogia “Before”, e já estava lançando sua mais nova obra-prima: “Boyhood”. E, sobre este, posso apenas dizer: que filme lindo. A ambiciosa história de amadurecimento de um garoto filmada ao longo de 12 anos não poderia ter tido mais sucesso. Assim como a trilogia “Before”, “Boyhood” é um filme único e sensível, que conquista seu público a partir da identificação. Para mim, que coincidentemente cresci em idade junto a Mason, a catarse foi instantânea; mas, mesmo para os mais velhos ou mais novos, é impossível não se divertir ou mesmo se emocionar com os ciclos do tempo, as marcas de cada era, e, principalmente, os acontecimentos da vida de Mason, que, com alguma diferença aqui ou ali, com certeza aconteceram com todos nós. O posto de verdadeiro protagonista de “Boyhood” não está reservado a nenhum personagem, mas ao tempo. Crescer nunca foi tão real quanto em “Boyhood”, e Linklater entendeu isto ao criar um filme que provavelmente figurará ao lado de grandes clássicos no futuro. E não vamos nos esquecer das incríveis atuações de Ethan Hawke e Patricia Arquette, em especial esta última, que, mesmo em um papel secundário, brilha nas quase três horas de duração do filme.

Karen Chora No Ônibus (Karen Llora En Un Bus, de Gabriel Rojas Veras, Colômbia, Drama, 2011)

No seu filme de estreia, Gabriel Rojas Veras decidiu abordar a misoginia na América Latina, um tema infelizmente ainda muito atual. A partir da história de Karen, uma mulher que decide abandonar o marido, acompanhamos a situação que muitas mulheres vivem ainda hoje: dependentes dos patriarcas, reduzidas a donas de casa, desprovidas de formação profissional (por que em nenhum momento alguém achou necessário haver uma) e amplamente criticadas por desejarem ser livres. Em determinados momentos do filme, inclusive, a mãe da protagonista é arbitrária em empurrar sua filha de volta para o marido a qualquer custo, pois, em sua concepção, ela precisa de um homem. Situação similar acontece com sua nova vizinha e eventual melhor amiga, que defende que Karen precisa de um bom namorado. “Karen Chora No Ônibus” é uma jornada de autodescobrimento e libertação feminina bem dirigida e roteirizada, contando com uma ótima atuação de Ângela Carridoza Aparicio no papel da protagonista. Não espere grandes discursos sobre o machismo impregnado em nossa sociedade: o filme é bastante sutil ao abordar seus temas, preferindo mostrar situações do cotidiano, mais fáceis de serem identificadas, e, nisto, tem bastante sucesso. Um filme simples, mas não menos poderoso por isto.

Mommy (de Xavier Dolan, Canadá, Drama, 2014)

Já comentei sobre o trabalho de Xavier Dolan outras vezes aqui no blog, e já afirmei: o cineasta facilmente se tornou um dos meus favoritos. Com “Mommy”, um dos filmes mais bonitos do ano, reafirmo isto. Em “Mommy”, Dolan retorna à temática de seu primeiro filme, “Eu Matei Minha Mãe”, que também abordava a relação conturbada entre mãe e filho. “Mommy”, entretanto, não só é melhor, como mais profundo, mais emocional e mais maduro. Desta vez, Dolan conta a história de Diane “Die” Duprés, uma viúva que tem problemas para cuidar de seu violento e problemático filho Steve, um adolescente de 15 anos que sofre de déficit de atenção. Para criá-lo, Die conta com a ajuda de Kyla, uma misteriosa nova vizinha com problemas de fala. “Mommy” é um filme sobre três pessoas que sofrem com a falta de liberdade que a vida lhes impôs, mas, acima de tudo, é um filme sobre o amor incondicional e às vezes até ameaçador entre mãe e filho. Dolan tem um gosto por histórias em que o amor flerta com a dor a níveis extremos, e, em “Mommy”, o diretor é agridoce como nunca. Utilizando de todas as suas características – isto é, a presença extensiva de música pop e de câmera lenta – e trazendo desta vez o incomum formato 1:1, que em determinados momentos se expande para criar uma belíssima metáfora, numa das cenas mais extasiantes e magistrais do ano, Dolan mais uma vez cria uma obra atmosférica e sombria sobre duas pessoas que se amam tanto que chegam ao ponto de se destruírem. Belo e melancólico, “Mommy” é um dos filmes mais intensos do ano, e é lindo, lindo, lindo. Para saber mais sobre “Mommy”, leia minha resenha completa sobre o filme.

Ida (de Pawel Pawlikowski, Dinamarca/Polônia, Drama, 2013)

Sem dúvidas o mais forte concorrente para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, “Ida” só estreia oficialmente no Brasil nesta quinta, dia 25, mas tive a sorte de assisti-lo no Festival do Rio. “Ida” conta a história de Anna, uma jovem noviça prestes a se tornar freira, que é obrigada a visitar sua tia antes de prestar o juramento. Durante a visita, ela descobre que seu real nome é Ida, e que é descendente de judeus mortos durante a Segunda Guerra Mundial. A partir daí, Anna e sua tia partem numa viagem para descobrir onde foram enterrados os restos mortais da família. Com uma belíssima fotografia em preto e branco, extenuada por um silêncio opressor, que tornam os breves 80 minutos de duração do filme absolutamente soturnos e sufocantes, “Ida” é um fantástico e sublime filme. Possivelmente influenciado pela obra de Ingmar Bergman, em especial sua “Trilogia do Silêncio”, o filme de Pawel Pawlikowski é sombrio, pesado e questionador diante de temas tão lúgubres. A discussão sobre a existência e a importância de Deus é sempre muito presente, no embate entre as personalidades de Anna/Ida e sua tia e até mesmo no quesito direcional, uma vez que Pawlikowski trabalha ângulos e enquadramentos de forma a mostrar cenários vastos e personagens pequenos, dando também muito destaque ao céu. Além disso, “Ida” ainda levanta questões como os efeitos do nazismo e do regime stalinista na Polônia, adicionando mais melancolia à trama. “Ida” não é um filme fácil de ser visto – o silêncio e a calmaria, que renderam a alcunha de “filme mais europeu do ano”, podem parecer entediantes para alguns –, mas, para os mais pacientes, o longa se mostrará uma intimista viagem emocional de amadurecimento e autodescobrimento. Mesmo que seu terceiro ato não tenha a mesma força que o caminho antes percorrido, “Ida” ainda é um das experiências cinematográficas mais assombrosas, e também, sem dúvidas, mais imersivas do ano.

 
E aí, gostaram de nossa lista? Sentiram falta de algum filme? Comentem abaixo!

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Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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