Oi, gente!
Fiz um estudo antropológico sobre algumas telenovelas e resolvi trazer aqui uma nova abordagem de temática. Essa abordagem vai falar sobre as diferentes culturas e questões humanas tratadas dentro das produções. O objeto foi voltado mais para as da Globo, pois são as que mais repercutem e trazem toda uma bagagem de ensinamentos que a gente às vezes ama ou odeia.
O foco dessa postagem será A Força do Querer, a trama das nove que está sendo produzida e exibida no momento. Ela aborda três temas que são super presentes na sociedade contemporânea e falaremos um pouco sobre cada um deles.
Tema 1: Tráfico de Drogas e Mundo do Crime
Bibi Perigosa, a personagem de Juliana Paes, está realizando inúmeras atitudes para proteger o nome do marido e da família , que acreditou ter sido preso por ser inocente e, mais tarde, descobriu que o crime realizado pelo mesmo era real. É a personagem que representa as pessoas da vida real que possuem medo de serem manchadas, terem dificuldades para se sustentar, conseguir trabalho e obter oportunidades de continuar sobrevivendo depois de um nome sujo nas fichas policiais. Por conta disso, a solução vista pela personagem foi realizar crimes para que os segredos de Rubinho (Emilio Dantas) não viessem à tona.
Mas o que será da personagem? Será que vai ser possível se reconciliar ou ela entrará em um caminho no qual a polícia vai descobrir seus feitos e a punir pelas coisas que fez? Ainda não sabemos, porque Bibi está entrando no mundo criminal agora. Mas, devido ao talento grande de Juliana Paes e do futuro promissor que a autora tem para a personagem, podemos esperar coisa forte vindo por aí. Bibi antes condenava o crime e tudo o que dizia respeito a ele, mas, quando começou a estar dentro dessa realidade, o seu instinto de sobrevivência falou mais alto e a personagem
A história foi inspirada em uma pessoa real, também chamada de Bibi Perigosa, que foi autora de um livro sobre os anos de sua vida no crime. Bibi seria a protagonista de uma minisserie, mas surgiu uma oportunidade de inseri-la na novela atual. Interessante, não é?
Tema 2: A Cultura dos Cosplays
Sabemos que muitos cosplayers sofrem preconceito de pessoas que não entendem essa cultura e essa forma de arte. Mas, com a telenovela, isso meio que se torna ainda mais forte, porque ela força uma imagem estereotipada dos personagens, como se fossem fãs que passassem o dia inteiro fantasiados com as roupas e os cabelos dos seus personagens preferidos, sem nunca tirá-las, sendo que isso só acontece em momentos especiais, como eventos voltados para as obras e para esse público. Houve uma grande resistência dos grupos de cosplay, que consideram que a novela não os representou de forma adequada, pois muitos veem a arte como uma forma de se refugiar de uma rotina pesada ou até mesmo uma maneira de trabalho e de conseguir dinheiro. Além de tudo, o personagem iniciou a novela indo mal em algumas matérias, o que fez parecer como se ser cosplayer fosse sinônimo de não se dedicar aos estudos.
Tema 3: Transexualidade
Outra trama que está sendo elaborada em “A Força do Querer” é a de Ivana, personagem que nasceu no corpo de mulher, mas rejeita a própria fisionomia, sem se identificar com o que vê no espelho e com as vestimentas que usa. É uma questão bastante delicada, pois muitos ainda não entendem como funciona a questão de ser transexual. Muitos acham que a personagem precisa, obrigatoriamente, se interessar por pessoas do sexo feminino, quando Ivana vem para quebrar esse estereótipo.
Ivana é o que consideramos como um homem gay, mas um homem gay que nasceu no corpo de uma mulher. A mente não é compatível com o corpo. Pode-se nascer biologicamente de um sexo, mas não se identificar com esse sexo. É o caso de Ivana.
Desde o início da produção, a personagem mostra seus conflitos, que estão sendo abordados de forma lenta, para que o telespectador consiga entender a mensagem que a autora quer passar. Ao redor de Ivana, diferente do que acontece em outras tramas voltadas para o público LGBTQ, a coisa está sendo tratada com a realidade de muitas famílias, que não reagem bem à questão de ter um filho ou filha que se enquadre nesse grupo, pois são bastante tradicionais e possuem valores que não são mais os mesmos da sociedade atual. É desse jeito que foi construída Joyce, mãe de Ivana, que sempre fez com que a sua criança andasse com as roupas mais bonitas e mais elegantes, fazendo com que fosse exibida em fotografias e capas de revista. Joyce sempre quis que Ivana fosse a filha fisicamente e estilosamente perfeita, o que sabemos que não é o caso.
O tema está sendo, de longe, um dos arcos mais importantes da história, pois está representando a vida de muita gente que esteve calada e oculta pela mídia durante todo esse tempo.
Categories:
Tags:
Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.
No responses yet
Ótima postagem! Realmente a novela está de parabéns.
Essa novela realmente é maravilhosa, e todos esses casos que estão sendo abordados são perfeitos. Só não concordo com a parte de os coysplays estarem irritados, pois entendo que o que fazia o menino ir mal na escola era o fato de só ficar na internet e não ligar para os estudos. Não associei em nenhum momento esse problema dele com o fato de se vestir como a personagem. Enfim, adorei as suas colocações…. parabéns
thebestwordsbr.blogspot.com.br
Oi, postagem muito boa para refletir, mas nem consigo assistir essa novela. Cheguei a ver esse menino do cosplayer e achei fraco, pouco pesquisado. Gosto desse universo, mas a novela não soube retratrar…
Infelizmente não tenho muito tempo para ver novela, porque parece que finalmente a Globo saiu da caixinha.