jogos vorazes
Eu terminei ontem de ler a trilogia do Jogos Vorazes e fiquei em choque, acho que essa é a palavra que melhor define meu estado referente ao fim da trilogia, mas não um choque tipo “ah legal, por essa eu não esperava” é algo mais forte, algo que preencheu meus pensamento e me fez ficar acordada até umas 3h quando resolvi começar a leitura de outro livro, não um livro qualquer, tive que pegar um livro feliz que eu imaginava ter um final feliz e comecei a ler, que nesse caso foi O Diário de Uma Garota Nada Popular , porque de certa forma, eu precisava ter novamente, o meu senso de realidade estragado onde falava que tudo sempre dava certo no final.
Eu vi muitas pessoas reclamando sobre o ultimo livro, falando que o odiaram, que Suzanne ferrou com a trilogia no ultimo livro, outros falaram que amaram o livro, que esse é o melhor dos três livros, o que eu sei apenas é que o ultimo livro é o mais polêmico de todos, ainda não defino se ele é o melhor ou pior, antes de chegar ao fim desses eu enchia a boca falando que Jogos Vorazes era o melhor dos três, agora, não tenho uma opinião formada ainda, estou digerindo esse livro, eu só sei de uma coisa, se achavam que Jogos Vorazes não é um livro para crianças, A Esperança muito menos, pois enquanto em Jogos Vorazes imaginamos cenas assustadoras com a morte de Cato por exemplo, em A Esperança o terror atinge mais fundo, é um terror psicológico, me senti quase “telesequestrada”, hoje estou melhor, mas ontem palavras como “queimar” e “guerra” e frases como “pintando o céu” me faziam lembrar do livro e entrar em um estado meio de choque, pode parecer exagero? Talvez, mas com certeza eu posso adicionar “paraquedas prateados” a minha lista de fobias estranhas agora.
O porque disso? Quando li Jogos Vorazes, eu percebi que era mais um livro que tinha coisas que me fariam chorar, mas o final era esperado, porque tivemos que aceitar tristemente a morte da Rue e percebemos que Suzanne não teria pena de matar, mas assim que ela deixa Peeta e Katniss vivos, mesmo contra todas as regras dos Jogos Vorazes, vemos que será sempre assim, pelo menos é o que imaginamos a princípio, teremos perdas, podem até ser grandes, mas as coisas vão ficar bem no final, igual nos demais livro. Quando coloquei ontem no meu facebook sobre meu estado chegaram a falar que nem J. K. Rowling pegou pesado assim, outros discordaram citando as mortes na saga de Harry Potter, mas existe uma grande diferença entre os dois. Em Harry Potter, tudo dá bem no final.
Em Harry Potter temos o trio inicial Harry, Ron e Hermione, temos a irmã mais nova que deve ser defendida, mesmo que ela mostre que nem sempre precisa de defesa, a Gina. E então temos os 7 livros, onde personagens são apresentados, alguns morrem e outros continuam vivos, temos mortes notáveis e que com certeza fizeram muita gente chorar, como a de Dumbledore, Snape, Sírius, Cedrico, Lupin, Tonks e outros. Mas a irmã mais nova continua viva, o trio não se separa, mesmo casando, mesmo tendo filhos, eles não se separaram, não existe dor, não teve erro no final que causou um trauma para sempre, é um final feliz, mesmo após uma guerra é um final feliz, que todos queremos ter. Mas a realidade não é assim e nem “A Esperança” é.
“A Esperança” me fez refletir em muitas coisas, antes de continuar, peço para aqueles que estiverem lendo tentem se lembrar dos seus melhores amigos de quando você estava no jardim, os que foram mais velho podem se lembrar dos amigos do colegial, das pessoas que passaram por nossas vidas e se afastaram, quero que pensem naquele grande amigo que vocês não tem mais nenhum contato e que quando eram amigos vocês pensavam que iriam ser amigos para sempre. Eu tive muitos amigos assim, que eu disse que seria para sempre, que eu achei que nunca iria me separar, amigos que pensei que sempre teria ao meu lado e quando eu crescesse, casasse e tivesse filhos, iria reuni-los e lembrar das coisas que fazíamos, que nossos filhos cresceriam juntos e os namorados? Quantos deles vocês acharam que era para sempre, com esse vão se casar… Quantos desses vocês mantem o contato pelo menos? Quantos amigos de infância, que seria insuportável viver sem eles, você ainda conhece? Você tem notícias? Eu confesso que não muitos, mesmo com facebook, eu não sei mais o que cada um faz de sua vida, a pouco tempo tentei adicionar no facebook uma amiga minha de jardim, que eramos inseparáveis, ela não me aceitou, acho que não se lembra mais de mim.
Depois disso peço para que se lembre de todos os seus planos, e quem tiver infelizmente perdido alguém, lembre-se dessa pessoa, dos sonhos que ela teve, dos planos que ela fez, lembre-se de tudo o que ela queria e que agora não poderá mais realizar, é algo terrível de se pensar, eu sei, triste… Foi exatamente isso que eu pensei em ler “A Esperança”.
Vamos a primeira parte, sobre os amigos. Quando começamos a ler o livro temos a certeza que Katniss e Gale serão amigos para sempre, do tipo que vão envelhecer e cuidar um do outro, mesmo que não fiquem juntos mesmo, como marido e mulher, mas eu pensei que eles seriam, pelo menos, como Harry e Hermione, que se casariam e manteriam contato, que seus filhos seriam amigos, mas não, Gale simplesmente some da vida de Katniss, ela provavelmente nunca mais teve notícias dele, ele passou a ser apenas uma lembrança e isso é triste, principalmente ao ver como isso é real, como infelizmente isso acontece com a gente todos os dias e o porque nos toca mais quando lemos isso em um livro? Porque escolhemos um livro para ler, a não ser que seja uma biografia, a gente quer algo que nos transporte para um mundo novo e mesmo que Panem não exista, as situações no final do livro existem e isso é algo que toca lá dentro, ao se lembrar de quantos Gale passaram pela nossa vida, tanto no sentido de amizade quanto no sentido amoroso. Gale representa todos os grandes amigos e grandes amores que tivemos e simplesmente não existe mais.
Agora a pior parte vem com a morte de Prim, eu só não me revoltei e parei de ler naquela hora porque eu tinha esperança de que Prim tivesse sobrevivido de alguma forma, mas não sobreviveu e aí temos mais duas coisas que entrem na nossa mente, primeiro a culpa que Gale sente por ter sido um invento seu que causou a morte de um conhecido, não que seja comum as pessoas inventarem coisas novas, mas a culpa que entra nesse fato, culpa de ter prejudicado alguém por algo que você fez, e aí entra qualquer coisa, até mesmo algo falado na hora errado, coisas que podem arruinar a vida do outro, fala mais do que isso, fala sobre as consequências de suas ações, que você nem imagina que existirá, mas que existem e você tem que simplesmente conviver com isso, pois muitas vezes não temos como mudar o que fizemos e dependendo que foi feito, você tem que se afastar de algumas pessoas, mesmo que isso lhe machuque, seguir seu caminho, eu confesso que isso trouxe a tona uma coisa que aconteceu a uns 3 anos e até hoje eu me pergunto como seria se eu tivesse agido diferente, o erro em questão não foi meu, é mais como se eu fosse a Katniss, conviver com certas pessoas me lembraria sempre de algo que eu queria esquecer.
Por fim, a pior parte é a questão mesmo da morte da Prim, deixando de lado todo o caso de que tudo começou por causa da Prim, uma amiga minha chegou a comentar que parecia que nada tinha valido a pena, não para toda Panem, claro, mas talvez isso se passou pela cabeça da Katniss, que o tempo todo lutava para manter a irmã bem, a irmã viva, lutava para um mundo melhor para ela e ela morre, como eu disse eu tinha me acostumado com mortes pela morte da Rue, da Mags e até aceitável a morte de Finnick, eu achei todas muito triste, chorei muito, mas Prim? Prim era mais próxima, sabiamos bem a história dela, os sonhos dela e a primeira coisa que me veio à cabeça foi o diálogo dela com a Katniss falando sobre achar que ela seria médica e a Katniss feliz porque ali no Distrito 13, ela tinha chances disso e então ela morre, morre indo salvar pessoas, morre com seu sonho incompleto e mesmo Katniss ali do lado não pode fazer nada para salva-la, só pode vê-la queimar.
Eu agradeço o fato de nunca ter perdido um parente meu assim, mas existem muitas pessoas ao nosso redor que isso acontece, ver um filho, um primo, um irmão sendo morto e não podem fazer nada, na hora que pensei nos planos de Prim, eu me lembrei de algo que aconteceu a alguns anos atrás, um amigo meu, professor de Inglês e que amava fazer vídeos, tínhamos conversado sobre o roteiro do próximo curta que faríamos, sem fins lucrativos, gostávamos apenas de fazê-los, tínhamos planos de fazer uma produtora para filmes independentes e ele estava para me enviar o roteiro, o filme era na verdade um fan filme de “Pânico”, era a sexta versão que ele fazia, a segunda que eu fazia, tínhamos feito um outro curta chamado “A Casa”, tínhamos grandes planos, pelo menos mais 3 curtas, um dia eu recebo uma ligação, ele havia sido assassinado, ele estava a alguns metros da sua casa, quando foi abordado na rua, ele estava escutando música e não escutou inicialmente, ele então, ao perceber que tinha alguém por perto, ele tirou o fone de ouvido e se virou, nesse momento ele recebeu um tiro pelas costas, não sei se morreu na hora, mas as pessoas ali por perto viram ele morrer e não puderam fazer nada. Todos os sonhos que ele tinha, foram embora com ele.
Eu sei que essa postagem ficou um pouco pessoal, mas acho que é a melhor forma de explicar o que se passa em minha mente sobre o livro “A Esperança”, ele traz a tona essas lembranças, ele se torna um livro totalmente real, porque assim como a realidade, as coisas não são perfeitas, não são planejadas, não é apenas como você quer e ver essa explicação em um livro o torna meio assustador, eu confesso que de todos os livros que eu li, esse foi o que mais mexeu comigo, mais mexeu no meu psicológico, eu não me senti lendo um livro, senti como se alguém me contasse a própria história, me senti lendo a minha própria história em algumas partes, acho que isso é o que causa tanta polêmica na trilogia, esse sentimento de ter certeza que pessoas vão para sempre, que você não controla nada na sua vida e que as coisas que acontecem, as vezes acontecem sem nenhuma explicação.

Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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  1. As mortes dos personagens “favoritos” (finnick e prim) e de outros civis, que além de serem muitas, são absurdamente impactantes.
    O fato de que até quando você se revolta do padrão, você tá no padrão dos “revoltados” que eles estabelecem.
    Sempre terá um líder, alguém superior a você controlando tudo que você faz e pensa, independente do quanto você esteja fugindo desse controle. até no grupo rebelde que é contra o controle, o controle existe. (quanto controle em um mesmo período q)
    A ideia da tortura na arena, que todo tributo sofre, e nunca mais volta a ser o mesmo. O pavor, a loucura, o vazio que os tributos vencedores sentem depois de tudo isso.
    A confirmação da loucura entre Peeta e Katniss, desde o reencontro até o fim do livro, que deixa todos os leitores extremamente abalados e com um aperto no coração.
    Falando como um todo, a verdadeira CATÁSTROFE emocional que esse livro proporciona. No fim voce não sabe se gostou PRA CARAMBA ou se odiou o final da trilogia. mas é isso. é um livro impactante e maravilhoso, com um final nem um pouco bonitinho, triste… mas com um final digno de vida real!

    • Ualll Giulia, confesso que não fui tão a fundo, mas gostei dessa ideia toda, temos a questão dos rebeldes, das mortes dos cíveis, das torturas, do Distrito 13 ter sido meio filho da mãe de nunca ter feito nada para ajudar os outros… Isso de verdade dá um grande e bom debate.

  2. OK, vc quer ouvir a parte q eu chorei ou a parte q eu adorei esse post?
    Eu adoro essa serie e o 3° vol eh o mais forte de todos. conversei com gente q n gostou, conversei com quem gostou… e bem eu adorei ele justamente por ser real. Quem n gostou reclamou q a Katniss tava mt ‘morta’ mas como vc ficaria depois de passar td q ela passou???
    otimo texto 🙂

    • A questão da Katniss é o mal de todo o protagonista, estamos na cabeça deles, sabemos tudo o que ele pensa e o achamos idiotas, mas todos somos idiotas porque a maioria pensaria assim, quando falam que Peeta é brilhante, é porque a gente não está na cabeça dele, se estivéssemos, ele poderia não ser tão brilhando.
      Continuo adorando a Katniss, ela é minha protagonista preferida

  3. Eu ainda não li os livros, mas estou realmente curiosa para ler. Eu já sou do tipo que curto uma leitura que mostre um pouco mais a realidade, mas não sempre afinal, viver no mundo da fantasia é bom por algumas hora,s já temos realidade demais a nossa volta.
    Porém entendo o motivo do livro ter lhe marcado tanto, mesmo sem ainda não ter lido. Afinal ler coisas que temos certeza que ocorrem, em paginas de livros, nos fazem ter a certeza dessas ainda mais, e isso se torna um tanto assustador no fim de tudo.
    Bjs

  4. O que me faz gostar tanto dessa saga, por completo, é que, ao mesmo tempo que ela é completamente fictícia, ela é extremamente real. Cada ponto, cada acontecimento, cada situação é uma metáfora do mundo em que vivemos, e isso me faz pensar no quão genial a Suzanne Collins é.

    • São essas metáforas que fazem o livro ser tão fantástico, no primeiro livro ela faz a gente devora-lo com ações e os outros dois pensarmos melhor… Ele e bom, é confuso, ele penetra na cabeça e não sai.

  5. Esse post foi tão profundo. Só deixou A Esperança mais tocante e pessoal pra mim. Eu, que li o livro inteiro banhada em lágrimas, não tinha pensado em alguns aspéctos abordados aqui. Apesar de Panem não existir, o controle de uns sobre outros existe, a perda de alguém próximo existe, amigos que se afastam existem, planos e sonhos interrompidos existem, pessoas que mudam por causa de acontecimentos aterrorizantes existem… e por aí vai. Não só A Esperança, mas toda a Trilogia Jogos Vorazes nos marca, nos traz lições, nos faz rir e chorar. É como a vida, tem momentos alegres e tristes.

    • Larissa,
      Obrigada pela visita, realmente fico feliz de ter conseguido mostrar meu ponto de vista que A Esperança é um livro muito profundo, nunca imaginei que ficaria em choque tão grande lendo um livro assim.

  6. Lindo post,realmente tocante… quando li a morte de Prim e tive que parar de ler e não conseguii parar de chorar por algum tempo, me senti muito mal.. SEM esperança naquele momento e ainda mais porque eu não via como a relação entre Peeta e Katniss iria dar certo, se um deles acabaria morrendo…

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