Num futuro próximo, o governo dos Estados Unidos instituem a Noite de Crime, um evento onde os assassinatos são permitidos, para que os cidadãos liberem os seus instintos violentos. Faltando poucas horas para o início deste feriado sangrento, cinco pessoas se encontram nas ruas: o jovem casal Shane e Liz, que não pode voltar para casa já que o carro parou de funcionar; a garçonete Eva e sua filha adolescente, sequestradas dentro de seu próprio apartamento por vizinhos selvagens, e o Sargento, um homem misterioso que vai às ruas em busca de vingança. Apesar de serem muito diferentes, eles tentam sobreviver juntos a doze horas de barbárie.

Faz tempo que queria ver esse filme, porém foi apenas depois de uma reunião sobre trabalho de faculdade que aconteceu em uma pizzaria que eu resolvi catar no Netflix para realmente ver esse filme.

A intenção dessa postagem não é fazer uma crítica, talvez eu venha fazer a crítica desse e dos outros filmes dessa série no futuro (só se vocês quiserem, é claro!), mas sim falar sobre a mensagem por trás do filme, então para quem não viu o filme ainda, cuidado, pode ter spoillers!

Quando pensei na ideia de ter 12h livres para cometer qualquer crime, eu pensei que a ideia era até tentadora, imaginem, 12 horas para fazer qualquer coisa e não ser penalizado por isso. Logico que meus desejos nesse momento eram mais ingênuos, eu pensei em 12 horas de parques, boliche, pista de patinação no gelo, karts, etc totalmente gratuitos, seria muito divertido. Mas o filme te mostra que não é essa ingenuidade que podemos esperar.

As 12h livres de crimes são feitas na verdade para um controle populacional, onde os que se aproveitam disso não estão na rua para ir a lugares pagos de forma gratuita, eles estão nas ruas para matar, para torturar e isso não é nada divertido, principalmente quando se pensa que você não está seguro nem mesmo dentro de casa.

Pensando por esse lado, são 12h de terror e aflição para qualquer pessoa do bem, 12h de medo, onde qualquer ruído pode significar pessoas invadindo a sua casa para matar e torturar você e toda a sua família e isso é bem desesperador. É como se fosse uma edição dos Jogos Vorazes onde todos são tributos, o filme demonstra o que existe de pior na humanidade, o desejo de matar alguém por puro prazer e isso é desesperador, é desesperador pensar que somos assim.

No filme as personagens Eva e sua filha foram as que mais me deixaram aflitas, já que ainda nas primeiras horas elas descobrem que o pai de Eva, um senhor muito doente, acaba se entregando a uma família rica, se vendendo pois estava cansado de ser um estorvo para a família e assim a família iria ter algum dinheiro para se manter. Pensar no desespero delas sabendo que alguém que elas amam iria morrer e ainda por cima, na mão de ricos assassinos e covardes, já que nem para caçarem a sua própria pesa eles tem coragem.

O apartamento das duas acaba sendo invadindo e ambas tem que fugir para conseguir sobreviver, ver o desespero delas quando estão na mira de uma arma dá vontade de chorar, principalmente ao me colocar no lugar da filha de Eva, eu realmente não sei o que faria, com certeza seria a minha maior dor.

Mas será que a humanidade chegaria a esse ponto caso tivessem 12h sem crimes? Será que esse filme espelha a realidade? Será que teríamos realmente 12h de pessoas invadindo a casa dos outros para matar qualquer um sem piedade? E por mais duro que seja responder isso, eu acredito que sim. Que seríamos capazes de fazer coisas até piores do que as do filme. Não precisamos imaginar um cenário apocaliptico, basta vermos o que aconteceu em ES no início do ano com a paralisação da PM.

Mas o que nos faz seguidores de regras, o que nos impede de matar, roubar e torturar? Será que é nosso caráter? Nossa consciência? Ou será que são as regras que são impostas na nossa sociedade? Será que é apenas o que nos é ensinado que nos impede de fazer coisas erradas? Vamos a um exemplo fácil! Na sua casa, sua mãe ou seu pai (se você mora sozinho já, lembre-se da época que você morava com seus pais) é responsável por fazer as compras da casa, eles que pagam pela comida que você come, por aquele biscoito que você leva para a escola.

Se você está com sede ou com fome, você pode simplesmente abrir a geladeira ou a dispensa da sua casa e pegar algo para beber ou comer. Mesmo sabendo que aquilo que você está bebendo/comendo não foi você que pagou, mas tudo bem. Seus pais lhe educaram de forma a saber que você pode pegar o que quer beber/comer em casa sem pedir a permissão deles.

Mas quando você está na casa de um amigo (não to falando daquele amigo que a casa dele é a sua segunda casa, sim daquele amigo que você está indo pela primeira vez na casa) e está com sede ou fome, você não vai sair abrindo a geladeira e pegar algo, vai pedir antes. Se está em um mercado vai pagar antes (bem, pelo menos a maioria das pessoas). Mas qual a diferença entre comer algo que seus pais compraram, que os pais de seu amigo compraram ou que o dono do mercado pagou? A única diferença é a forma que você é educado, é o fato que nos dois ultimos exemplos você teme o castigo.

Mas e se não houver castigo? E se por 12h você puder fazer o que desejar e nunca pagar por isso? Será que pegaria as coisas do mercado sem pagar? Eu não posso falar por você, mas posso dizer pelo exemplo de ES que a maioria das pessoas sim, a forma como a maioria das pessoas agem, não é pelo caráter e sim pelo medo da pena que terão pelos seus atos. Quando aquelas pessoas que nunca cometeram um crime passaram a roubar lojas por saber que não seriam presas, elas prejudicaram os donos das lojas e provavelmente até funcionários que vieram a ser demitido pois algumas das lojas roubadas foram a falência.

O que difere então a pessoa que, nos dias sem lei, prejudicaram diversas famílias roubando daquelas que no filme prejudicam famílias matando? Definitivamente o filme “Uma Noite de Crime” te mostra não apenas uma ficção da mente criativa dos roteiristas e diretores e sim o pior lado da humanidade.

Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

No responses yet

    • O que dá mais medo é que não tem espíritos, palhaços fantasmagóricos, vampiros, nada sobrenatural… E sim algo que podia MESMO acontecer!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *