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Indicado nas categorias de
Melhor filme
Melhor diretor (Alfonso Cuáron)
Melhor atriz (Sandra Bullock)
Melhor direção de arte 
Melhores efeitos visuais
Melhor montagem
Melhor fotografia (Emmanuel Lubezki)
Melhor trilha sonora original
Melhor edição de som
Melhor mixagem de som

ATENÇÃO! Esta resenha contém pequenos spoilers.

Quando, em dezembro, elegemos Gravidade como o terceiro melhor filme de 2013, devo confessar que eu ainda estava sob o feitiço do filme. Hoje eu mudaria bastante coisa nessa lista; alguns filmes sairiam, outros entrariam, e outros, como Gravidade, apenas cairiam de posição. Admito: Gravidade não é o filme nota 10 que eu pensei que fosse. Mas também não fica muito atrás disso. Se existem erros nessa obra-prima, são pequenos desvios que não atrapalham no conjunto de um dos melhores filmes de ficção científica dos últimos anos.

A história de Gravidade já é conhecida. Dois astronautas – o veterano Matt Kowlasky, em sua última missão antes da aposentadoria, e a novata dra. Ryan Stona – sofrem um acidente em pleno espaço sideral, e, sozinhos diante da nave destruída, encontram-se presos à deriva na vastidão do espaço. Longe de qualquer outro ser humano e sem contato com a Terra, os dois têm que enfrentar a vida e morte enquanto o tempo passa e as esperanças acabam.

Para o público geral, que cria expectativas de um grande filme pipoca cheio de ação, esse pode ser um filme bastante chato e entendiante. Quer dizer, outro dia, vi um comentário de um menino falando que esperava que a dra. Ryan caísse num planeta alienígena. Really, gente? Sério mesmo? Já para o público mais sofisticado, é difícil dar o braço a torcer por um filme mainstrain. A grande diferença é que Gravidade não é o típico blockbuster de todos os dias; não é um filme com foco em explosões (apesar de haver duas ou três ao longo de seus 90 minutos), nem de grande ação nem de “momentos coxinha” típicos de enlatados de Hollywood. Gravidade é um filme de 100 milhões de doláres sobre vida, morte, nascimento e perdão: uma jornada sobre a necessidade de seguir em frente e continuar vivendo, não importa o quão machucados e destruídos estamos por dentro.

Falar de questões técnicas é chover no molhado, assim como falar sobre o perfeito suspense de roer as unhas; é óbvio que Gravidade é o favorito na maior parte das categorias técnicas do Oscar em que está concorrendo, afinal, nunca um filme sobre o espaço foi tão realista. Óbvio que Alfonso Cuáron é o favorito para melhor diretor – seus longos planos-sequências, uma marca de sua carreira, nunca estiveram tão bem colocados e tão geniais quanto em Gravidade. Se Cuáron perder esse Oscar, será provavelmente uma das maiores injustiças da história da Academia. Mas disso tudo já sabemos. Em vez disso, vou falar da incrível história de Gravidade, um roteiro simples que esconde um gigantesco simbolismo e uma linda história sobre o ser humano.

Gravidade não é só um conto sobre dois astronautas fugindo do espaço. É uma reflexão sobre as dores da humanidade, sobre a necessidade que temos de deixar para trás as tragédias e os erros de nosso passado para podermos seguir em frente. O espaço sideral não é simplesmente um ambiente: é uma metáfora para a tristeza e o silêncio da dor que nos acompanha diariamente. A dra. Ryan Stone não está somente tentando fugir do espaço para sobreviver – ela está fugindo da tragédia que marcou sua vida, aceitando-a e só então passando a conviver com ela. Ela está renascendo – outra metáfora genialmente conduzida por Cuáron, que em vários momentos compara o espaço à barriga de uma mãe. Inclusive, em um momento em especial, a dra. Stone pode ser vista flutuando em posição fetal, com um feixe de luz entrando pela janela da nave espacial, numa clara referência à imagem de um bebê no conforto da bolsa de sua mãe. Os astronautas são como bebês, prestes a nascer, mas, para isso, precisam deixar para trás a vida que conheciam… e só então poderão dar os primeiros passos num novo mundo, na lindíssima cena final que marca a superação da dra. Stone.

Eu vejo muita gente reclamar de Gravidade justamente pelo roteiro extremamente simples que se desenrola em tempo real, mas, honestamente, isso não é nenhum desmérito, principalmente considerando que o filme não conta uma história literal, e sim uma alegoria cheia de metáforas inteligentes – uma obra-prima intensa, pra ser analisada por dias e dias. Com Gravidade, Alfonso Cuáron se reafirma como um dos melhores diretores vivos, e trilha seu caminho para logo se tornar um dos melhores diretores de todos os tempos – ou, no mínimo, um dos mais marcantes. Não é um filme de ação, nem mesmo uma ficção científica cheia de alienígenas: é um filme sobre a fragilidade do ser humano. E por isso é tão perfeito.

Nota: 9/10

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Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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