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Blackkklansman é um filme dirigido por Spike Lee baseado na história real de Ron Stallworth, um policial negro do estado do Colorado (EUA) que durante a década de 1970, conseguiu se infiltrar na organização local da  Ku Klux Klan  e desmascarar seus planos de linchamento e outros crimes de ódio orquestrados pelos racistas.

Ron, no filme interpretado por John David Washington, inicia sua investigação primeiramente enviando cartas e se comunicando por telefone com os membros da organização fascista e depois de aceito no círculo restrito da Klan, precisa enviar um policial branco, Flip (Adam Driver) para assumir sua identidade. Os dois polícias se envolvem em uma investigação perigosa, mas que acaba com a sabotagem de vários planos da Klan.

Paralelo a isso e de forma leve e bem descontraída,  o filme mostra como o racismo funciona para além da Klan, já que o tempo todo Ron precisa se provar como capaz dentro do departamento de polícia o qual trabalha, vivendo casos explícitos de racismo e outros mais disfarçados porém ainda assim evidentes.

Mais do que a figura do racista, o filme ataca  e ridiculariza o fio condutor das ideias racistas, mostrando como sua lógica não tem lógica, e que tudo na verdade se trata de pura descriminação e ódio contra um povo. David Duke (Topher Grace), na época uma das lideranças da Ku Kluk Klan e que recentemente declarou que nosso presidente “soa como nós”, desempenha um importante papel no filme e compartilha um dos maiores momentos do filme, sendo uma amostra da delirante mentalidade racista.

O filme se passa em 1979, num momento posterior a luta do movimento negro americano pelo fim das políticas de segregação que marcaram a década de 1960, mas que adentram toda a década 1970 e além. Embora o próprio Ron não seja uma pessoa envolvida diretamente com toda a efervescência do movimento negro no período, ele buscar aproveitar-se de seu lugar dentro de uma instituição notavelmente branca para combater o racismo e trazer melhorias para os seus irmãos negros.

Dentro de Infiltrados na Klan, existe referencia ainda aos Panteras Negras, ao movimento estudantil negro, além de uma dura crítica ao cinema segregacionista, cujo principal ícone é O Nascimento de uma Nação (1915), e aponta os estereótipos reforçados pelo cinema de blaxploitation americano. Aliás, acho que quem teve o privilégio de viver os anos 70 vai se sentir incrivelmente saudosista assistindo a esse filme, não necessariamente pelas ideias, mas pela minuciosa reconstituição do período pelo longa. Ele tem todo um cheiro dos anos 70.

 

O filme ainda estabelece um diálogo com os dias atuais, demonstrando de que maneira o discurso da extrema-direita adotou uma aparência “democrática” para se infiltrar na política e eleger políticos em cargos importantes, o que teria culminado com a presidência de Donald Trump. Estamos no terreno do racismo velado, institucionalizado, do tipo que diz “Não tenho nada contra negros, contanto que fiquem entre eles”. É a violência travestida de liberdade de expressão.

 

 

 

 

Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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