Sempre tive vontade de fazer uma análise mais a fundo de todos os episódios de Black Mirror (que se tornou minha série favorita do Netflix), mas sempre fui deixando para depois, acontece que o depois chegou e eu resolvi começar com o episódio mais controverso da série inteira Metalhead, que é o quinto episódio da quarta temporada de Black Mirror, então caso você ainda não tenha assistido pare sua leitura por aqui, pois o que mais vai rolar serão spoilers!
Porque esse episódio foi tão polêmico? Porque a principio foge do que conhecemos de Black Mirror e não estou falando isso apenas por ele ser preto e branco, mas porque sua “crítica” não ficou tão evidente estamos acostumados, até mesmo a Anitta perguntou em seu Twitter o que tinha sido aquele episódio.
Mas vamos relembrar como foi o episódio…
Aparentemente o episódio que foi feito totalmente em preto e branco mostra três pessoas, dois caras e uma mulher, indo pegar suprimentos, podemos ver que o mundo parece devastado, como se algo muito grande tivesse acabado com a vida no planeta Terra, não só a vida dos humanos, mas também a vida de animais e pelo o que dá para entender existe grupos de sobrevivente que batalham para conseguir se manter.
Esses personagens vão até o que parece ser uma fabrica ou um galpão, eles vão invadir o mesmo em busca de suprimentos e a mulher quer pegar algo em especial para uma pessoa em especial, justificando que ela deve isso a alguém que morreu por eles. Como se fosse alguém que se sacrificou para o grupo deles de sobrevivente.
Porém assim que a mulher e o homem mais velho entram no depósito, ao pegarem a caixa com esse item especial, eles acabam ativando um dos robôs de segurança, que parece um cachorro, o homem mais velho morre e a mulher foge sem conseguir pegar o que queria, ela avisa ao outro homem e os dois começam a fugir do cão robô.
O outro homem acaba sendo morto e somente a mulher sobrevive por um tempo pelo menos. Ela tenta de todas as formas fugir do cão robô, mas ele no fim acaba encontrando-a, ela pensa em um plano para matá-lo e quando o destrói o cão acaba explodindo liberando alguns localizadores para os demais robôs cachorros que acertam ela, um desses localizadores acerta seu pescoço, perto da jugular e ao perceber que provavelmente não conseguiria sobreviver ao tirar, ela se despede do seu grupo de sobreviventes através de uma comunicação no rádio e no fim não dá para saber se ela se mata ou espera os robôs chegarem.
A câmera começa a mostrar por alto vários robôs cachorros indo na direção dela e então mostra o deposito onde ela tinha invadido e finalmente o conteúdo da caixa é exibido e mostra ursos de pelúcia, era pelos ursos que ela tinha ido na missão.
Agora vamos entender sobre esse episódio, que tem uma ideia maravilhosa porem acho que não funcionou muito bem a forma que ele foi conduzido e por isso é considerado por muitos o pior episódio de Black Mirror.
Para começar o fato do episódio ser em preto e branco não foi totalmente aleatório, na minha opinião essa escolha de “cores” do episódio é para mostrar um futuro sem esperança, sem sonhos, onde a humanidade está vivendo seus piores dias e por isso a vida não é mais colorida e sim preta e branco. Uma alegoria leve, mas que acho que fica bem entendido.
Continuando, o cachorros robôs que vemos nos vídeos não é muito longe da nossa realidade e aí que vem a crítica desse episódio, só para vocês saberem, uma empresa chamada Boston Dynamics já possuí robôs muito parecidos com o que vemos na série, que são os Spot Mini Robot Dog:
Inicialmente na série os robôs seriam controlados por humanos, teria até mesmo uma cena com um operador humano controlando o robô da casa dele, do outro lado do oceano, por achar a cena supérflua a mesma foi cortada, o que na minha opinião deixa o episódio mais macabro um pouco, afinal se tem operadores humanos controlando os robôs, mostra que os humanos ainda estão no controle, porém quando os robôs passam a ter controle de si mesmo, a humanidade pode estar arruinada, afinal iremos falar sobre inteligência artificial e como ela pode ser amiga ou inimiga da humanidade.
No episódio vemos a I.A. sendo inimiga da humanidade e mostrando que pode ser impossível para nós humanos competir contra ela, afinal durante todo o episódio a mulher tenta escapar do robô, não conseguindo e isso é algo um pouco alarmante já que a I.A. artificial está evoluindo cada vez mais e já pode se passar por uma pessoa. Para entender isso, assista esse vídeo onde eu falo sobre inteligência artificial, o quanto ela está avançada e como isso pode nos ser prejudicial.
Outra coisa bem marcada nesse episódio é a cena final, onde aparece a caixa com os ursos caída no chão e acreditem aqueles ursos não estão ali a toa e o fato da mulher ter ido em uma missão suicida para conseguir pegar os ursos para uma criança, também não foi uma escolha aleatória, na verdade esse é o grande ponto alto do episódio, afinal o urso significa duas coisas, afeto e infância, algo comum para nós humanos, mas algo inexistente para as máquinas que não possuem nenhum dos dois.
O fato deles estarem caído no chão é exatamente uma demonstração do que o mundo perde quando nós, seres humanos, somos substituídos por robôs, na realidade isso é o que o mundo perde quando estamos em uma situação de guerra, ou pós apocalíptica, podemos ver isso em seriados com esses temas, como em The Walking Dead, em um dos episódios o Rick fala que queria que o filho tivesse uma infância comum como a dele, onde ele brincava e não se preocupava.
Isso também acontece na vida real, em lugares em situações de guerra onde crianças perdem a infância e o afeto, afinal é extremamente comum ver em alguns países em guerra, principalmente os mais extremistas preparando crianças para serem soldados, fazendo-as abandonar sua infância e seu afeto para matar em nome de uma causa, trocando brinquedos por armas.
Portando os ursos de pelúcia caídos no chão sem ninguém usa-los, sendo protegido por robôs que são capazes de matar para isso, deixa cada vez mais claro a necessidade de em situações de guerra (seja ela contra outras pessoas ou robôs) a criança deixar para trás a sua infância em troca de sobrevivência.
Sobre os robôs terem forma de cães, além de provavelmente ser uma alfinetada na empresa Boston Dynamics, dizendo claramente para eles tomarem cuidado com a tecnologia que estão desenvolvendo, é provavelmente um simbolismo para a forma que tratamos a tecnologia hoje em dia, afinal já é conhecido o ditado que o cão é o melhor amigo do homem e hoje tratamos a tecnologia como se fossem nossa grande amiga, uma aliada que trabalha para a gente e torna nossa vida mais fácil mas será que é mesmo?
Vamos fazer uma analise dos cachorros, eles realmente podem ser considerados o melhor amigo do homem pois existem muitos cães que auxiliam pessoas necessitadas, como os cães guias e até mesmo os cães usados em tratamento para pessoas que sofrem algum tipo de Transtorno pós traumático. Existem também os cães usados para proteger algum lugar e os cães policiais que são treinados para ajudar a conter alguém e no episódio vemos que os robôs se aproximam mais desses tipos de cães.
Acontece que um cão treinado recebe ordens e obedece o seu dono, se o dono manda atacar, eles atacam. Na maioria das vezes esses cães são treinados para atacar e obedecer comando e não pensar e é ai que mora o perigo. Se os robôs do episódio seguem esse instinto, então temos uma máquina mortífera que não pensa se o que está fazendo é certo ou errado, apenas age por ordem de alguém ou alguma coisa. Como no episódio não demonstra nenhum humano controlando o robô isso fica em aberto, quem fez os robôs? Qual seu propósito inicial? Quem os controla? E se esses robôs foram criados por alguma outra inteligência artificial e obedece comandos dessa inteligência? Que como já vimos, por ser uma máquina a mesma não possui nenhum afeto… Bem, meus caros, se é isso mesmo… Então isso demostra o quão fudido está a humanidade nesse episódio, principalmente com a velocidade de comunicação que os robôs tem.
Vamos lá, praticamente todas as formas de comunicação hoje em dia são controladas por máquinas, seja a internet, seja o telefone, somos reféns das máquinas, ou tem alguém aqui que ainda usa carta como sua principal forma de comunicação? Tirando os encontros e os momentos de conversa, que estão se tornando cada vez mais raros, toda nossa comunicação funciona através de computadores…
No momento em que o robô morre, ele manda uma aviso bem rápido aos demais robôs sobre a fugitiva e ainda deixa um localizador nela, o que faz os demais robôs irem atrás dela imediatamente, enquanto nossa fugitiva precisa usar um rádio mega ultrapassado, que não funciona muito bem, para se comunicar e a comunicação é uma chave fundamental para nossa evolução.
Quanto mais rápido é a comunicação, mais rápido é o aprendizado, hoje em dia com certeza temos uma facilidade bem maior de aprender algo novo do que tínhamos à 100 anos atrás e assim conseguimos entender o porque no episódio os robôs estão bem mais evoluído que nós no episódio.
Vamos a um exemplo básico para ficar mais fácil de entender, existe duas formas de adquirirmos conhecimento, através de experiências próprias e através da experiência passada por outras pessoas através da comunicação.
Por exemplo, em algum momento no passado alguém colocou a mão no fogo, sentiu que ele queima e dói e passa isso adiante. Quando você é criança provavelmente sua mãe te explicou isso, se você colocar a mão no fogo queima e faz doer, então, na maioria das vezes pelo menos, a criança aprende e não coloca a mão no fogo. Então tivemos um conhecimento que começou com uma experiência e depois foi para a comunicação.
Se você foi o tipo de criança que colocou a mão no fogo mesmo assim e se queimou, você pelo menos aprendeu pela experiência que colocar a mão no fogo dói e provavelmente ficou um bom tempo longe do fogo.
Hoje em dia as máquinas não possuem nenhum tipo de algoritmo capaz de fazê-las aprender por experiência, somente pela “comunicação” ou através de programação, mas com a evolução da I.A. isso pode não demorar muito e o dia que as máquinas passarem a aprender pela própria experiência, com a velocidade da comunicação que elas tem total acesso, isso iria superar a velocidade delas de aprendizado exponencialmente, pois elas aprenderiam pela própria experiência e também pela nossa comunicação, fazendo com que, mesmo que criadas por nós, elas ultrapassem nosso conhecimento de forma muito rápida e se isso acontecer, elas não precisam mais de nós, portanto… Adeus humanidade
Então, Metalhead é um episódio que tinha muito para contar, porém não foi tão eficaz nisso, de qualquer forma ele se mantem como sendo uma crítica a evolução da tecnologia, nos mostrando que talvez nosso maior medo não deve ser de um apocalipse Zumbi… Não mesmo, nosso medo deve ser a revolução das máquinas e com os avanços dos nossos próprios estudos tecnológicos, isso não está tão longe, podemos chegar a, um dia, termos que lutar contra as máquinas que nós mesmo fizemos, nos tornando reféns de quem um dia foi considerado nosso melhor amigo e ajudante.
Mas e vocês? O que acharam disso? Acham que o que eu escrevi faz sentido ou eu simplesmente viajei? Tem alguma outra teoria para esse episódio? Então deixe aqui nos comentários!!!
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