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Mad Maria, escrito em 1980, é o segundo livro de Márcio de Souza e a narrativa transcorre no interior da Amazônia. O livro relata a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, entre 1907 e 1912. Na época os investidores tinham o objetivo de construir uma estrada que pudesse competir com o Canal do Panamá. A ferrovia integraria uma região rica em látex na Bolívia com a Amazônia, mas no caminho, encontraria obstáculos descomunais: 19 cataratas, 227 milhas de pântanos e desfiladeiros, centenas de cobras e escorpiões, árvores gigantescas e milhões de mosquitos transmissores de malária. Antes de terminadas as obras, 3,6 mil homens estavam mortos, 30 mil hospitalizados e uma fortuna em dólares desperdiçada na selva.

Mad Maria é um romance sem complacência, uma Ilíada proletária onde os deuses são substituídos por políticos corrompidos, Norte-Americanos rapinantes. Chefes sem piedade, e seria errôneo acusar Márcio Souza de maniqueísmo: nenhum de seus personagens redime o outro, Finnegan, o mais confiante, o mais idealista, o mais fraternal, acabará na pele de um assassino. Assim são as coisas em uma Amazônia que deveria inspirar coesão, solidariedade, mas que exacerba egoísmo, multiplica suscetibilidade e conflitos, sacrifica o melhor pelo pior…

Há algo de Zola e de Jack London em Mad Maria. O importante não é este ou aquele personagem, mas a vitória do sistema. Ninguém sai ileso. Aqueles que tentam escapar terminam em bordéis ou, mais radicalmente, acabam decapitados.

Com Mad Maria, Márcio Souza assinou um romance amargo e vingador, sarcástico às vezes. Porém, para dizê-lo cinicamente, o que pode uma flecha de curare contra um exército de bulldorzes?

Ao escolher os episódios mais macabros e inacreditáveis dos registros históricos dos cinco anos da construção da ferrovia e concentrando-os em três meses de pesadelo, Márcio Souza força o leitor – neste momento já quase um personagem emaranhado na vegetação – a confrontar o inferno. Mad Maria é um romance amargo e vingador, sarcástico, às vezes. Uma obra-prima da literatura brasileira.

Tirando alguns exageros, como a queda de árvores de cinco metros de raio (!) sobre os trilhos da ferrovia, e o hino norte-americano sendo tocado ao piano com os pés pelo índio de mãos amputadas, Mad Maria ainda assim é um bom romance que resgata esse trágico episódio envolvendo o capital estrangeiro tentando rasgar a selva com o progresso dos trilhos às custas de milhares de mortes. Entre os legados dessa empreitada norte-americana no Brasil está a cidade de Porto Velho, atual capital de Rondônia, erguida em 1907 durante a construção da Madeira-Mamoré e que substituiu a cidade de Santo Antônio como ponto inicial da ferrovia. Sucateada na década de 70, a estrada de ferro teve seus trechos iniciais recuperados para fins turísticos nos anos 80, mas hoje está totalmente desativada. A louca Maria, abandonada, há muito já não reina sobre os trilhos amazônicos e não joga sua fumaça pela selva desbravada.

Em 2005 o livro ganhou uma minissérie produzida e exibida pela Rede Globo e pelo Canal Futura, com um total de 35 episódios.

Escrita por Benedito Ruy Barbosa e com direção de Ricardo Waddington, a minissérie foi gravada na cidade de Porto Velho e Guarajá – Mirin, no estado de Rondônia e suas cenas finais foram rodadas na cidade de Passo Quadro em Minas Gerais.

Contou com um elenco de primeira de atores da Globo como Antônio Fagundes, Priscila Fantin, Fábio Assunção, Ana Paula Arósio, Tony Ramos, Cássia Kiss, Cláudia Raia e Juca de Oliveira nos papeis principais.

Voltará a ser exibida no dia 9 de setembro desse ano, no canal Viva.

 

Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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