Categories:

Simon Snow é um bruxo que estuda numa escola de magia na Inglaterra. Profecias dizem que ele é o Escolhido. Você pode até estar pensando que já conhece uma história parecida. O que você não sabe é que Simon Snow é o pior escolhido que alguém já escolheu.
Poderosíssimo, mas desastroso a ponto de não conseguir controlar sequer sua própria varinha, Simon está tendo um ano difícil na Escola de Magia de Watford. Seu mentor o evita, sua namorada termina com ele e uma entidade sinistra ronda por aí usando seu rosto. Para piorar, seu antagonista e colega de quarto, Baz, está desaparecido, provavelmente maquinando algum plano insano a fim de derrotá-lo.
“Carry On” é uma história de fantasma, de amor e de mistério. Tem todos os beijos e diálogos que se pode esperar de uma história de Rainbow Rowell, mas com muito, muito mais montros.

Pensei em começar dizendo que esperava mais desse livro, mas não é bem verdade. A verdade é que eu esperava algo diferente de Carry On. Esse é definitivamente um livro bem bobalhão, demanda que o leitor abra a mente para deixar piadinhas velhíssimas e conflitos menos elaboradões entrarem. De certa forma eu não consegui engolir de prontidão boa parte disso, foi um processo meio lento, ainda mais com grande parte do início sendo arrastada, mas os personagens possuem um magnetismo tão grande que aos poucos as barreiras caíram por terra e me permiti ser levado.

No estilo narrativo da Rainbow, mesmo com os acontecimentos de pano de fundo, o fator predominante é o desenvolvimento dos personagens. O que liga e amarra a história. Partindo disso, o começo de Carry On, onde o universo mágico é apresentado e consolidado ao leitor, é bem lento e certas vezes até chatinho? O mundo é interessante, tem coisas bem engraçadas tipo: uma das professoras da escola de magia Watford se chama Possivelfa, e o Simon fala “hmm ouvi rumores que ela não é humana”. (Quão melhor pessoa é esse garoto? HAHAHA!) Mas ao mesmo tempo eu entortava o nariz imensamente para os nomes dados aos feitiços, como: Mortinho da Silva, Um Passarinho me Contou, Pau que Nasce Torto Nunca se Endireita, expressões muito abrasileiradas que só davam um ar bobinho demais à historia. Mesmo com a escrita deliciosamente divertida da Rainbow, grande parte dos acontecimentos não realmente me entretinha, deixavam-me mais na vontade de que a história realmente começasse; o que só vem a acontecer quase na metade do livro.

Comparações a Harry Potter à parte (mesmo que sejam impossíveis de negar), Carry On trata-se na verdade do ponto de vista da Rainbow para a famigerada Jornada do Herói — quase como uma análise. Logo os plots da história girarão em torno de fatores da evolução de um herói, e, mesmo que divertidos, foram, em sua grande maioria, bem previsíveis. Do tipo que você aceita que é legal, mas ainda assim é algo obvio e que te faz revirar os olhos disfarçadamente, sabe? Meio controverso, mas acho que é válido.

A dinâmica entre os personagens, tipicamente Rainbow, é magistral. Os diálogos dessa mulher realmente parecem conversas reais, poderiam muito bem ser transcrições de conversas de alguém à nossa volta. Mesmo tendo me desacreditado de início por sua falta de habilidade depois de SETE ANOS na escola, o jeitinho atrapalhado e avoado de Simon me conquistou de uma forma muito próxima. Indo na direção contrária do vejo a maioria falando, me encantei muito mais por seu modo awkward que toda a atração de bad boy do bom coração de Baz, mesmo ele também sendo espetacular. A interação de Simon e Penélope é muito friendship goals. O modo altruísta que ela se importa com Simon, sem querer ou precisar que seja recíproco é muito emocionante. Até mesmo Agatha, que por um bom tempo só me pareceu muito avulsa na história, indo contra todo mundo, ao longo dos acontecimentos mostra um ponto de vista que mesmo não sendo muito esperado e até mesmo bem aceito, também é relacionável.

O romance de Simon e Baz é tanto a melhor parte do livro quanto um gostinho meio amargo na ponta da língua. Partindo do pressuposto que no início do livro Simon tinha metido na cabeça que o motivo do sumiço de Baz era alguma tramoia contra ele, quando os sentimentos dos dois ganham luz, o que antes pareciam troca de farpas tornam-se flertes maravilhosos. O relacionamento dos dois se dá por momentos muito íntimos, demonstração de afeto cruas e simplórias que deixam o peito quentinho e pedindo mais. Uma fofura que parece não ter fim e que seria realmente maravilhoso se não tivesse. Porém a relação dos dois foi uma dose mal balanceada com relação ao resto do livro. Em vez de explorar ao máximo a reciprocidade dos dois, mostrando-a mais de perto e talvez até mais lentamente, passam-se plots basicões que tiram o foco do amorzinho dos dois. Não que tenha pouco romance, mas que os momentos em que ele entra em foco, quando os dois ficam sozinhos e você começa a gritar de amores, passam muito rápido quando eu só queria que durassem mais umas 500 páginas.

Com certeza um livro que necessita certo desprendimento com relação a ritmo narrativo e uma pegada mais simplista para uma fantasia, algo que eu provavelmente não estava num momento bom para ler. Mesmo com vários pontinhos que me desagradaram ainda assim é um livro que, apesar de eu ter lido bem devagar por falta de tempo, me deixava com um sorrisinho bobo no rosto.

Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

No responses yet

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *