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Ela é doce, sensível e extremamente sofrida: tem dezesseis anos, mas a maturidade de uma mulher marcada pelas provações e privações da pobreza, o pulso forte e a têmpera de quem cria os irmãos menores como filhos há anos, e só uma pessoa conhece a mágoa e a abnegação que se escondem por trás de seus tristes olhos azuis.

Ele é brilhante, generoso e altamente responsável: tem dezessete anos, mas a fibra e o senso de dever de um pai de família, lutando contra tudo e contra todos para mantê-la unida, e só uma pessoa conhece a grandeza e a força de caráter que se escondem por trás daqueles intensos olhos verdes.

Eles são irmão e irmã.

Mas será que o mundo receberá de braços abertos aqueles que ousaram violar um de seus mais arraigados tabus? E você, receberia?

Com extrema sutileza psicológica e sensibilidade poética, cenas de inesquecível beleza visual e diálogos de porte dramatúrgico, Suzuma tece uma tapeçaria visceralmente humana, fazendo pouco a pouco aflorar dos fios simples do quotidiano um assombroso mito eterno em toda a sua riqueza, mistério e profundidade.

 

Eu quis muito ler esse livro, não pela historia do incesto consensual, mas sim pelo apelo dramático e entender o que levou dois adolescentes a viver essa situação. O livro é de uma tristeza e uma profundidade tão grande que fiquei de ressaca literária.

A historia se passa entre uma família pobre de Londres que o pai os abandonou para viver com outra mulher,a mãe a partir disso resolveu viver sua vida abandonando as obrigações maternas e materiais deixando a merce dos filhos mais velhos essa obrigação.

Nessa situação caótica estão os irmãos mais velhos Lochan e Maya que se veem as voltas com o estudo, o cuidado dos irmão mais novos Willa (5 anos), Tiffin ( 7 anos) e Kit (13 anos), as obrigações de casa como cozinhas, lavar e passar. Cuidar das contas e ensinar algo aos irmãos.

A mãe aparece de vez enquanto sempre embriagada e por poucas horas por dia. Quando ela esta não tem a preocupação com nada em relação aos filhos ou com sua postura perante eles.

Lochan por ser o mais velho se vê como o homem da casa e assume todas as responsabilidades e obrigações como o pensar no futuro para os menores. Ele sofre de síndrome do panico e tem ataques constantes quando tem que falar em publico. Tem dificuldade de se relacionar com os outros e apesar de suas excelentes notas vive sendo questionado por professores e educadores. Maya também é muito estudiosa e tem uma melhor amiga, não sendo tão solitária quanto Lochan. Após um encontro de Maya com um garoto da escola, a paixão aflora e eles não conseguem se conter e se rendem aos beijos.

Não vou dizer que concordo com a situação e com o incesto, mas vejo pelo lado emocional, eles não tinham outra vida,não tinha como se relacionar com outras pessoas que entendessem sua rotina e seu drama. Acho que por isso e por nunca terem sido irmãos verdadeiramente que acabaram se apaixonando um pelo outro. Mesmo sabendo que era legalmente errado, mesmo sabendo que a sociedade criticava e acha repugnante creio que foi por causa do companheirismo e da tristeza que os unia que fizeram com que o amor fraternal passasse a ser físico e carnal.

Eles sabiam da dificuldade e por vezes se viam como pais dos menores encontrando meios de soluciona problemas médicos, escolares e de convivência.

Entendi nesse livro que nem todo tipo de amor deva ser recriminado. Talvez, pela forma como foram criados, inseparáveis, como amigos, como verdadeiros companheiros e pela situação em que viviam, pode os ter levado a se relacionarem de outra forma, a se apaixonarem. E como uma das frases de Lochan, como algo tão errado pode parecer tão certo.

Lochan era o mais emocional, o mais sentimental, com mais responsabilidades puxadas pra si, mesmo tendo Maya pra lhe ajudar e estando sempre ali. Ele mesmo não aceitava o que sentia pela irmã, se achava sujo, se repudiava, mas foi algo mais forte que ele. E mesmo escondidos eles temiam o pior. Ate o ultimo momento ele pensou na família, no amor pelos irmãos menores, por fazer sempre o certo e ser o altruísta.

Acho que Tabitha soube trazer um assunto tão delicado de uma maneira tão triste e emotiva que não sei me posicionar nessa situação. Não sei dizer se sofri por eles ou se queria que eles ficassem juntos. Se aceito ou não,nessa situação – deixando bem claro que cada caso é um caso – se o amor deles era valido e até que ponto seria imoral. Se a palavra incesto, no conceito apresentado, teve sinônimo de sujo, nojento, pervertido ou qualquer outro. Se vale lei dos homens quando se tem uma situação tão triste e tão difícil como a que eles viviam. Me julguei como mãe em um livro onde a clara negligencia é abordada e que realmente acontece com varias crianças.

Um final trágico e que não me levou as lagrimas mas que me deixou arrasada psicologicamente e fisicamente.

Leiam e tirem suas próprias conclusões pois não tem sacanagem e nem obscenidade nessa historia. Tem tristeza, amor e luta pelo bem do próximo, pela sua família, pela maneira como se enxerga uma familia, e qual seu papel na vida e na sociedade e como é fácil pré julgar uma situação.

Foi a resenha mais difícil que fiz ate agora e que pela época de reflexão que é o Natal me fez pensar e refletir mais na minha própria vida.

Concluindo em uma unica frase: Um livro excepcional.

Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

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