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Quando uma história termina, outra tem que começar.
Com mais de 5 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, Como eu era antes de você conta a história do relacionamento entre Will Traynor e Louisa Clark, cujo fim trágico deixou de coração apertado os milhares de fãs da autora Jojo Moyes.
Em Depois de você, Lou ainda não superou a perda de Will. Morando em um flat em Londres, ela trabalha como garçonete em um pub no aeroporto. Certo dia, após beber muito, Lou cai do terraço. O terrível acidente a obriga voltar para a casa de sua família, mas também a permite conhecer Sam Fielding, um paramédico cujo trabalho é lidar com a vida e a morte, a única pessoa que parece capaz de compreendê-la.
Ao se recuperar, Lou sabe que precisa dar uma guinada na própria história e acaba entrando para um grupo de terapia de luto. Os membros compartilham sabedoria, risadas, frustrações e biscoitos horrorosos, além de a incentivarem a investir em Sam. Tudo parece começar a se encaixar, quando alguém do passado de Will surge e atrapalha os planos de Lou, levando-a a um futuro totalmente diferente.

Dependendo do seu ponto de vista, o texto possui spoilers!

O que dizer sobre a continuação de Como eu era antes de Você?Acho que posso começar dizendo que acho que fui uma das muitas pessoas que olhou pra essa continuação com extremo receio. Agora que terminei a leitura de Depois de Você, acho que eu tinha um pouco de razão.

Me deixe explicar por quê: Depois de você não é o que eu chamaria de livro ruim. Ele não é ruim. Eu me divertir em muitos momentos, sobretudo com a família louca da Louise. Como não rir com as loucuras dos pais dela e com a descoberta feminista de sua mãe que ocasiona todo aquele conflito conjugal?Como não rir e se sentir confortável com todo aquele clima de aconchego familiar?Eu ri mesmo, ainda que na maior parte do tempo, o livro transite entre assuntos previsíveis e nos faz perguntar se sua construção foi mesmo necessária.

Apesar disso, foi realmente surpreendente encontrar Louise, depois de tudo que viveu com Will, completamente estagnada na vida. Você termina Como eu era antes de você com a personagem lendo aquela carta de despedida (e de orientação) de Will, com uma Paris como pano de fundo e automaticamente você pensa: Uau, ela vai superar e daqui em diante será feliz para sempre. Depois de tantas lágrimas, isso chega a ser reconfortante.

Mas bem, sinto em dizer que as coisas não se desenvolveram assim e isso dá toda a estrutura de Depois de Você, o que considero uma das poucas sacadas de Jojo Moyes de que eu realmente gostei nesse livro. Afinal, a vida não é nenhum conto de fadas e o que faz a história de Lou ser tão maravilhosa, capaz de cativar milhões em todo mundo, é justamente toda a humanidade e realidade crua que essa personagem carrega. Louise Clark pode ser tudo, menos fantasiosa.

No entanto, conforme eu disse aí em cima, encontramos uma Louisa acomodada na vida. Trabalhando em um emprego de merda, bebendo mais do que deveria, falando com o vento e caindo de prédios alheios. Basicamente fazendo o inverso de tudo o que Will recomendara para que ela fizesse, ainda que por algum tempo, ela tenha tentado.

Eu confesso que fiquei meio irritada (e decepcionada) quando percebi o que eu estava lendo. Mas logo, pelo menos em parte, Jojo Moyes tratou de me convencer. Will deixara marcas profundas em Lou e sua decisão em apoiá-lo em seu suicídio deixou nelas traumas profundos, sentidos depois que ele se fora. A personagem meio que se perde em si mesma, em seu próprio luto, chegando a precisar frequentar um grupo para enlutados, ainda que por pressão dos pais. A moral da história é que Louisa precisa se encontrar em si mesma e não apenas fazer o que Will em seus últimos momentos gostaria que ela fizesse.

Isso seria o que considero como o primeiro ponto da narrativa e até então eu até que estava gostando. Mas eis que surge um segundo momento e uma filha perdida e problemática de Will Traynor aparece na equação. Isso mesmo. Will tinha uma filha, embora desconhecesse esse fato. A partir de então eu comecei a me irritar um pouquinho, porque metade das coisas de repente ficaram absurdamente previsíveis e repetitivas demais, como se a autora não tivesse muito o que escrever e resolveu ficar dando voltas com esse ponto de sua narrativa. Somos tragados para um verdadeiro dramalhão adolescente e ver Louisa adiando sua vida por causa de motivos assim me deixou realmente chateada com ela, embora eu compreendesse o porquê dela agir daquela forma. Mas quando uma oportunidade de emprego dos sonhos é oferecida a ela enquanto tudo que ela fazia parecia ser “tirar o corpo” fora para continuar tocando sua vidinha medíocre, eu quase surtei com ela. Fiquei tão inquieta que precisei olhar as últimas páginas com ameças de abandonar o livro caso ela fizesse o que parecia que faria. Enfim… Parte do meu desconforto com a situação se deu ao fato de eu mesma já ter feito isso várias vezes na minha vida. Ter adiado as coisas. Perdidos oportunidades. Deixado passar. Inventando desculpas para convencer a mim mesma. Por medo, preguiça ou sei lá o quê. Eu li esse livro com 27 anos e hoje com 31, mas uma vez eu vi nessa personagem e isso me assustou, me deu raiva. De mim. Dela. Já nem sei mais.

Num terceiro ponto e se somando aos demais, temos Sam, o boy gostoso e boa pinta que não podia ficar de fora de uma história que se propõe a falar sobre oportunidades e de como seguir em frente depois de uma grande tragédia que abala as estruturas da nossa vida. Evidente que não podia falar essa parte. E tenho que falar que tudo estava indo muito bem pra mim – foi legal ver Louisa com seu jeitinho atrapalhado se apaixonando mais uma vez – pelo menos até chegar nas últimas páginas que invocam aquela região periférica de Londres. A ambulância. Os disparos. Louisa tirando de uma segunda experiencia de quase morte a sua redenção, pelo menos entendendo definitivamente como se sentia em relação a tudo. Achei que não precisava. Foi pouco original. Ficou clichezão.

Lily, a filha desconhecida de Will, até que me cativou um pouco com seu drama pessoal sempre que ele era desnudo de toda aquela rebeldia de adolescente e se coloca no livro como uma espécie de segunda chance para muita gente, inclusive para Louise, afinal a garota é uma parte de Will que ficou.

O final foi tipo novela da Globo sabe. Pessoas reunidas para um final feliz (olha ele aí), momentos engraçados, românticos, declarações piegas, balões soltos ao ar, despedidas no aeroporto, novos shipes etc.

No geral, Depois de Você é um livro comum, que não é totalmente bom, mas proporciona alguns bons momentos de deleite. Grosso modo, é uma espécie de PS eu te amo, mas sem ser PS eu te amo, mas segue a mesma viber. A narrativa de Jojo Moyes continua excelente, a forma como usa esses autentica os personagens, o humor em suas palavras e seu toque de realidade foram o que mais me ajudaram a chegar no final do livro. O que ao fim de tudo me fez perguntar-se se era mesmo necessário construir uma continuação para Como eu era  antes de Você.

 

Mione Le Fay é carioca, formada em Jornalismo. Escritora, professora de informática, apresentadora e produtora de eventos. Apaixonada por livros e fotografias, encontra nesses nessas duas artes uma forma de mostrar tudo o que existe em seu mundo.

One response

  1. Eu gostei do livro, mas sinceramente não achei lógica ter um livro só pra Lou, mesmo que o Will tenha pedido na carta o que pediu a ela! E ainda tô tentando entender o porquê da Jojo fazer um terceiro livro. Ainda não superei não ter Will e Lou juntos para sempre </3

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